Crise Grega: Capitulação, Chantagem ou inexperiência política
17-07-2015 - Eduardo Milheiro
A crise grega está a dar para tirar uma série de ensinamentos que devem ser bem analisados para que a Europa dos pobres não seja mais apanhada de calças nas mãos, que foi o que aconteceu aos gregos.
Não tenho dúvidas que os gregos foram alvo de chantagem, de tortura económica, subjugados e vexados pela Europa dos ricos. Estas acções foram encabeçadas por Wolfgang Schäuble e o Ministro das Finanças Holandês e Presidente do Eurogrupo, Jeoren Dijsselbloem, contando entre os seus mais fiéis seguidores Passos Coelho - e vou ter vergonha de dizer isto -, primeiro-ministro de Portugal, a par da Finlândia, Estónia e Lituânia.
Ao tentar analisar estes acontecimentos, sinto uma verdadeira frustração, pois não era isto que eu esperava do Tsipras nem do Syriza, até porque ideologicamente eu simpatizo com o Syriza.
Não sei como é possível, terem aceitado uma proposta pior do que a que tinham há três meses atrás. Será que foi ingenuidade(?), Inexperiência política(?), alguma coisa foi, mas ainda não entendi o que na verdade se passou.
Entre as últimas noticias e opiniões, podemos ouvir o FMI dizer que o 3º resgate aprovado no passado fim-de-semana, não chega para a Grécia, dizendo também que a E.U. devia ter ido mais longe no alívio da dívida grega e que a dívida da Grécia é insustentável, e que dentro pouco tempo a Grécia vai estar outra vez na mesma situação.
Na Grécia, a grande maioria é contra o acordo firmado para o terceiro resgate, mas todos o querem, é um paradigma que não tem explicação pelo próprio Tsipras. O ex das Finanças, Yanis Varoufakis diz que a sua saída se deve à falta de apoio de Alexis Tsipras. É este o motivo para a demissão de Yanis Varoufakis. A revelação é feita pelo próprio, uma semana depois de ter abandonado o cargo de ministro das finanças da Grécia, na primeira entrevista depois da demissão.
A Vice-Ministra das Finanças também se demitiu na quarta-feira da bancada do Siryza e do Governo.
Tudo parece estar a desmoronar na Grécia, e tendo em conta as declarações, Alexis Tsipras, na entrevista dada à Televisão estatal, diz que assinou o acordo do 3º Resgate porque foi exigido sob pressão e chantagem da EU.
Eu era daqueles que acreditava que a Europa com Tsipras ia mudar, que se iam acabar com os cortes das pensões e dos ordenados, que a austeridade ia pelo menos abrandar, mas foi um sonho muito curto e que vai trazer ainda mais recessão, Alexis Tsipras rendeu-se à Europa rica e autoritária, à Alemanha e Holanda, aos mercados, parecendo que o referendo feito na Grécia foi uma brincadeira que não serviu para nada, pois o referendo até lhe dava legitimidade para sair do Euro.
Tem razão Wolfgang Münchau que escreveu no Financial Times:
“Algumas coisas que muitos de nós tinham como certo, e que alguns de nós acreditavam, terminaram num único fim-de-semana. Ao forçar Alexis Tsipras a uma derrota humilhante, os credores da Grécia fizeram muito mais do que provocar uma mudança de regime na Grécia ou colocar em perigo as suas relações com a zona do euro. Eles destruíram a zona do euro como a conhecemos e destruíram a ideia de uma união monetária como um passo para uma união política e democrática.”
Mas talvez a solução pudesse ser a que Jorge Bateira, Professor de Economia na Universidade de Coimbra tem dito e escrito e a qual passo a citar:
“Suponho que se trata de um novo ultimato
Não só têm de aprovar em 72h novas "reformas", como aceitar que a troika regresse a Atenas para fiscalizar dentro dos ministérios o novo resgate. Querem a humilhação total.
Tsipras, por favor, telefona para Atenas e manda imprimir as notas. Já!
Em nome de uma outra Europa, a da paz e do respeito entre povos soberanos.*
A grande verdade é que a esquerda europeia foi humilhada e novamente subjugada pelos ricos da Europa. Quem se quis revoltar foi trucidado, mas não podemos desistir, temos de continuar a lutar pela Europa da coesão social e da solidariedade. Eu por mim, além disso, vou continuar a defender a saída da União Monetária, ou seja, sair do euro e ter moeda própria.
É complicado, eu sei que é e viver com reforma de 300 euros e salários mínimos de 520 euros, é melhor? Não é! A isto chama-se miséria! Têm medo do quê, de diminuir a bicha da sopa dos pobres, de baixar impostos, dos produtos de luxo que vêm do estrangeiro serem mais caros, não sejam hipócritas, temos é de acabar com a fome e com os pobres, proteger o Serviço Nacional de Saúde, as Reformas e Pensões e também a Escola Pública.
Eduardo Milheiro
Nota: Já depois de ter escrito este texto, o Parlamento Grego aprovou o 3º Resgate, ou seja, assinou a submissão aos ricos da Europa, e aos podengos rafeiros que os seguem, ou como muita gente diz a sua sentença de morte.
* Retirado do seu perfil do Facebook, dia 12, às 17 horas.
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