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Companhia não desejada.

05-02-2016 - Henrique Pratas

Recordo-me de há uns anos atrás, quando a minha mais velha era pequena de fazer uma experiência que irei partilhar convosco.

Como era pequena e eu sempre gostei de me levantar cedo ia à abertura da praça para comprar os produtos alimentares maios frescos possíveis.

Num belo dia lembrei-me de levar muitas moedas e assim que iniciei o meu périplo pelas diferentes bancadas de venda, quando comprava alguma coisa deixava cair uma moeda. Logo da primeira vez houve um cavalheiro que se baixou e apanhou a moeda mas não me a devolveu, para o experimentar dirigi-me para a banca do peixe e ele sempre atrás de mim, assim que acabei de comprar o peixe paguei e deixei cair nova moeda, a “companhia” que tinha arranjado para aquele dia reagiu de imediato pegou na moeda e meteu-a ao bolso, como esta cena me estava divertir que nem um preto continuei e pude verificar como as pessoas são “fiéis” quando se dá umas migalhinhas. Dei mais umas voltas para me dar um gozo acrescido e para ver até onde a subserviência se estendia, sempre largando moedas em sítios estratégicos e a minha “sombra” não perdia uma, foi um fiel depositário das moedas que fui deixando pelo mercado e tive como que uma espécie de “guarda-costas” que me acompanhou por tudo quanto era sítio. Convém deixar aqui claro que ele era uma pessoa bem vestida de uma respeitável idade e não demonstrava padecer de qualquer doença.

Cheguei ao final desta diversão depois de ter passado pelo talho, voltei a deixar cair uma moeda e rapidamente “a sombra” se agachou para a apanhar, como estava de saída voltei-me para ele deseje-lhe um bom dia e perguntei-lhe se a manhã tinha corrido bem, vermelho que nem um pimentão nem sequer me respondeu e eu ri-me à gargalhada, pela triste figura que as pessoas são capazes de fazer por dinheiro.

Transportando este exemplo prático para a nossa realidade em que vivemos não entramos grandes diferenças, encontramos muita gente que se “vende” por migalhas que os outros vão deixando cair e lá estão eles com o seu ar subserviente para poder lançar a mão àquilo que escorrega das mãos de outros.

Este País é constituído por pessoas assim, também uma vez, á saída do metro perto de casa dos meus pais também se aproxima de mim uma pessoa com um maço que parecia ser de notas e me pediu para as guardar a troco do meu relógio porque lhe tinha parecido que aquele maço de notas tinha caído da algibeira de uma pessoa que tinha acabado de receber o vencimento, pelo menos foi o que me disse e que queria ir atrás dele para lhe devolver o dinheiro, eu como nunca fui de ficar com nada que não me pertencesse disse-lhe de imediato que esperasse ali por mim que eu iria chamar o senhor que me indicara que tinha deixado cair o maço de notas e que lho devolveríamos na totalidade, contrariamente ao que me tinha proposto de ficarmos com metade do “bolo”, assim que comecei a correr apanhei o suposto proprietário do dinheiro, que de imediato me disse que não era dele, vi logo que havia tramoia, mas como sempre gostei de coisas claras, voltei atrás e pedi que me mostrasse o maço de notas, ele de facto tinha duas ou três notas de cem escudos mas o resto do maço era composto por folhas de papel. Olhei para ele como os olhos bem abertos e o homem desapareceu num ápice, recordo aqui que na altura teria 17 anos e era muito bem capaz de lhe pregar um murro, mas ele não esperou por ele, tudo isto par vos dizer que nunca gostei de ficar com alguma coisa que não me pertencesse por direito próprio e tomara eu que a generalidade das pessoas fossem assim, que não participassem em esquemas, em aldrabices, ou atos pouco dignos a nossa sociedade era certamente melhor, foi este os ensinamentos que recebi de meus avós, pais e de muita outras pessoas que tive o privilégio de conhecer e como esta foram de estar e de ser estão nos meus genes nunca quis nem quero comprar galinha gorda por pouco dinheiro. O que tenho, tenho, por direito próprio não me subjugo a nada, nem me ponho a jeito para receber qualquer esmola.

Antes de terminar o meu texto gostaria de lhes contar outro episódio que ainda hoje podem observar pelo menos aqui em Lisboa isso acontece e deverá acontecer noutros locais do País, quando se deparem com alguém que se diz ser cego e que esteja a pedir que lhe atirem uma moeda para um boné ou parta uma boina experimentem atirar a moeda par fora do alcance dele e vão ver que num ápice eles arrastam o braço que fica mais perto da moeda e a apanham rapidamente fiz isto aqui em Lisboa, nos Restauradores e a velocidade com que o suposto cego se deslocou para apanhar a moeda que lhe tinha sido atirado para mim par bem longe do sitio onde pretendia foi vertiginosa, obviamente que ele se apercebeu que eu o experimentei, mas voltando à sociedade em que vivemos encontramos muito esta situação aqueles chicos-espertos que vivem de habilidades e de tramas, fujo disso como o diabo da cruz, mas não deixo de reparar que esta maldita sociedade está empestada de gentalha como esta e aqui não há distinção nem de classes, nem de nada, este mal está generalizado e entranhado na nossa sociedade, o esquema, o facilitismo, a cunha, o compadrio e o conluio estão de tal maneira arreigados na nossa sociedade que eu não sei o dia em que nos libertemos disso.

Henrique Pratas

 

 

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