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UMA EXIGÊNCIA

08-07-2016 - Maria do Carmo Vieira

Permiti-me que vos diga a verdade: se um dia o fascismo
chegar à América, chegará em nome da liberdade.
Thomas Mann, 1940

De há muito que nos nauseamos com as contínuas regurgitações de certos senhores de Bruxelas e de Berlim, incapazes de digerir um governo de esquerda e a solução alternativa apresentada. Daí as insistentes ameaças de castigo a Portugal, paradoxalmente a pretexto do deficit de 2015 o qual, sublinhe-se, resultou da estratégia de austeridade imposta pela própria União Europeia, bem como da servil obediência no seu cumprimento pelo governo de então que, aliás, mereceu rasgados elogios de Bruxelas e de Berlim. Mais nauseantes são, no entanto, e nas vésperas da decisão europeia relativa à possibilidade de concretizar essa punição, as regurgitações de Pedro Passos Coelho, porquanto português e político, lamentavelmente sem vergonha e sem ética alguma.

No artigo que escreveu, a 4 de Julho p.p., no Diário de Notícias, «2016: o ano da reversão da credibilidade», o ex-primeiro-ministro exclui-se seraficamente da calamidade que, com acólitos seus, desencadeou no seu próprio país, apontando baterias à nova política, contrária ao caminho fundamentalista da austeridade, e quase justificando a necessidade de sanções punitivas pelo novo caminho tomado: «Não espanta […] que as recriminações em torno de eventuais sanções ocupem hoje o essencial das referências no relacionamento entre o governo e as instituições europeias.» A candura com que Passos Coelho se referiu ainda aos bancos (Banif, CGD, Novo Banco) e à calamitosa situação a que chegaram, como se nada tivesse a ver com o assunto, e tudo fosse uma consequência da actuação do actual governo, põe a nu a sua falta de carácter, característica a que já nos habituara nas sucessivas mentiras forjadas, antes e ao longo da sua governação. Na verdade, a perda de direitos sociais que quase diariamente ia anunciando, indo além das directivas europeias, justificava-a em nome do bem-estar futuro dos portugueses, mas simultaneamente possibilitava que alguns engordassem, no presente e ostensivamente, as suas fortunas, enquanto a maioria dos portugueses, massacrada com sucessivas medidas de austeridade e sempre acusada de ter ido além das suas possibilidades, tendo de sofrer por isso o castigo, assistia ao banquete em que freneticamente se acotovelavam inúmeros amigos e clientelas cujas negociatas iam progredindo sob a capa de destacados escritórios de advogados.

Este senhor, ex- primeiro-ministro e defensor da ideologia neo-liberal, que na União Europeia tem tantos adeptos, estrategicamente colocados, é a imagem do potencial ditador, homem habitualmente ressentido e frustrado que expõe a cada momento o rancor e a inveja que o corroem, servindo-se abjectamente dos mais vulneráveis para atingir os seus fins, ou seja, a gradual fascização do quotidiano.

Este senhor, ex-primeiro-ministro, é o novo «menino d’oiro» para alguns «jornalistas» e comentadores que apregoando a sua imparcialidade a desmentem a cada palavra que pronunciam e daí a ausência de seriedade que pauta o seu discurso. O facto de se referirem ao actual governo, e ao apoio trabalhado com o Partido Comunista, o Bloco de Esquerda e «Os Verdes», como «a geringonça» é disso exemplo. Aceita-se em conversa de café, não se aceita num comentário ou numa notícia. É demasiado reles. Estes «jornalistas» e comentadores são o exemplo dos que alimentam o culto do chefe, ou seja, do seu «menino de oiro» que erguem em delírio, babando-se em bajulações e mentindo descaradamente sobre o seu percurso político, sublinhado com «coragem» e «dedicação» ao país quando mais não foi do que resultado de uma conveniente adesão à ideologia neo-liberal, de que não pode deixar de esperar a devida recompensa. A ver vamos! Alguns parceiros foram já recompensados…

A História e a experiência têm-nos ajudado a desmontar o discurso histérico e pseudo-moralista que procura na intoxicação das massas e na ignorância o seu apoio. Os seus mentores sabem esperar pacientemente pelo momento de assalto. O aumento da extrema-direita na Europa, muito devido à política insensata de uma austeridade punitiva preconizada pela União Europeia, demonstra-o. E tal como alertou Thomas Mann, em 1940, também na Europa, cuja democracia tem vindo gradualmente a degradar-se, é invocando a democracia e a liberdade que os políticos, com excepções obviamente, se rendem aos interesses ilegítimos dos grandes grupos económicos e financeiros. Reflectir e intervir contra esta situação é uma exigência!

Maria do Carmo Vieira

 

 

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