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Foi a 25 de Abril

22-04-2016 - Francisco Pereira

Foi a 25 de Abril, após cinco anos de ditadura que me libertaram e naquela manhã de Sol, apesar de liberto, sabia lá eu o que era a Ditadura, sabia lá eu o que era Liberdade. Recordo que a matina estava ensolarada, ou poderia não estar, a névoa do tempo cobre e tolda a memória, afinal quatro décadas passaram, mas recordo o choro da vizinha, que lhe estava um filho em África, nesse nosso coração das trevas onde desaguavam rios de rapazes e algumas raparigas mal saídos da puberdade, para ir matar e morrer ao serviço da pátria de uns poucos, que não a deles, escravos pretos contra escravos brancos.

Foi a 25 de Abril já em liberdade dez anos passados, que comecei a ouvir e a registar as estórias da Ditadura. Os mandos e desmandos o porque sim e o porque não, os bufos e as bufas, tal como hoje, volta Salazar, morra Salazar! Foi a 25 de Abril, passavam já vinte anos que comecei a perceber a ditadura, a entender os seus preceitos e desvios, e a potencial oportunidade que era a Democracia, para prosseguir a Ditadura.

Fiz o que me disseram, afinal eu era um filho de Abril, um filho da Guerra Colonial do Ultramar, um filho da Liberdade, estuda e serás, trabalha e faz! Porque me sentia eu órfão? Fiz o que me disseram, trabalhei e estudei. Porque me sentia eu órfão? Vinha aí a Europa agora que éramos democráticos e livres, Europeus como os outros, o futuro era o mais risonho, rios de leite e de mel. Foi a 25 de Abril, trinta anos haviam entretanto passado, finalmente percebi que estava irremediavelmente agrilhoado e órfão da Liberdade e da Democracia.

Hoje, quatro décadas mais dois anos passados, já entendo a Ditadura e a Democracia, conceitos aparentemente antagónicos que não o são. Na verdade a Ditadura é praticamente o mesmo que a Democracia, digamos que a Democracia é a Ditadura conseguida por outros meios. Só em Democracia se percebe verdadeiramente o que é a Ditadura, é o medo, porque enquanto a Ditadura não finge, a Democracia finge, mas o medo está lá!

O medo que nos reduz e apouca, o medo de falar, de escrever, de denunciar a injustiça, a roubalheira e a vigarice, o medo de não ter trabalho de viver à míngua, como tantos sobrevivem, o medo de definhar lentamente, triste vencido da vida como outros muito antes de mim, o medo da ditadura das minorias disto e daquilo, dos parasitas, o políticamente correcto opressor, enfim o medo!

Sou derrotista, se calhar sou! Sou pessimista, se calhar sou! Fizeram-me assim, ou antes eu permiti tornar-me assim, um esquiço, uma pobre caricatura de mim, deixei que me espezinhassem, deixei que o medo me acorrentasse. A quem aproveitou o 25 de Abril, sei lá, aos mesmos de sempre, às elites mafiosas, aos podres ocultos, aos aventaleiros e demais súcias mafiosas. Aos pobres como eu, o 25 de Abril diz cada vez menos, aliás a alguns como eu, não diz mesmo nada!

Porque somos cada vez menos livres, na verdade estamos reféns e somos escravos de modas, de interesses, disto e daquilo e mais daqueloutro, a Liberdade parece ser só para uns. Porém aqui, dentro da minha cabeça sou livre, e nenhum dos seres asquerosos e opressores me pode chegar, porque aqui não vos deixo chegar, cá dentro estão verdadeiramente a Liberdade e a Democracia. Foi a 25 de Abril que nos perdemos de nós, viva o 25 de Abril, no qual já não acredito!

Francisco Pereira

 

 

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