Apologia do miserabilismo

31-01-2014 - Francisco Pereira

Há vários anos que a apologia do miserabilismo, a caridadezinha bafienta dos tempos do Zé da Beira e as negociatas do social, tomaram conta deste país, com projectos, projectinhos e demais iniciativas labregas, não isentas claro de pontos benéficos nem tão pouco imunes às críticas.

Um destes dias dizia inchado de orgulho o “Zé da Lambreta” da Segurança Social, que anedota chamar segurança social aquilo, dizíamos, que o actual detentor da pasta dos assuntos sociais declarava cheio de orgulho pátrio, quase paternalista que os novos cortes das pensões deixam de fora 95% dos pensionistas da Segurança Social.

Ora o que assim ao primeiro olho deitado sem rigor pode significar algo fantástico, a estatística essa ciência rigorosíssima (dependendo do que se queira provar, prova isso e o seu oposto logo de imediato), tem destas coisas, o que ao senhor ministro apraz, a nós faz-nos pensar que 95% das pessoas que dependem da Segurança social auferem menos de mil Euros mensais, se pensarmos que entre medicamentos, água e luz se vai uma parte importante desse rendimento e se pensarmos que para os padrões mais normais uma pensão de mil Euros é uma pensão para poucos sendo que a grande maioria aufere menos de quinhentos Euros, a satisfação do senhor ministro é a satisfação do miserabilismo de um povo que soçobra por causa das tropelias de sucessivos governos de ineptos.

Outro facto cantado entre loas e hossanas é o facto de as cantinas escolares estarem abertas mesmo quando as escolas estão fechadas assegurando às pobres crianças, algum sustento. Saúde-se a eficácia dos municípios que vão tentando colmatar as cada vez maiores dificuldades que as famílias enfrentam para angariar o sustento diário, evitando ou mitigando a fome, no entanto este é mais um indicador que nos deveria fazer ter vergonha e não orgulho, é mais um indicador do estado miserável em que este país está realmente mergulhado.

A caridadezinha bafienta é outro excelente indicador do miserabilismo e da sua apologia, um destes dias noticiava um diário regional* que, uma senhora deputada do PSD dinamizou uma iniciativa a que deu o conveniente e muito inteligente nome de “Chá das Rainhas” cujo intuito foi angariar fundos para oferecer um novo parque infantil a uma Instituição Particular de Solidariedade Social, diz ainda a notícia que a iniciativa, “…juntou 250 senhoras na tarde de sábado, 11 de Janeiro, no Hotel Santa Maria, em Fátima.”

Tendo a senhora deputada declarado ao jornal que aquela fora uma, “…experiência maravilhosa.” Ora não desfazendo do propósito da coisa, parece-nos que é o perfeito exemplo da labreguice e da caridadezinha bafienta dos tempos da outra senhora, mais se destina a aliviar consciências do que efectivamente a ter algum préstimo, em contas simples 250 senhoras, contribuíram com 4 (quatro) Euros para o projecto de ofertar o equipamento à instituição, se isto não é perfeitamente ridículo, não sei o que significa a palavra ridículo. Então as senhoras, nem sequer foram capazes de dar uma notita de 5 euros?

Ao invés do gáudio, a senhora deputada deveria ter vergonha desta caridadezinha, deste menosprezar das dificuldades. Quanto custou o evento? Será que o Hotel assumiu a despesa?

É incrível que nos tempos que correm ainda exista gente desta, teria sido preferível recolher o dinheiro e de forma anónima e sem alarde ofertar de igual modo o equipamento, assim como foi feito, é de uma labreguice e de uma falta de vergonha a todos os títulos notável, basta de hipocrisia e de falsa moral, basta de caridadezinha infecta e paternalista, ao menos deixem-nos morrer com dignidade e bebam os vossos chás sem conspurcar a decência deste país, nesta descarada apologia do miserabilismo.

* http://www.omirante.pt/noticia.asp?idEdicao=&id=68655&idSeccao=479&Action=noticia#.Ut-vu_up0rh

Francisco Pereira

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