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A síndrome da verga alheia

27-05-2016 - Francisco Pereira

Para além de várias outras características culturais que nos tornam únicos, ou assim gostamos de pensar, existe uma que é fantástica, e marcante tão marcante que transtorna de verdade as relações sociais do país, chamar-lhe-ei «síndrome da verga alheia»!

Nós portugueses adoramos, cobiçar, um dos grandes “leitmotiv” da nossa existência colectiva, a sua recorrência prova-se desde o início da nossa história, cobiçámos sempre algo, invejámos sempre alguém ou alguma coisa, e foi isso que nos foi sucessivamente impelido.

Andamos constantemente a olhar para o tamanho da verga do vizinho, quer num sentido literal, quem nos urinóis públicos nunca deu aquela olhadela matreira à verga do vizinho e depois se pôs a comparar com o tamanho miserável da sua minhoca engelhada e mirrada, maldizendo a sorte e amaldiçoando os deuses. Pois é, isso é a verdadeira «síndrome da verga alheia».

Depois, em sentido figurado, olhamos para o traseiro ou para as mamas da mulher do vizinho e lá estamos nós a cobiçar, esquecendo o quanto o desgraçado seguramente gasta em papel higiénico ou em sutiãs, invejamos as 35 horas, dos outros, o salário daqueloutros, a casa daquele, o carro do outro, a pele sempre jovem daquela, as mamas da outra, e comparamos, e ficamos amargos e sedentos de “justiça”, invejosos, verdes de inveja, uns vingam-se areando e limpando, até à exaustão, cada grão de pó da carripana, como se acariciassem a verga, num exercício de auto satisfação, vulgo a meia desfeita de bacalhau, a síndrome no seu melhor, outros canalizam a sua raiva para a maledicência, essa nobre arte de cortar na casaca por pura inveja, mais uma vez a síndrome a vir ao de cima.

Ao invés de nos atermos naquilo que fazemos e procurar o bem comum, através da decência do profissionalismo e da defesa dos nossos direitos e deveres, não senhor, reparem que após anos e anos de discussão, foi preciso a Ordem dos Médicos propor uma petição para estender a licença de paternidade, é vergonhoso que este país não tenha pais dignos desse nome, ao invés disso, somos antes possuidores de uma cambada de lorpas que precisa sempre que outros lhes façam o trabalhinho.

Os políticos têm sido exímios a explorar em seu favor a «síndrome da verga alheia». Utilizando o velho método herdado dos tempos consulares dos patrícios senatoriais, «divide et impera», os políticos nacionais aproveitando o facto de sermos um povinho invejoso sempre mais preocupado com a verga alheia, promovem essa inveja e alimentam essas divisões para mais facilmente reinarem e manipularem o povaréu carneiro.

É estranho que um povo tão homofóbico, onde tanto se detestam as bichas, tenha como característica, esta coisa «voyeurista» de homossexual recalcado, de estar sempre a olhar para a pila do vizinho, no fundo somos um pais de rabetas recalcados, que adoravam poder vestir lingerie e cintos de ligas e pavonear-se por aí de saia rodada e saltos.

A «síndrome da verga alheia», é uma nossa característica inquestionável e uma das poderosas características culturais, intrínseca a uma memória colectiva que nos faz ancorar em dogmas profundos dos quais dificilmente sairemos enquanto não deixarmos de olhar para a pila do vizinho.

Francisco Pereira

 

 

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