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O ANALFABETISMO NACIONAL

13-05-2016 - Pedro Pereira

Em Portugal, em cada ano que passa vão-se reduzindo os hábitos de leitura, muito embora todos os dias nasçam novos títulos nas prateleiras e nas montras das livrarias, sendo alguns deles de novos autores portugueses.

As razões para os crentes índices de baixos hábitos de leitura, tem por base fundamentalmente os seguintes aspetos:

Falta de disponibilidade por parte dos indivíduos, dada o ritmo de vida cada vez mais stressante por via do trabalho, família e outras atividades.

As pessoas são solicitadas para a assistência a concursos da família Big Brother e outros eventos alienantes (para não dizer, estupificantes) que passam no pequeno écran, para atividades nas redes sociais internautas, para «abanarem o capacete» e outras partes anatómicas nas discotecas, além de outro tipo de actividades lúdicas.

Os indivíduos à mediada que o tempo vem decorrendo, acompanham-no escrevendo pior (exagerando nos erros ortográficos e de forma), leem pior e têm dificuldade em interpretar frases, muito embora sejam capazes de juntar palavras. Experimente-se por exemplo, pôr a ler de surpresa e em voz alta, pessoas «importantes» da política, da economia, dos negócios, autarcas, e até professores.

Na maior parte dos casos, quando tal acontece é verdadeiramente hilariante, surrealista.

Nas duas últimas décadas em Portugal, tem vindo a tornar-se «endémica» a noção de que ser culto é sinal de fraqueza, de pobreza e até, de algum exotismo.

Pelo contrário, ser abrutalhado, grunhir em vez de falar, aparentar ar de entendido e falar pouco para esconder a imbecilidade congénita, não ser dado às coisas do espírito, é sinal de pessoa importante, com um futuro brilhante pela frente.

Já no Regulamento de Disciplina Militar do século XIX (português) se refere num dado artigo que: «Ao nobre não é necessário saber ler e escrever, basta-lhe a sua condição de sangue para ter a patente de oficial».

Na verdade, as pessoas de sucesso em Portugal, são maioritariamente pessoas pouco dadas à leitura e, concomitantemente, imbuídas de baixo nível cultural. Ele é o caso da maior parte dos dirigentes desportivos, de autarcas, de empresários da noite (e muitos de dia), de empresários da construção civil, e outros videirinhos.

Temos assim, que nos tempos que correm o sucesso mede-se pelo volume das contas bancárias (incluindo em offshores), pelas aparições televisivas e em revistas do social, pelas casas com piscina e pelos carros topo de gama que ostentam, entre outros atributos.

Para se ser famoso e acarinhado em Portugal basta aparecer na televisão e discorrer sobre bacoradas, vejam-se as vedetas dos concursos estilo «pig brother» e quejandos, os cantantes que mais arrotam que cantam. Em contrapartida qualquer escritor, poeta, professor ou cientista, é relegado para o sótão das curiosidades e até olhado com comiseração pela maior parte da sociedade, no estilo: «coitadinho, não tem jeito nenhum para enriquecer ou ser famoso. É um pobre de cristo».

Não é por acaso que o jornal mais lido neste país é o Correio da Manhã. Tal acontece porque é profusamente ilustrado e possui pouco texto. Ao contrário, os restantes periódicos porque são compostos por textos mais longos e poucas imagens, registam em média muito menos tiragens.

Da mesma forma, a revista mais lida neste país continua a ser a «Maria» por razões óbvias, seguindo-se as revistas do coração e do jet sete portuga.

Ressalve-se no entanto que não é só a leitura que incomoda a maior parte dos indivíduos, mas também os noticiários televisivos. Estes, apesar de verterem sempre muito «sangue» e mortes em condições sinistras, notícias sobre afamados ladrões, salteadores e corruptos, não atraem mais clientela, antes pelo contrário. Muitas pessoas (mais do que é imaginável) mudam de canal na hora dos telejornais porque não querem ser incomodadas com acontecimentos desagradáveis, sobretudo, assuntos que as obriguem a pensar.

Fundamentalmente, o que a maioria das pessoas não quer, é ter o trabalho de raciocinar, questionar e até, auto questionar-se. Dá muito trabalho e provoca má disposição, quiçá, indigestões.

Como ser ignorante é causa de imponderáveis incómodos em dadas situações, as criaturas relapsas e avessas à leitura e à cultura em geral, aprendem-se truques para disfarçar a estupidez que lhes é inata. Essa fauna encontra-se em profusão na sociedade e as criancinhas nas escolas aprendem cedo estas e outras artimanhas semelhantes com os adultos.

Por outro lado, a escola como transmissora de saberes atualmente é uma aberração. Os programas curriculares e as metodologias de ensino encontram-se desajustados da realidade dos tempos que correm e por consequência, tornam-se penosos de ingerir pelos alunos e difíceis de servir pelos professores, com as consequências que é são do conhecimento público.

Neste cenário, compondo o ramalhete, os governos e os pais das criancinhas impõem ao Ministério da Educação com a conivência dos sindicatos, que os filhos estejam todo o dia ocupados nas escolas desde o romper do dia até que a noite caia bem negra, como se os estabelecimentos de ensino tenham forçosamente de ter funções similares aos infantários. Por conseguinte, aparentemente bem pouco preocupados que os seus rebentos aprendam matérias curriculares ou não, sejam bons ou maus cidadãos, tenham ou não tempo livro para brincarem, serem crianças, enfim….

Assim, os professores cada vez mais são educadores de infância, e as crianças não ganham consciência que o são. Passam por essa etapa das suas vidas como condenados arrastando grilhetas presas aos tornozelos.

A verdade é que cumprem mesmo uma pena bem penosa, que é desde o primeiro ano de escolaridade até que passados anos termine o ciclo de estudos, alombarem com mochilas carregadas de vários quilos de livros como condenados em campos de concentração.

É evidente que, só por este exemplo, não é de admirar que as crianças (futuros adultos) ganhem cedo aversão aos livros.

 

 

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