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Memórias (29)

24-07-2015 - Henrique Pratas

Depois de vos ter escrito, sumariamente sobre a minha vida familiar existe toda uma outra vida para além desta que não vos contei, porque ocorreu noutras situações nas profissionais, de lazer, de “viagens” feitas com alguns amigos e que considero inenarráveis, com a devida distância e a falha de memória que já lá vai, mas quando nos juntamos com recordações de uns e de outros lá compomos a história, mas há uma coisa comum ninguém se lembra como ou quem é que foi da ideia, também não é importante o que interessa foi o que vivemos e cada vez que nos juntamos, mexemos sempre com os padrões instituídos.

Uma que me recordo tinha apenas 17 anos e em conjunto decidimos ir almoçar ao Toucinho em Almeirim, belos tempos esses, em que a confeção da comida ainda não era muito “maquinizada”, nós erámos 5 sei que nos sentámos à mesa por volta da 13h30m e só nos levantámos por volta das 17 horas. Sopa de pedra foi mais do que muita, depois seguiu-se o coelho assado, as bifanas, o entrecosto, enfim todo o que havia para comer, outros tempos como lhes escrevi, bem regado, penso que um garrafão de 5 litros chegou e depois a bela da aguardente para ajudar à digestão. No meio desta almoçarada há sempre ideias e brilhantes e não me recordo quem nos disse que a seguir íamos ao mochão, como nesta idade não há ninguém que diga que não lá fomos. Eu receei ao ver a corrente com que o rio corria, pois já conhecia bem o Tejo e via que não conseguíamos chegar ao outro lado por onde andam os cavalos em plena liberdade.

O que nos valeu para a concretizar a brilhante ideia foi um dos pescadores residentes, que se prontificou a levar-nos ao outro lado, mas avisou-nos, para não nos demorarmos muito porque a corrente, estava com muita força e quanto mais tarde regressássemos pior, isto entro-nos a 100 km/hora e saiu-nos a 1.000 Km/hora. Chegados ao outro lado do mochão onde os cavalos pastavam em liberdade a ideia foi montar um cavalo em pelo, a primeira grande dificuldade, foi chegar-nos perto de um para cumprir o que nos ia pela cabeça. Depois de muito tentarmos e dado que eu já tinha alguma experiência e conhecimentos adquiridos com o meu avô paterno, aproximei-me lentamente de um garrano, comecei por lhe fazer festas e evitar os gestos bruscos, aproximei a minha respiração à respiração dele até que ele se sentisse à vontade, não lhe mostrei medo, criei o clima para que pudesse confiar em mim, passados alguns instantes, já nos entendíamos, quando experimentei montá-lo em pelo não reagiu bem e fez-me ver que estava a abusar da sua confiança, mas como devemos ser perseverantes e como lhe devia demonstrar que não lhe queria fazer mal, fui tentando com os devidos cuidados e com tentativas sucessivas através de pequenas conquistas, até conseguir de facto colocar-me em cima dele, quando o consegui foi com a sua permissão, a reação esperada surgiu não estava habituado a ser montado e reagiu normalmente, atirou-me uma primeira vez ao chão, voltei à carga e à segunda percebeu de facto que não lhe queria fazer mal, galopou um bocado, tentou aliviar a carga mas eu aguentei-me, através da agilidade que possuía e com festas com pescoço, até que amainou, dei uma volta em cima dele para que ganhasse confiança e saí de cima dele não queria abusar, entretanto os meus amigos que me acompanhavam viram o que fiz e tentaram com outros cavalos, não conseguiram e aos mais atrevidos ferveu coice de meia-noite, alguns deles ainda provaram dos mesmos, alguns deles desistiram logo da ideia, os que voltaram à carga foram devidamente escorraçados saindo de lá bastante magoados alguns. Os que eram de maior compleição física ficaram perfeitamente irritados porque não conseguiram os seus intentos independentemente da sua compleição física e alguns saíram mesmo mal tratados queixavam-se de dores no corpo inteiro.

Mas o pior estava para vir era hora de regressar e como o pescador nos tinha dito quanto mais tarde pior, ele sabia o que dizia, nós andámos entretidos e quando chegou a hora de regressarmos, um amigo meu que era campeão de natação atirou-se à água, convencido de que conseguia nadar para a outra margem nem a meio conseguiu chegar, não fora o pescador e a sua filha que colocaram o barco dentro de água e o foram buscar ele teria ido desta para melhor, eu olhei para a força da corrente da água e nem sequer tentei não sou louco, estava bem de ver que com a força com que a água corria não se conseguia chegar ao outro lado por meios próprios, esperei, o pescador depois de apanhar o meu amigo, disse-nos para ficarmos sossegados na margem que nos ia buscar, senão fosse ele ainda hoje lá estávamos, apanhados do outro lado, todos sujos e molhados, mas a horas de rumarmos ao Porto Alto, para comermos um belo ensopado de enguias bem regado.

Uma outra vez e desta a ideia foi minha porque os queria por à prova, sugeri-lhes que fossemos para o campo para agarrar uns toiros, eu que na altura integrava o grupo de forcados de Lisboa capitaneados pelo saudoso Nuno da Salvação Barreto, incentivei-os a fazermos mais esta avaria, porque no meio deles, meninos criados em Lisboa, mas convencidos de que eram capazes de tudo, pensavam que a tarefa era fácil.

