São cartazes senhor!

04-03-2016 - Francisco Pereira

“ab uno disce omnes” diziam os antigos patrícios dessa Roma imperial, que por mor de muitas causas, incluindo a podridão dos seus cidadãos, caiu aos pés das hordas bárbaras, parece-se muito com o actual estado desta coisa chamada União Europeia.

Serve o intróito para seguirmos de rompante para o nosso tema de hoje, a saber, o povinho hipócrita que somos, e que por um se conhecem todos. E a semana que passou foi fecunda em casos desses, demonstrativos da sociedade hipócrita e bafienta que somos, de povinho cada vez mais reles e boçal, qualidades de que até fazemos alarde.

Passemos aos casos práticos. As velhinhas regateiras até se benzem, cada vez que sabem que o filho ou a filha da vizinha lá do bairro revela tendências, menos próprias, no dizer das venerandas matronas e dos “machos” lá do burgo, logo aparecem os epítetos comuns de “rabeta”, “sapatão e por aí adiante, em suma detestam homossexuais.

No entanto estão horas agarradas, elas e eles, à televisão onde pontuam as estrelas “bichas” dos horários nobres, homossexuais assumidos ou não que preenchem o mundo do entretenimento.

A bastonária da ordem dos enfermeiros em declarações proferidas num programa de rádio, declarou e cito “Vivi situações pessoalmente, não preciso de ir buscar outros exemplos. Vi casos em que médicos sugeriram administrar insulina àqueles doentes para lhes provocar um coma insulínico. Não estou a chocar ninguém porque quem trabalha no SNS sabe que estas coisas acontecem por debaixo do pano, por isso vamos falar abertamente”.

Num repente as comadres calhandreiras, caíram cima da senhora, e lá veio o chorrilho costumeiro de investigações deste e daquele órgão, naquilo que podemos apelidar de orgia de hipocrisia.

Por último, o Bloco de Esquerda achou por bem, publicar um cartaz onde diz uma verdade bíblica, Jesus, para quem acredita, teve efectivamente dois pais. A coisa foi, a meu ver, uma provocação gratuita, oca e sem sentido, ainda que legitima dentro do quadro de país laico e amigo da liberdade de expressão, que parece que ainda somos.

Claro que à bojarda do esquerdalho trauliteiro, respondeu logo a direita ultramontana e sacrista, com os normais e hipócritas argumentos da fé e das ofensas a isto e aquiloutro.

Com estes três casos, aprendemos que somos um país profundamente hipócrita. Em relação ao cartaz, há um ano eram todos “Charlies”, e os mauzões dos islâmicos, inimigos da liberdade de expressão deviam desaparecer, mas basta um cartaz, por cretino que é, para percebermos que os islamitas estão aqui bem perto, somos realmente o annus mundi!

Francisco Pereira

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