I - A LAVAGEM AO CÉREBRO Das Práticas Correntes
19-02-2016 - Pedro Pereira
No decorrer da Guerra da Coreia, na década de 50 do século XX. Coreanos e chineses faziam lavagem cerebral aos prisioneiros de guerra americanos que mantinham detidos nos campos de concentração. Nesse meio tempo, largas dezenas deles manifestaram alterações radicais no seu comportamento e pelo menos mais de vinte recusaram-se a voltar para os Estados Unidos após terem sido libertados. Tais alterações comportamentais ficaram a dever-se áquilo que veio a chamar-se, método de «lavagem cerebral».
O método de lavagem cerebral tem como objetivo fundamental produzir mudanças no comportamento das pessoas, independentemente das suas crenças religiosas, políticas ou outras.
Trata-se de um método agressivo de alteração comportamental que combina as mais diversas abordagens de molde a causar mudanças no modo de pensar e de agir de um indivíduo, atuando ao nível do seu inconsciente.
Esta forma invasiva de influência requer o completo isolamento a influências exteriores e dependência do indivíduo à organização (uma seita, um campo de detenção, etc.)
O agente (ou agentes) executores da lavagem ao cérebro devem exercer completo controle sobre o individuo/alvo, para que os padrões do dormir, comer, usar os sanitários e outras necessidades básicas do ser humano dependam exclusivamente da vontade do agente.
A antiga identidade (a verdadeira personalidade) das vítimas da lavagem cerebral, na verdade não é erradicada pelo processo, mas «escondida». Assim, nos casos em que a «nova identidade» para de ser forçada, a personalidade inerente à pessoa é normalmente retomada.
Técnicas agressivas de persuasão e lavagem cerebral são frequentemente utilizadas por seitas religiosas como forma de domínio por parte dos seus seguidores, mas também por empresas como forma de treinar o potencial humano dos seus profissionais, em reuniões de negócios, no seio de partidos políticos fundamentalistas e, inclusivamente, em forças especiais militar e policiais dos mais diversos países do mundo.
Cientificamente a questão da «lavagem ao cérebro» remete-nos originalmente para o cientista russo Pavlov. Nos alvores do século XX, os seus estudos na área comportamental com animais abriram a porta para a investigação em seres humanos.
Após a Revolução Soviética, Lenine entendeu claramente as potenciais aplicações da pesquisa na área dos reflexos comportamentais condicionados de Pavlov. «Três estados distintos e progressivos de inibição transmarginal foram identificados por Pavlov. O primeiro é a fase equivalente, em que o cérebro dá idêntica resposta a estímulos fortes ou fracos. O segundo é a fase paradoxal, nela o cérebro responde mais intensamente aos estímulos fortes que aos fracos. O terceiro é a fase ultraparadoxal, onde padrões de respostas e comportamentos condicionados invertem-se de positivo para negativo ou vice-versa. Progressivamente, através de cada fase, o grau de conversão torna-se maior». Os meios para alcançá-lo são muitos e extremamente variados, mas o primeiro passo a ser dado, tanto para a lavagem cerebral religiosa quanto política ou outra, é enfocar e trabalhar as emoções do indivíduo ou grupo tendo como fim a indução de níveis anormais de raiva, medo, excitação ou tensão, conducentes ao impedimento da clareza e do discernimento, de forma a aumentar os níveis de sugestionabilidade do indivíduo.
Quanto maior esse estado for mantido ou intensificado, mais crescem os seus efeitos. Uma vez atingida a catarse, ou «primeira fase mental», a manipulação torna-se mais fácil, de molde a que as programações mentais preexistentes possam ser substituídas por novos padrões de comportamento e de pensamento.
Assim, desde os anos sessenta do século XX, que o termo «lavagem cerebral» surge frequentemente associado a casos concretos, em particular no que se refere ao que escapa para a luz do dia, sobretudo no que reporta às seitas e outras organizações correlativas. Muito embora as técnicas de lavagem cerebral sejam bem antigas, de todos os tempos.
A lavagem cerebral só funciona quando o manipulador se encontra numa posição superior em relação à vítima. Tal significa que a mesma tem de estar num estado de completo abatimento emocional, para que o manipulador possa «reconstruir» a vítima como melhor deseje. Tal pode ser realizado através de meios psíquicos, emocionais, ou em última instância associados ao corpo, durante o tempo suficiente para esgotar física e mentalmente o alvo.
É evidente que as pessoas mais facilmente apanhadas na rede para a lavagem cerebral normalmente são as mais fracas e vulneráveis.
Nem todas as pessoas reúnem as características propícias ao controlo mental, não obstante muitas delas são suscetíveis a tal situação em dados momentos das suas vidas, como aquelas que perderam os seus empregos e temem pelo seu futuro; recém-divorciados, em particular quando os divórcios são conturbados; Pessoas em sofrimentos por doenças prolongadas; pessoas que perderam um ente querido; pessoas jovens longe de casa pela primeira vez, etc..
As pessoas com algumas (ou alguma) destas características são o alvo preferido dos predadores das seitas ditas religiosas.
Uma das táticas predatórias é descobrir informações suficientes sobre a pessoa e o seu sistema de crenças para explicar a tragédia que a pessoa está a viver de forma a ser consistente com o sistema de crenças da seita.
As torturas mentais podem começar por inculcar mentiras à vítima e depois passar a envergonhá-la ou intimidá-la estando esta presente em grupo. Esta forma de tortura pode ser feita com palavras, ou gestos, indo desde expressões de desprezo, até à invasão do espaço pessoal da vítima.
Existem duas formas de deixar o indivíduo estressado, frágil, cansado e por conseguinte mais aberto a novas ideias. A primeira é a lavagem cerebral forçada, que é alcançada através da tortura, privação de sono e jejum. O segundo método, o mais usual, é o induzido, em que a vítima é envolvida em métodos de intrusão da sua personalidade, da sua vida íntima.
Pessoas que se dizem manipuladas por igrejas e seitas religiosas descrevem um programa intenso de atividades, palestras, celebrações e tarefas como distribuir panfletos, limpar o chão, fazer comida, etc..
Imersa nessa rotina, que geralmente prevê poucas horas de sono, a vítima fica tão cansada que literalmente não tem tempo para refletir sobre o que lhe está a acontecer.
Pedro Pereira
(continua no próximo número- este artigo é composto por três capítulos, sendo este o primeiro de três)
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