Bem rumámos à Herdade de Mestre Ribeiro Teles, como eu o conhecia disse-lhe ao que íamos, mas pisquei-lhe o olho, só me disse para termos cuidado, disponibilizou-nos uns toiros para que em pleno campo os tentássemos agarrar, lá lhe dei umas noções básicas e vá de os mais atrevidos e convencidos de que era fácil, atiraram-se para a frente e levaram porrada de criar bicho, fez-lhes bem, ficaram com a noção de que as coisas não são tão fáceis como pensavam, alguns deles quando os chamei para irmos todos comigo à cabeça para agarrar um toiro, recusaram-se mas era chegada a altura de lhes mostrar com era e com aqueles que estavam disponíveis, atirei-me para a frente, com aqueles que ainda queriam fazer parte, estava receoso o “bicho” era pesado e temia que não tivesse as ajudas necessárias em tempo oportuno, com as ganas de mostrar o que era capaz enchi-me de coragem e vá de enfrentar o touro consegui agarrá-lo à primeira, fechei-me de tal maneira que me agarrei com à barbela com os braços e com as pernas, acho que nunca fiz tanta força mas fiquei lá, apesar dos derrotes que sofri e que não tive ajuda em tempo oportuno, os segundos pareceram-me horas, esperava ansiosamente para sair da cabeça do toiro, uns lá lhe agarraram no rabo e fizeram peso na cabeça que o bicho amainou o que me permitiu na altura sair de onde ninguém me tinha chamado, mas como era novo, não gostava de deixar os meus créditos por mãos alheias, não era atrevido, era até bastante tímido, mas quando me propunha fazer um coisa fazia-a. Este meu gosto decorreu do facto de o meu pai me levar muitas vezes a um restaurante que tinha um tentadero que havia em Salvaterra de Magos e desde os meus 14, 15 anos me ater habituado a entrar em garraiadas com alguns bezerros e não me esqueço que o maior porradão que me lembro de levar foi precisamente nesse tentadero, após ter agarrado um bezerro voltei-lhe as costas e pus-me a conversar com o meu pai e com os seus amigos e nunca mais me lembrei do bezerro até ao momento em este, sem eu me aperceber, vem disparado direito às minhas costas e me apanha pela dobra das pernas, que grande porradão, saí disparado e aprendi a primeira grande lição nunca se voltava as costas a um bezerro, toiro ou o que quer que seja quando se está nos seus terrenos.

Mais tarde uma das brilhantes “viagens” que fiz com um dos meus maiores amigos, foi quando em serviço nos deslocámos a Torres Novas por efetuarmos as designadas atividades de apoio aos Centros Operacionais. Bem nesse dia e acompanhado pelo Diretor de Pessoal do Centro, fomos almoçar ao Zé Manel, restaurante que ficava à saída de Torres Novas, para o lado do Entroncamento, localizado mesmo ao lado da Santa da Ladeira.

O almoço foi ótimo como era naquela altura a qualidade era excelente mas nesse dia aconteceu o que ninguém esperava, saímos para a rua e antes de entrarmos para o carro o meu amigo caminhou em direção da entrada da Santa da Ladeira eu segui-o e para grande espanto nosso a dita andava a plantar rosas, o meu amigo que é provocador até dizer chega entabula uma conversação com ela e as coisas correram de tal maneira bem que ela fez questão em nos mostrar todas as instalações, onde dormiam os padres ortodoxos, as noviças, as crianças e os velhos que ela acolhia, achámos aquilo uma obra brilhante.

Nunca mais me esqueço que numa cela que ela abriu vimos uma monja tão bonita, era a perfeição em pessoa, pensei os ortodoxos tratam-se bem.

Independentemente de todas as críticas que se possam fazer, há que realçar um aspeto que considero muito importante e que assisti, ela acolhia as crianças que os pais lá iam abandonar, por não terem condições para os criarem, ou por serem filhos fora do casamento e os velhos abandonados eram acolhidos em condições condignas e tratados com a dignidade que era possível. Quando chegámos aos aposentos e à sala dos bispos ortodoxos verificámos que as condições eram excelentes. A sala de estar que estava devidamente e bem fornecida de gins, whiskeys e conhaques dos melhores, olhámos um para o outro e dissemos com o olhar que não, não fosse a Santa da Landeira oferecer-nos alguma coisa, não era por nada mas podia começar a crescer-nos as orelhas e o rabo e não queríamos que isso acontecesse, mas ela depressa nos disse que aquelas bebidas era só para consumo dos bispos, ficámos mais descansados, terminada a visita guiada às instalações, esperávamos que ela nos pedisse algum contributo financeiro, não pediu-nos apenas que caso pudéssemos contribuir com alguma roupa para as crianças, ela agradecia.

O Diretor de Pessoal de Torres Novas, que era natural de lá, ficou boquiaberto e comentou connosco tenho não sei quantos anos de vida moro aqui perto e nunca tinha tido a oportunidade de ter visto a “obra” que vimos naquele dia.

Chegados a Lisboa e dado que os dois tínhamos filhos procurámos roupas que os nosso filhos já não utilizassem e que estivessem em condições e reencaminhámo-los para o sitio devido, foi o que nos foi solicitado e não nos custou nada e para nós face ao que tínhamos visto fazia sentido.

Henrique Pratas

 

 

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