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É URGENTE UMA DESEJÁVEL FEDERAÇÃO IBÉRICA

01-07-2016 - Pedro Pereira

Há cerca de sete anos (29.07.2009) o jornal Público noticiava: «quase 4 por cento dos portugueses a favor de uma federação ibérica de Estados», recordando quando José Saramago se referiu (premonitoriamente?) à inevitabilidade de uma federação ibérica entre Portugal e Espanha, a que meio país reagiu escandalizado.

Na verdade, nessa altura de acordo com uma auscultação efetuada pelo Barómetro de Opinião Hispano-Luso da Universidade de Salamanca, 39,9% dos portugueses e 30,3% dos espanhóis defendiam a união federal dos Estados peninsulares.

Salvo os indecisos e os que eram contra, a maior parte dos inquiridos em ambos os lados da fronteira estavam de acordo com a federação.

Na data desta sondagem já a União Europeia se encontrava a braços com a crise económica que se tem vindo a aprofundar até aos dias de hoje sem fim à vista, fazendo estalar o verniz de uma comunidade europeia feita (em muitos aspetos à martelada) à revelia das mais elementares regras democráticas e do respeito devido aos povos dos países aderentes como é o caso de Portugal, onde os cidadãos não foram auscultados para a adesão à então CEE, nem para a moeda única, nem tão pouco para outros tratados e iniciativas que amarraram o país a uma nau que hoje, mercê dos enormes rombos no seu casco ameaça naufragar.

Desde as origens do país, fundado a partir do Condado Portucalense, que a preocupação fundamental dos portugueses foi durante séculos a manutenção da independência do seu território relativamente aos restantes reinos ibéricos, tendo-se verificado após a unificação dos Estados que compõem o reino de Espanha um virar de costas entre os dois países peninsulares, só quebrado após a sua adesão à CEE.

Só a título de curiosidade e recordando o leitor, não obstante Portugal ostentar com orgulho o facto de ser o mais antigo Estado-Nação europeu com fronteiras definidas (há 900 anos), na verdade o país esteve privado da independência durante sessenta anos, no decorrer do domínio Filipino (sécs. XVI/XVII).

Razões históricas profundas ligam mutuamente os povos da Península Ibérica, unidade territorial geográfica com caraterísticas bem distintas do restante território europeu.

Os Estados ibéricos têm sido ao longo dos séculos por razões geoestratégicas, nações de vocação transatlântica. Sempre que descuraram esses seus desígnios ou tomaram a opção de se virarem para a Europa, definharam, regrediram.

Chegados a esta etapa da vida da nação portuguesa e atendendo ao contexto histórico que atravessa, podemos questionar-nos se não seria mais benéfica a adesão a uma comunidade de Estados ibéricos, ao invés da manutenção na UE?

Uma federação de Estados autónomos da Península Ibérica, além de facilitar a preservação da identidade cultural de cada qual, beneficiaria de um maior peso representativo no seio da comunidade internacional, a começar pelos restantes países europeus.

A formação de uma Comunidade Ibérica constituiria a décima primeira economia do Mundo, com um PIB (valores atuais) na ordem de 1,6 mil milhões de dólares.

Por outro lado, é pertinente recordar que Portugal e Espanha somam mais de 60 milhões de habitantes numa área de 597.576 km2.

Além disso, a constituição desta federação permitiria a resolução das questões autonómicas em Espanha (casos do País Basco e da Catalunha), uma vez que todos passariam a estar em plano de igualdade e de respeito mútuos.

A constituir-se uma Comunidade de Estados Ibéricos, esta teria enorme projeção junto dos países de expressão oficial portuguesa, assim como os de expressão oficial espanhola, ou seja, vastos e importantes países de África e do continente americano.

Esta comunidade associada a esses países conduziria a uma permanente e efetiva cooperação económica, social, política e cidadã entre continentes de enorme alcance geoestratégico, atendendo a que a posição geográfica e a relações históricas privilegiadas dos Estados ibéricos com as referidas nações transatlânticas de fala luso-hispânica e até em outras regiões do globo, tornaria a Península Ibérica uma potência decisiva no contexto económico e político internacional.

Quer os cidadãos, quer as empresas beneficiariam de um mercado laboral e de negócios transcontinental alargado, potencialmente mais importante que o atual mercado europeu da UE a que Portugal e Espanha se encontram amarrados, mantendo-se preservadas a identidade sociocultural e a soberania autonómica de cada Estado, independentemente de em cada um deles vigorarem regimes democrático republicanos ou monárquicos.

O Iberismo como projeto de construção de uma federação permitiria a criação de uma comunidade de Estados autónomos (Portugal e os que constituem Espanha). A concretização de tal união levaria a que esses territórios unificados formassem uma das maiores comunidades económicas do Mundo.

Face ao quadro de desagregação eminente da União Europeia, pensamos que esta questão que temos vindo a explanar é de suma importância para o futuro das nações ibéricas.

É evidente que este tema é por demais crucial e por isso urge amplos debates no seio das sociedades peninsulares, atendendo sobretudo que é muito mais o que as une do aquilo que as divide.

Neste sentido, consideramos que se torna premente a discussão aberta face a este contexto histórico decisivo para o nosso futuro e dos nossos vindouros por parte dos partidos políticos, organizações cívicas e outras formas de organizações cidadãs nos Estados ibéricos. Inclusivamente, numa fase imediatamente seguinte, pressionando-se os poderes públicos para organizarem referendos no sentido de permitirem que os povos se pronunciem sobre o seu futuro e o dos seus territórios.

Pedro Pereira

 

 

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