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EVOCAÇÃO DE BRECHT (adaptação livre)

14-02-2014 - Armindo Bento

• Um dia bateram-me à porta e anunciaram-me que o governo tinha decidido cortar-me meio subsidio de Natal. Apesar de inconstitucional, compreendi o sacrifício que o Governo me pedia, em nome da solidariedade social!

• Um tempo depois bateram à porta do meu pai e anunciaram-lhe que iam cortar meia pensão do Natal. Apesar de considerar que era um roubo, ainda admiti, porque o Pais estava em estado de emergência.

• Depois bateram-me à porta e anunciaram que me iam tirar dois meses de salário e dois meses de pensão ao meu pai. Depois da estupefacção sobreveio a resignação.

• A 7 de Setembro, bateram-me à porta para me anunciar que tiravam 7% do salário para dar 5,75% ao patrão e ficavam com os trocos, em principio para os cofres da Segurança Social.Desta vez fiquei indignado. Achei que estava a ser roubado e que estavam a transformar os patrões em receptadores do dinheiro roubado. Em reacção, corri para a rua para protestar.

• Bateram-me mais uma vez à porta e informaram-me de que o ministro das finanças ia reescalonar as taxas de IRS, de modo a torna-lo mais progressivo. Imaginando que iam poupar os rendimentos mais baixos e taxar fortemente os mais altos, pensei que o Governo, finalmente, voltava ao trilho da lei. Mas para surpresa minha, voltaram a bater-me à porta, aumentaram-me o IRS e ainda ameaçarem com aumentos brutais no IMI. A minha indignação transformou-se em ira, contra esta gente que “capturou” o governo e descaradamente rouba os pensionistas, reformados e quem vive do seu salário

• Hoje, dou asas à minha indignação e leio que este governo de Passos/Portas “doou” 485 milhões de euros “aos patrões” faltosos para com as suas responsabilidades fiscais, vulgo dito perdão fiscal.

E NO DIA 25 de ABRIL FAZ PRECISAMENTE 40 ANOS QUE FOI A “REVOLUÇÃO DE ABRIL”?

E na oportunidade poderá interessar recordar um dos motivos porque Brecht é citado em titulo; mas não apenas ele, Maiakovski, poeta russo escreveu, no início do século XX :

Na primeira noite, eles se aproximam
e colhem uma flor de nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite,
já não se escondem,
pisam as flores, matam nosso cão.
E não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles,
entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua,
e, conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada,
já não podemos dizer nada.

Maiakovski (1893-1930)

 

- Depois Bertold Brecht escreveu:

Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.

Bertold Brecht (1898-1956)

 

- Em 1933 Martin Niemöller criou o seguinte poema:

Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu.
Como não sou judeu, não me incomodei.
No dia seguinte, vieram e levaram
meu outro vizinho que era comunista.
Como não sou comunista, não me incomodei.
No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico.
Como não sou católico, não me incomodei.
No quarto dia, vieram e me levaram;
já não havia mais ninguém para reclamar…

Martin Niemöller, (1892-1984)– símbolo da resistência aos nazistas.

- Também Martin Luther King (1929.1968):

O que mais me preocupa não é nem o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem carácter, dos sem ética… o que mais me preocupa é o silêncio dos bons!.

 

 

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