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“25 de Abril – SEMPRE”… Mas só para alguns…

22-04-2016 - Eduardo Costa

Sendo um oficial superior de Cavalaria na reforma, fui há 1 ano convidado para efectuar em Santarém uma palestra sobre o 25 de Abril. No local constatei que o palestrante era o único sem cravo na lapela. Tendo sido sugestionado a colocar um cravo, naturalmente me neguei, por razões óbvias de coerência e porque essa minha palestra também seria elucidativa da razão. Ultrapassado o incidente, no final da palestra ouviu-se uma estrondosa ovação.

Fui agora convidado para efectuar um texto alusivo ao 25 de Abril e com todo o gosto o estou a fazer, mas de novo sem cravo na lapela.

Importa começar por referenciar que o 25 de Abril, apesar daqueles que o têm pretendido denegrir ou mesmo destruir, por acção ou omissão, está vivo e viverá sempre no meu coração, porque ele foi o amanhecer e o regresso inevitável ao pensamento livre e criador, apesar de apenas ser relembrado hipócrita e ciclicamente por esta altura.

Foi o sentir tão bem expresso na beleza das palavras de Sofia de Melo Breyner, ao afirmar "… esta é a madrugada que eu esperava, o dia inicial e limpo onde emergimos da noite e do silê ncio e livres habitamos a substâ ncia do tempo ".

É assim uma pena a hipocrisia de muitos, ao festejarem “Abril” como reencontro de Portugal com a liberdade e a paz, com a esperança e a dignidade, por esta altura, quando o atraiçoam na sua conduta política diária, quer a nível nacional quer autárquico.

Vivemos hoje, uma luta inglória porque desigual, na defesa de uma sociedade regida pelos valores da solidariedade, da justiça e do respeito por todos, contra os defensores da ideologia da lei da selva e do mais forte, contra os defensores da arbitrariedade e do compadrio, da injustiça e da prepotência, e contra os defensores da lei do mais forte e do vale tudo.

Sendo um militar da geração pós-Abril, tal como os militares de Abril, sabemos bem de que lado estamos, ao lado de quem queremos estar e de que lado vamos continuar!

Defendemos hoje os mesmos valores do 25 de Abril, da liberdade e da dignidade. Defendemos o ideal de dignidade humana, como o centro e a medida de todas as coisas e para o qual tudo deve convergir, desde progresso da ciência, da tecnologia, das artes e da cultura, até à justiça social e económica.

Por isso, o futuro das novas gerações e o respeito pelos mais velhos deveria merecer particular melhor atenção. Nessa medida é necessário romper-se com a política de devastação social e económica e de confronto, que se verifica entre gerações e entre estratos sociais, em que todos acabam por ficar mais diminuídos e mais desiguais, num quadro triste de desalento, sustentado numa crise profunda, suportada e sofrida pelos mais necessitados.

Uma crise social que objectivamente afecta mais de 600 mil crianças e jovens, em risco de fome, pobreza e exclusão social e ultrapassa o meio milhão de desempregados reais, já nem falando de igual número de emigrantes recentes; uma crise com elevada precariedade de trabalho – a nova forma de escravatura do sec. XXI - estando a pobreza, por mais incrível que pareça, a rondar já os que ainda se dão ao “luxo” de ter emprego.

Falar do 25 de Abril é falar do direito negado à vida, à dignidade, à liberdade e aos direitos civis, políticos e sociais. É a esperança de viver no país com dignidade, com esperança para os filhos, em harmonia, com direito ao bem-estar, à paz e à prosperidade.

No contexto internacional há hoje ameaças crescentes com cenários da maior intensidade e da maior complexidade. Falo do terrorismo, do ciberterrorismo e da cibercriminalidade, da barbárie terrorista, do narcotráfico e do tráfego de armas e de carne, materializados em sucessivos e dramáticos naufrágios de refugiados no Mediterrâneo, consequência do criminoso tráfico de seres humanos e das razões que efectivamente estão por detrás e lhes dã o origem,e que hipocritamente o Ocidente finge que combate. Falo também de uma Europa livre, sem discriminação entre países ricos e pobres, os do Norte e os do Sul, com respeito pela história; uma Europa segura e solidária, igual para todos e que nos deveria permitir o acesso ao desenvolvimento e ao bem-estar, mas não permite.

Sem complexos de nacionalismos radicais, importa voltar a falar-se de Identidade Nacional e de P átria, de Segurança e de Soberania e voltar-se a ter orgulho em nós, para valorizar o que de melhor temos e somos capazes, desde a fundação da nacionalidade em 1143.

Como em Abril, as Forças Armadas sabem bem, quanto custa cumprir, mesmo quando são maltratadas e desvalorizadas, até pelo Ministro da Defesa, seja na sua condição militar, que lhes nega direitos essenciais, seja ainda pela falta de recursos para a defesa do País, perante ameaças cada vez maiores. São a reserva moral e última da Nação, apenas comprometidas com a Constituição da República, com a Nação e com a fidelidade ao Povo que juraram defender, que jamais com a corja política que nos vem (des)governando e se vem governando. Defendem-no e cumprem missões únicas de interesse público, seja na fiscalização da Zona Económica Exclusiva, no controlo das rotas do narcotráfico, nas acções de patrulhamento, busca e salvamento em alto mar, na cooperação civil militar perante a calamidade e a catástrofe, entre outras, para além das inúmeras missões de apoio à paz e de ajuda humanitária da maior importância e significado, mesmo além fronteiras.

O combate à actual crise exige sermos capazes de, com um esforço coletivo e devidamente organizado, darresposta à corrupção, aos escândalos financeiros, à permanente destruição do Aparelho de Estado e às arbitrárias privatizações danosas do sector público, bem à revelia dos interesses nacionais. O combate à actual crise passa igualmente por não podermos aceitar a indignidade que se concretiza nas actuais formas de pobreza e miséria e que se repercutem da forma mais injusta e cruel, sobretudo nas crianças e nos milhares de homens e mulheres que no desemprego se tornam cada vez mais indefesos e humilhados, enquanto a corja política nacional ou local, se vai materialmente valorizando, com injustificados sinais exteriores de riqueza, que continuam penalmente impunes.

Merecemos melhor justi ç a, como merecemos as pessoas mais qualificadas e mais motivadas para o desempenho dos altos cargos e funções públicas, em vez de meros tachista que venderam a alma ao diabo ou a um partido; merecemos ainda uma escola moderna e actuante com professores dignificados, respeitados e não agredidos, e com alunos motivados disciplinados, ambiciosos e responsáveis, de forma a se combater mais decisivamente o desemprego jovem e se obter espaço a esses jovens para aproveitamento das suas qualificações no seu próprio País.

A concluir quero dizer que importa resgatar e promover a cidadania activa, para que possamos intervir nas decisões que nos dizem respeito defendendo os valores de Abril e porque não estamos sós, comungar com quantos na Europa e no Mundo têm problemas semelhantes e que só pela unidade se poderá recuperar a força que, baseada na razão, nos conduzirá a uma sociedade mais justa e mais livre.

Ainda que pretendesse terminar com a palavra ESPERANÇ A , apenas direi que, por tudo isto, continuo ainda sem colocar um cravo na lapela….

Eduardo Costa

 

 

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