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O 25 de Novembro

27-11-2015 - Francisco Pereira

Fiquei surpreendido pela atitude pateta do PSD em ter ido na cantiga da sua muleta da extrema-direita e querer discutir comemorações do 25 de Novembro. Concordo inteiramente que tenha sido uma data extraordinariamente importante, que evitou uma deriva ditatorial de esquerda evitando também sermos invadidos por forças estrangeiras com as consequentes sequelas que tais factos produziriam e dos quais seguramente ainda não teríamos recuperado, mas daí a comemorações oficiais é um pouco forçado.

Fazer dessa data, por notável que tenha sido, apesar de ter sido apenas um episódio desses tempos conturbados, um alvo de comemoração especial é um pouco pateta, não tarda estaremos a comemorar a Patuleia, a Revolta dos Marechais ou a das Marnotas, isto quando o mesmo PSD desistiu do 1º de Dezembro essa sim uma data importantíssima e o Presidente da República que pertence ao mesmo partido, ter achado que não vale a pena comemorar a implantação do sistema do qual é o mais alto representante, tudo isto é patético e pateta, e é uma tristeza sermos governados por gente desta!

Vamos então contextualizar, regressemos numa analepse digna do rapazito Mcfly, ao dia 11 de Março de 1975. Aviões da FAP sobrevoam Lisboa. O PCP, forçara a mão do General Spínola, e dos sectores da extrema-direita intimamente solidários com o General, que intenta nesse dia de Março de 1975, um golpe de estado que permitiria inverter o rumo da situação a favor da direita e em detrimento do PCP, que já percebera que o seu peso eleitoral, não chegaria para lhe assegurar uma posição dominante, nas eleições próximas que seriam em Abril desse mesmo ano, posição essa que seria essencial para catapultar os secretos desígnios do PCP, para transformar Portugal num estado socialista avançado, uma espécie de Cuba da Europa.

Os paraquedistas numa manobra orquestrada por Spínola, que garantira o apoio da sua Base de Tancos como da Base Aérea 3 também em Tancos, assaltam o aeroporto de Lisboa e o RAL 1 – Regimento de Artilharia Ligeira 1. O MFA, apela à mobilização popular, Otelo desdobra-se em contra ofensivas, pela noite de 11 de Março o golpe estava dominado. Tinham existido pilhagens de sedes de partidos de direita, alguns oficiais revoltosos presos e de imediato foram libertados, Spínola entretanto, fizera uma retirada estratégica e estava em Espanha, o prelúdio do Verão Quente de 1975 estava aí.

Em Abril houve eleições, que o PS vence, são as primeiras eleições livres dos últimos 50 anos com uma participação eleitoral excepcional e sem incidentes relevantes a reportar. Incrédulos os sectores da esquerda não se ficam, o PCP mobiliza-se pois o resultado eleitoral não expressava os desejos do seu comité central, o PCP conseguira apenas cerca de 12% dos votos.

A Assembleia constituinte é cercada por trabalhadores a exigir aumentos. No ar continua a pairar o cheiro a pólvora, os sectores da Esquerda, leia-se o PCP, não desarmam, antes pelo contrário, a 20 de Novembro o Governo, num acto de afirmação política suspende as suas funções, o país deriva para o caos, durante todo esse verão de muito calor há desacatos, queimam-se sedes ora de partidos da Direita ora da Esquerda, há tiros, ocupações de terras, estamos no PREC, o famoso Processo Revolucionário em Curso, facto que assusta as facções da Direita e a Igreja, e que em certa medida explica a pronta reacção dessas alas à tentativa de golpe esquerdista de Novembro.

Finalmente a 25 de Novembro a coisa dá-se, movimentações militares de unidades afectas aos partidos de esquerda ocupam algumas posições estratégicas da capital, o então Tenente-coronel Ramalho Eanes lança mão do Tenente-coronel graduado Jaime Neves, então comandante do Regimento de Comandos, Neves que já tinha tido um papel preponderante no 25 de Abril de 1974, é de novo o homem providencial, juntamente com Eanes, tomam o pulso à situação, audaz como sempre fora até ali, Jaime Neves com os seus pupilos do Regimento de Comandos porá no terreno fim à tentativa de intentona e o 25 de Novembro de 1975, terminava assim, numa paz relativamente podre, mas com o regresso ao pluralismo democrático que mal ou bem conhecemos.

Há quem afirme que o poder económico, os mesmos que hoje mandam, tentou usar os militares para tomar o poder a 11 de Março, há quem desminta, há quem afirme que era a extrema-direita que queria uma contra revolução, para voltar a colocar Portugal sobre a mordaça do fascismo, há quem diga que o PCP sabia do golpe e que o deixou concretizar para capitalizar o seu resultado nas eleições de Abril, e esse desaire eleitoral fez germinar a ideia de um contra-golpe, facto que determinaria a tentativa de 25 de Novembro.

Certo é porém que desde o 11 de Março, que houve agitação em Washington, o CV 60 USS Saratoga, é enviado para Portugal fundeando no Tejo, a cobertura legal era dada pela operação NATO Locked Gate-75, ao mesmo tempo a base aérea espanhola de Torrejon entra em prevenção, estado que só abandona por volta de 1980, esta base era operada pela força aérea americana e pertencia ao SAC – Strategic Air Command. Franck Carlucci e Henry Kissinger, lançam alertas sobre o perigo vermelho, a CIA, em especial o seu escritório de Lisboa, está em delírio e até bem entrados os anos 80 do século passado, manteve as relações políticas nacionais debaixo de olho.

Com consciência ou não do perigo de intervenção estrangeira, a Esquerda, debela o golpe do 11 de Março e não reage nessa altura, forçar demasiado poderia sair-lhes caro, no entanto a 25 de Novembro cai na tentação de reagir com um contra-golpe que tomasse o poder e instituísse, talvez, uma república de cariz soviético, valeram-nos os sectores moderados, quer políticos quer militares que conseguiram atalhar o contra golpe. Foi há 40 anos, daí para cá o que realmente mudou neste país?

Francisco Pereira

 

 

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