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A OFENSIVA FINAL DOS GENOCIDAS CAPITALISTAS

15-01-2016 - Pedro Pereira

Há mais de uma década, o poeta e dramaturgo alemão Heiner Müller referiu numa entrevista que via Auschwitz como altar do capitalismo, última etapa das Luzes e modelo/base da sociedade tecnológica. Nesse campo de concentração o homem foi sacrificado em nome do progresso tecnológico, uma vez que, de acordo com o mesmo, o critério da máxima racionalidade reduz o homem à fase material, ao seu valor como matéria-prima.

Foi a última etapa das Luzes pelo facto de ter realizado o cálculo por elas inaugurado; e, finalmente, nele se encontrar o modelo/base da sociedade tecnológica uma vez que o extermínio à escala industrial consagra, mesmo na morte, a busca de funcionalidade e eficiência, princípios fundamentais do sistema técnico moderno.

Neste sentido, a obra, Le Rapport Lugano, de Susan George, mostra-nos que a lógica da «solução final» não foi extinta com o fim dos campos de concentração, antes pelo contrário, encontra-se mais actual do que nunca, constituindo parte activa da estratégia neoliberal à escala global em curso.

Esta, de matriz fortemente totalitária, determina quem tem o direito de sobreviver e quem está condenado a desaparecer.

Susan George reconhece o caráter genocida implícito na estratégia global do neoliberalismo, observando que o actual sistema é uma máquina universal de destruição do ambiente e de produção de perdedores.

Concluiu, igualmente, que a articulação entre ficção e realidade tem o poder de captar a dimensão monstruosa do processo em curso.

Assim, as ameaças que pesam sobre o sistema político, económico e social vigente, o papel das instituições internacionais de controlo e o impacto gerado pela atual relação explosiva entre consumo, tecnologia e população, remetem-nos para os seguintes aspectos:

1. Os governantes tentam convencer as massas populacionais de que a ordem económica neoliberal pode incluir todos os indivíduos em todos os sectores, por mais numerosos que sejam no presente e no futuro. Mas a verdade é que não há a menor possibilidade de integração a escala global de uma população situada entre os 7 e os 8 biliões de seres humanos.

2. Antes da globalização, os processos económicos eram sobretudo nacionais e operavam por adição. Assim, uma vez que se internacionalizaram, operam por subtração; é o chamado «downsizing», segundo o qual, quanto mais elementos humanos custosos (mão-de-obra) se eliminam, mais aumentam os lucros.

3. A cultura capitalista caracteriza-se pela concorrência e pela «destruição criadora». Nos países onde a economia mercantil deu origem a uma cultura capitalista dominante durante séculos, as suas populações somam hoje somente 10% da humanidade. No contexto actual, a análise desta percentagem constitui um mau pronúncio para o futuro do sistema.

4. As condições mínimas para o triunfo global do capitalismo de forma a perdurar no tempo, são impossíveis de ser satisfeitas nas atuais condições demográficas. Não se pode apoiar o capitalismo ao mesmo tempo e continuar tolerando a presença de biliões de seres humanos «supérfluos».

5. Segundo os seus promotores, a redução de grande parte da população do planeta é o único meio de garantir a felicidade e o bem-estar da maioria dos indivíduos. Tal opção embora possa parecer desumana é ditada pela razão e pela compaixão. Na óptica dos genocidas capitalistas: «se desejamos preservar o sistema liberal, não há outra alternativa».

Colocada a questão da redução de população, o passo seguinte passa pela discussão das estratégias para solucionar a questão dos excluídos por meio do que Müller chama de «limpeza social».

Os sistemas genocidas como o Holocausto são considerados más estratégias por variadas razões: apoiam-se numa enorme burocracia, são demasiado onerosos e ineficientes, conferem demasiado poder e responsabilidade ao Estado, dão muito nas vistas e atraem a ruína e a desgraça aos seus autores. Por tal razão, esta opção está posta de lado. A seleção das "vítimas" não deve ser responsabilidade de ninguém, senão delas mesmas, que a farão entre si a partir de critérios de incompetência, de inaptidão, de pobreza, de ignorância, de preguiça, de criminalidade e assim por diante; em suma, esta gente vai encontrar-se no grupo dos perdedores.

Uma vez definidos os objectivos, os quatro pilares em que se funda este ambicioso projecto são os seguintes: pilar da ideologia e da ética, económico, político e psicológico. Como estratégias de redução da população preconiza-se uma atuação concertada dos flagelos bíblicos representados epicamente pelos quatro cavaleiros do Apocalipse: a Conquista, a Guerra, a Fome e a Peste.

Observados nessa perspectiva, os conflitos regionais, as epidemias e as crises que actualmente assolam as economias e as sociedades em quase todo o Mundo, adquirem uma inteligibilidade espantosa, até então irreconhecível. No entanto a produção de destruição não é apenas de inspiração bíblica, existem igualmente estratégias que nem São João de Patmos ou Malthus poderiam ter concebido, porque são preventivas e dependem da política e da tecnologia do século XXI. Neste quadro não têm lugar os inibidores de reprodução, como as esterilizações em massa, as vacinações «marteladas», a contracepção forçada, e por aí fora.

Formas mais sofisticadas de extermínio populacional estão em curso.

Pedro Pereira

 

 

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