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Corporativismo

18-12-2015 - Henrique Pratas

Passados 41 anos do 25 de abril de 1974, ainda se encontra em vigor na sociedade portuguesa o designado sistema corporativo implementado e desenvolvido nos tempos de António de Oliveira Salazar.

Tentando escalpelizar este sistema/conceito poderemos escrever que o mesmo decorre do sentido de corporação (do latim corporis e actio, corpo e ação), é um grupo de pessoas que agem como se fossem um só corpo, uma só pessoa, buscando a consecução de objetivos em comum. Num sentido amplo é um grupo de pessoas submetidas às mesmas regras ou estatutos, e neste sentido é sinónimo de agremiação, associação ou ainda empresa. Num sentido mais estrito é uma pessoa jurídica (diferente de pessoa física) que possui direitos similares a uma pessoa física, mas sem se confundir com a natureza desta última.

Este sentimento de corporação que está arreigado na sociedade portuguesa desde o tempo de Salazar, nos piores dos sentidos em que pequenos grupos de pessoas ou de organismos que congregam profissões com a mesma natureza ainda não acabou, aliás a sua tendência tem vindo a crescer, vivemos numa sociedade supostamente democrática, onde predominam as corporações, temos as dos médicos, as dos advogados, dos engenheiros, dos economistas e outras que não se confinam a uma profissão mas sim à organização da nossa Administração Pública, ou organismos Estatais.

Assim é comum na maior parte dos organismos do Estado assistir ainda nos dias de hoje a cunha, o favor, o jeitinho, ou qualquer outra expressão utilizada e não mencionada. Um belo exemplo disso são as chefias intermédias do Estado, a maior parte delas senão todas são escolhidas não pela sua competência ou capacidade de trabalho, porque se vai buscar o sobrinho e o afilhado de muitos “padrinhos” que ainda pululam no Estado e que criam a separação entre trabalhadores e os órgãos máximos dos organismos criando-se desta forma duas “verdades” uma verdade que é aquela que os trabalhadores conhecem e que está próxima da realidade e uma outra verdade criada e idealizada pelas chefias intermédias para que a informação do que de facto acontece nas relações laborais e na realização da tarefas que cada um dos trabalhadores exerce, chegue ao topo de forma distorcida, consoante o critério arbitrário, os amores e desamores que as chefias intermédias tenham pelos seus trabalhadores. Eles não são tratados de forma igual existem uns que são mais iguais do que outros, quero dizer aqueles que abdicam da sua dignidade da sua personalidade e da sua independência enquanto seres humanos, agradam mais às chefias e quanto mais lhes forem contar o que se passa e não se passa nos diferentes serviços melhor e sempre a concordarem com o que as chefias pensam, melhor, assim está tudo sempre perfeito sem de facto o estar, mas é este o caminho mais pacífico, menos turbulento, sem agitações e de uma falsa tranquilidade e uma harmonia perfeita que não existe mas que chega ao topo como verdade absoluta, porque os trabalhadores deixaram de ter acesso aos Diretores-Gerais, Presidentes, Vogais ou equiparados, a relação estabelece-se entre as chefias intermédias e estes últimos, logo lá em cima só sabem o que estas querem, muitas das vezes a ”verdade” que lhes chega não é aquela que é praticada e tudo o que não interessa que no topo de uma organização e que ponha uma chefia intermédia em causa não chega de forma nenhuma.

Este tipo de funcionamento é típico de uma ação corporativa, cria-se uma imagem no meio da cadeia da hierarquia que não é a verdadeira mas é a que mais convém ao “intermediário” e que o deixa melhor na fotografia, é triste mas é que o que temos na nossa Administração Central e Autárquica. O compadrio é outro tipo de estilo que prolifera nos nossos organismos estatais, sendo eles de natureza politica ou de ordem sentimental. A competência não é desejável nos Organismos Públicos, o que se quer é a mediocridade, normalmente nos processo de seleção onde participam as chefias para onde o candidato vai exercer funções, não é importante que ele seja competente ou que saiba da poda, o que preside e é estabelecido como critério prioritário é aquele que não faça ondas, que seja submisso e não complique o que está feito e nada de ideias novas.

Descrevendo-vos muito vagamente o conceito de corporação que ainda reina nos organismos estatais e eu tenho dúvidas que já não se tenha estendido ao setor privado, estamos nesta mediocridade os que são novos e que têm oportunidades saem do País, os restantes ou estão desempregados, ou em alternativa estão subaproveitados, seres pensantes discordantes de ideias peregrinas não convêm a esta sociedade e enquanto não se mudar este paradigma a nossa sociedade vai continuar doente a funcionar através de balões de soro e de oxigénio, prestando um serviço de fraca qualidade a todos nós na condição de cidadãos contribuintes para uma prestação de serviços de Excelência que todos apregoam, mas que de Excelência só tem a palavra e a intenção.

Termino escrevendo que de “boas” intenções está o Inferno cheio, sejamos mais objetivos e mais exigentes na forma como nos são prestados os serviços.

Henrique Pratas

 

 

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