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Notícias e Opinião do Concelho de Almeirim de Portugal e do Mundo
 

II – A LAVAGEM AO CÉREBRO
Das Práticas Correntes

26-02-2016 - Pedro Pereira

Assim, como exemplos, para melhor ilustração do leitor passamos em seguida a descrever oito dos principais instrumentos de controlo mental usados por seitas religiosas e suas congéneres:

1 - O Controlo Ambiental dos crentes

Quer as seitas quer os cultos afins conseguem dominar o ambiente em que vivem os seus dependentes das mais diversas formas, porém, quase sempre utilizando meios de controlo dos indivíduos.

Por tal facto, isolam fisicamente os seus adeptos da sociedade, os quais são regularmente ameaçados com os mais variados castigos caso entrem em contacto com informações provenientes do mundo exterior, sobretudo quando as mesmas podem potencialmente originar a formação de pensamentos críticos.

Livros, filmes testemunhos de ex-membros, bem assim como informações de carácter crítico à seita, ao grupo, ou ao bando, devem ser evitados.

Toda a informação que os seus membros digerem é proveniente de uma única fonte: a seita ou afim. É evidente que essa informação é rigorosamente selecionada e controlada de forma a promover a formatação mental para que aos dependentes lhes aparente que a organização é a detentora exclusiva de todo o saber.

2 –A Manipulação Mística

Nas seitas religiosas Deus está sempre presente. Se por razão de um motivo qualquer um membro da seita se afasta, cada doença ou infortúnio que lhe aconteça será atribuído como um castigo divino, e é providenciada a circulação de histórias de como Deus realmente está a fazer acontecer coisas maravilhosas aos fiéis, pois eles é que são os detentores da "verdade". A organização faz-se revestir de uma aura "mística", de forma que a seita seja realmente sedutora para os novatos.

3 - A Necessidade da Pureza

O mundo aparenta-se pintado a preto e branco, com pouco espaço para os indivíduos tomarem decisões pessoais baseadas na consciência individual. A conduta do indivíduo é modelada de acordo com a ideologia do grupo, como ensinado na sua literatura. As pessoas e as organizações são divididas entre boas ou malvadas, de acordo com o relacionamento delas com o grupo.
Para controlar o adepto, todas as seitas inculcam-lhe nas suas práticas quotidianas o senso de culpa e de vergonha, para que as mesmas perdurem dentro das suas mentes caso abandonem o grupo. Tudo é polarizado, extremado e híper exemplificado. Todos os aspetos da vida classificados como malvados devem ser evitados, e a pureza só é passível de ser alcançada mediante a absoluta aceitação da ideologia da/e vertida pela seita.

4 - A Confissão

As culpas graves (de acordo com a ideologia do grupo) devem ser confessadas logo após cometidas. Se a conduta do membro for contrária às regras da seita, a mesma deve ser relatada circunstanciada e detalhadamente aos superiores. Com frequência o adepto encontra «vontade» para ganhar «prazer» através da confissão. Isso acontece quando é um dever confessar regularmente os próprios pecados frente aos outros membros, criando com isto um forte senso de identidade com o grupo, o que permite aos líderes exercerem indiscutivelmente a sua autoridade diretamente sobre os mais fracos de entre os adeptos, usando as «culpas» como chicote.

5 – A Ideologia

A moral da seita entronca na sua ideologia. Torna-se na verdade absoluta e definitiva na qual assenta e «é regulada a existência humana». A ideologia da seita faz afirmações exageradas acerca da perfeição da sua lógica, apresentando-a como uma verdade absoluta e perfeita (o dogma). Um sistema que se apresenta atraente nestes moldes oferece segurança e é demasiado «sagrado» para que alguém a possa discutir, pelo que os membros devem respeito absoluto e inquestionável aos seus líderes.

6-Linguagem Carregada/Redefinida

A seita usa (e abusa) do uso da técnica «bloqueio-pensamento», ou seja: frases ou palavras concebidas para bloquear uma conversa ou uma discussão. Como exemplos: as palavras «capitalista» ou «imperialista» usadas pelos pacifistas na década 60 do século XX. Estes clichés são de fácil assimilação, pelo que são usados frequentemente. São denominadas de «linguagem do não-pensamento», porque terminam a conversa sem haver possibilidade de haver outras considerações em torno do tema abordado.

7 - A doutrina é mais importante do que o indivíduo

Um membro do grupo é valorizado na medida em que se conforma às regras da seita. Quaisquer perceções da lógica que estejam em desacordo com a ideologia são desprezadas. Desta forma, a história da seita é moldada para adaptá-la a lógica doutrinária.

8 – A Dispensa da Existência

A seita estabelece quem «merece» existir e quem não tem esse direito, assim com estabelece quem deve morrer na luta final entre o bem e o mal. Todos os membros da família do adepto, bem assim como aqueles que não pertencem ao grupo podem ser enganados (sem que constitua pecado) uma vez que não merecem existir.

