Diz o roto ao nu!

21-08-2015 - Francisco Pereira

O Sol descia com a surpreendente modorra do fim de dia mediterrânico, sentia-se uma muito ténue brisa marinha que trazia o gosto a sal empurrado pelos milhares de velas e quilhas de navios que sulcaram aqueles mares, estes finais de tarde de remanso são o objecto da mais pura inveja por parte dos endinheirados teutões e britões, que passam com ar pateta, enfarinhados em cremes e protectores revelando na sua vermelhidão rafeira a inveja que sentem dos filhos do Sul.

Ali sentado remoía a beata quase apagada rilhando, entre passas de fumarada, um tremoço e remolhando o bico na loira fresca que borbulhava, cheia de gula ali no copo, numa mesa próxima, três betos típicos, reconhecíveis por se tratarem por você, pela melena empastada em gel e pelos pólos com o inefável crocodilo, discutiam um artigo de jornal, que por mero acaso eu também estava a ler.

O articulista, um desses fedelhos “neo” parolos desta última vaga de analfabrutos formatados, zurzia no 44, dizendo cobras e lagartos do anterior primeiro-ministro, culpando-o por todos os males actuais, perpetuando a aldrabice que o PSD e o CDS gostam de alardear, colocando o peso na estúrdia em cima do 44 e do PS, o que é verdade mas só em parte.

Os betos, concordavam com o articulista e apelidavam o 44 de ladrão, vigarista e por aí adiante. Fico sempre estarrecido com a falta de seriedade intelectual, se no povaréu, isso não me espanta, num artigo de jornal isso causa-me alguma repulsa, causa-me mesmo muito asco e o mais completo descrédito por um jornalismo medíocre.

Eu até concordo que o 44 não é flor que se cheire, e que o seu partido também seja algo que deixa muito a desejar. Mas fico absolutamente triste e perco qualquer consideração por aldrabões mentirosos como aquele articulista que propala estas meias verdades como dogmas inquestionáveis, glorificando o PSD como sendo digno de figurar num panteão imaculado.

Esse mesmo PSD, de gente tão honesta e séria, verdadeiros faróis da honestidade, como Jardim, Cavaco, Isaltino, Relvas, Valentim, Coelho entre outras avantesmas, que pode esse PSD, os seus dirigentes e militantes, apontar ao gémeo PS, nada, absolutamente nada, excepto se quiserem correr o risco de ver nessa atitude acusatória o reflexo da sua própria falta de vergonha, falta de honestidade e falta de moral! Sendo certo que, como bem diz o povo, ambos os partidos são “farinha do mesmo saco”.

Acho acintoso e degradante em especial para aqueles que não se importam de serem veículos de aldrabices e trafulhices, que se atirem as culpas para as costas do parceiro, sem que se assuma a quota-parte de culpas na miseranda situação a que chegámos, é torpemente mentiroso, e esta falta de honestidade intelectual é moeda comum, o que torna ainda pior o nosso fadário enquanto país, pois se de um lado há trampa do outro trampa há, e em enxurradas.

Porque em abono da verdade, se chegámos a esta miséria, e ainda desceremos mais, ficámos a dever isso principalmente ao PSD ao PS e também ao CDS. Das contas pessoais de cada ministro, deputado e autarca destes três acidentes partidários, que os últimos 30 anos estiveram no poleiro, deveria estar a sair dinheiro para ajudar a combater a crise, porque esses são os grandes e maiores responsáveis por esta miséria, sim até porque o povinho parolo que os elegeu já paga, e continuará a pagar, com língua de palmo as escolhas miseráveis e mentecaptas, que fez ao eleger, Cavacos, Guterres, Barrosos, Sócrates e Coelhos.

Desiludido com a trampa gentílica desta reserva de asnos que se chama Portugal, pedi mais uma loira, estupidamente gelada, continuei a rilhar o tremoço, aproveitando aquele magnífico ocaso, cheio daquelas soberbas cores estranhas que só um pôr-do-sol ao Sul têm, já dizia o ilustre romano que, “ab amicis honesta petamus”, mas quando nem os amigos nos respondem com honestidade, que fazer? Ciente porém de que este país é mesmo para gente estúpida!

Francisco Pereira

 Voltar