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Será uma questão de Educação?

22-01-2016 - Francisco Pereira

A história conta-se rápido e de forma simples. Ali ia eu, passando entre os bagos de água que as procelas negras deitavam à terra, qual traineira desvairada, soavam as horas prandiais e o malvado rato escaqueirava-me as entranhas, passeio fora lá fui indo, remoendo aqueles pensamentos diários, vocês sabem, ter de ir ali ou acolá, fazer aquilo e mais aqueloutro, absorto!

O dia estava horrível, um frio de congelar, e para ajudar a porcaria da chuva, daquela a que chamamos “molha parvos”, que nos ensopa lenta mas inexoravelmente até aos ossos, pelo menos aos “parvos” que tal como eu se esquecem do benéfico guarda-chuva e enfrentam a vaga de cocuruto ao léu enfrentando o liquido inimigo sem temor de ficar com a careca ensopada.

Mesmo à minha frente uma senhora idosa, viajava em sentido inverso ao meu, caminhava com passinhos curtos, tropegamente, auxiliada por uma muleta, que ia fazendo aquele som de “trec… trec…” calcetando as pedras do passeio.

No ponto onde naturalmente nos iríamos interceptar, o passeio estreitava, mercê de um qualquer engulho, dos muitos que nesta terra obstruem os passeios, bicicleteiros a pedalar, caixas, caixinhas e caixotes, carros estacionados, postes de iluminação, contentores do lixo e o mais que se queira, aliás esta terra devia ser alvo de um estudo sobre o atulhamento dos passeios por tudo e mais alguma coisa, excepto claro está por pessoas.

Ora dizia eu, que quase a cruzar-me com a idosa senhora, o obstáculo e a exiguidade do passeio, não permitiam pois que nos cruzássemos naturalmente, parei, desci para a estrada, e esperei que a senhora seguisse.

Logo atrás de mim, dois jovens, estilo mestrado integrado, cheios de estilo nos seus vinte e picos anos, armados com as suas licenciaturas e mestrados de aviário, graças a Bolonha, essa inenarrável idiotice, ela com o indispensável apêndice telefónico na mão com aquele ar parolo de labrega classe média, ele de fatiota com ar betolas, sim sou um gajo horrível e faço juízos de valor arruaceiros, seguiam a falar com o discurso típico desta rapaziada, em que a cada duas palavras grunhidas disparam por entremeio as palavras “bué” e “tipo”.

E vai daí que, as duas avantesmas, passam por mim, em velocidade cruzeiro a debitar os seus “tipos” e “bués” nem sequer olham, e seguem, quase atropelando a senhora que entretanto parara e se encostara à parede, depois de os dois energúmenos passarem, eu fiquei ali parado com o meu ar parvo, incrédulo com tamanha deselegância e falta de educação, a senhora passa por mim, com os seus passinhos incertos, agradece-me a cedência de passagem e ainda diz – Não ligue, que esta gente de hoje não tem educação nenhuma. – fiquei a pensar no que a senhora me disse e discordo profundamente.

Discordo porque no antigamente o povo era rude, porque falho de educação, mas não faltavam nem o respeito pelos mais velhos e nem os modos corteses, e quantas vezes, ouvi os cavadores rurais, seres abrutalhados, a pedirem licença para isto ou para aquilo, cederem a passagem às idosas, dizer bom dia e boa tarde e sobretudo obrigado, mas esses só possuíam rudimentos das letras, os que tiveram essa sorte tinham, completado a instrução primária, faltava-lhes educação mas tinham Educação.

Aqueles jovens, cheios de educação académica, inchados de tecnologias, prenhes de ganas empreendedoras e carreiristas, afinal não têm Educação nenhuma, são uns carroceiros diplomados, uns tristes perus inchados, uns fedelhos mal-educados e parvos!

Aqueles dois são a epítome deste país, ou antes do falhanço deste país, do falhanço desta sociedade que só serve para engendrar imbecis patetas e brutos inclassificáveis, afinal o excesso de Educação não serve para nada, pois se eles que são tão educados não têm educação nenhuma, imaginem os que não têm educação.

Francisco Pereira

 

 

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