Cenário habitualmente em uso nas sessões :

Enquanto as pessoas vão tomando lugar nos seus assentos para o início da cerimónia, é tocada música de fundo repetitiva acompanhada por batidas rítmicas que oscilam entre as 45 e as 72 por minuto (um ritmo aproximado ao das batidas do coração humano), que exercem carácter hipnótico e são potenciais geradoras de estados alterados de consciência numa elevada percentagem de indivíduos, mesmo que estes mantenham os olhos abertos.

Uma vez que as ondas cerebrais alfa sejam predominantes, o indivíduo torna-se no mínimo 25 vezes mais sugestionável do que no estado beta de consciência. Quanto à banda sonora musical, embora sendo a mesma para todos os eventos realizados pela seita, possuindo normalmente a mesma batida, induz nos adeptos presentes quase imediatamente um estado mental alterado. Inconscientemente, o cérebro relembra-se da sua última experiência similar e o seu cérebro responde entrando em transe automaticamente.

Quem de fora estiver atento, observe as pessoas aguardando o início da cerimónia. Aos poucos irá reparar que muitas delas começam a exibir sinais externos de transe hipnótico: corpos relaxados e olhos levemente dilatados. Normalmente, enquanto estão sentadas nos seus lugares, começam a balançar as suas mãos no ar para a frente e para trás (ou para os lados). Dando início ao evento, o oficiante (pastor) abre as suas intervenções/prédicas como uma técnica de «voz cadenciada», bem treinada e modulada.

Após induzido nos adeptos um estado alterado de consciência, passa-se à fase seguinte, a que tem como objetivo gerar excitação e expectativa na audiência.

No decorrer da prédica do oficiante, pelo meio dos adeptos surge sempre uma (ou mais) criatura (normalmente mulher) que inopinadamente é «acometida por um espírito» e cai no chão a estrebuchar ou a reagir como se estivesse a ser possuída por uma entidade a que o pastor se apresta a reclamar ser o «Espírito Santo, aleluia! aleluia!».

Tal evento (a que chamam o «milagre») é bastante eficiente em termos de aumentar a tensão no ambiente. Nessa situação, táticas de conversão e hipnose são misturadas. Como resultado, a audiência fica totalmente absorta. Neste cenário o ambiente torna-se gradualmente mais tenso e é nesta altura, quando o estado mental alfa é atingido que se dá a passagem da «cesta da coleta» diante dos narizes dos expectadores e estes se despojam alegremente do dinheiro que têm nos bolsos.

Na maioria destas sessões, a dada altura sobem ao palco pessoas ao «acaso», em que uma (ou várias) delas em êxtase bota faladura afirmando ter sido recentemente «testemunha ocular de um milagre», enquanto em seguida uma outra afirma que, «em tempos eu era coxa e agora depois de vir a uma destas sessões passei a andar», e por aí fora. O pastor coloca-lhes a mão na cabeça e rejubila em altos berros: - Aleluia! Aleluia!...

Face ao testemunho das «curas milagrosas», os restantes adeptos, portadores de problemas de saúde, ficam convencidos de que se podem curar por via dos «milagres» produzidos no seio da seita. Após as intervenções «espontâneas» brota da boca do oficiante um sermão que é fundamentalmente baseado no medo que as criaturas devem ter em relação à «divindade».

O ambiente em que decorre a sessão fica carregado de medo, de culpa, de tensão, de excitação, de esperança.

Como Identificar a Vítima de Lavagem Cerebral (alguns sinais)

Em conversas com a pessoa, tente perceber no seu raciocínio e forma de se expressar, uma mistura de fanatismo e de dependência. As vítimas de lavagem cerebral aparentam estar permanentemente concentradas no seu grupo ou líder ao ponto de estarem obcecadas pelos mesmos. Em simultâneo, aparentam ser incapazes de resolver problemas sem a ajuda do seu grupo, ou líder.

Procure por uma pessoa que diga apenas «sim». As vítimas de lavagem cerebral concordarão sem questionar qualquer coisa que o seu grupo ou líder afirme, sem pensar na dificuldade de seguir o que ele disse, ou nas consequências da sua realização.

Procure por sinais comuns a alguém que foge de encarar a vida real. As vítimas de lavagem cerebral costumam ser apáticas, fechadas em si mesmas e sem qualquer traço da personalidade que as distingam do que eram antes da lavagem cerebral. Este dado é particularmente notável tanto em vítimas de seitas e outras, como em parceiros numa relação conjugal abusiva.

Algumas vítimas podem interiorizar a sua raiva, causando depressão que resulta em transtornos físicos, em última análise, com tendências para o suicídio. Outras podem projetar a sua raiva em quem elas acham que são a causa dos seus problemas, muitas vezes através de confrontos físicos ou verbais.

Pedro Pereira

(continua no próximo número - este artigo é composto por três capítulos, sendo este o segundo de três)

 

 

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