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Memórias (28)

10-07-2015 - Henrique Pratas

O tempo passou os meninos cresceram e consumiram-me 30 anos da minha vida, onde trabalhei que nem um desalmado para que tivessem tudo, durante esse período de tempo trabalhei por conta de outrem e exerci a minha profissão em termos de regime liberal, não sei quanto dinheiro ganhei mas ganhei muito.

Fui professor no Ensino Superior, dei formação no Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas corri o País inteiro, para obter rendimentos provenientes do trabalho que me permitissem fazer face aos encargos que tinha abraçado, isto de ter filhos não é uma decisão fácil, em meu entender, ou os temos e lhes damos o que eles merecem e têm direito, ou então não vale a pena.

Esforcei-me dei o que tinha de melhor para que eles crescessem dentro daquilo que achava mais correto, fiz o pude o que o não podia esforcei-me até à exaustão de tal modo que no final de terem concluído os seus cursos, estava exausto física e psiquicamente, eles tiveram mais oportunidades do que eu tive é isto que um pai deve fazer, agora que têm pernas para andar que andem, já chega, agora tenho que pensar em mim e não quero ser mais “caixa de multibanco”.

De permeio, devido ao excesso de trabalho, fiz uma tentativa de suicídio que por um triz não resultou, estava muito cansado, não conseguia alcançar o que me tinha proposto era só eu a puxar a “carroça” e a fazer um esforço inexorável, para mim tinha chegado ao fim da linha, a minha vida não fazia sentido, tinha acabado de sair de um período de mais de 10 anos onde tinha trabalhado em média 16 horas por dia e aos fins de semana ia dar formação, na área de Politica Económica aos Bancários, saía às 17 horas do meu local de trabalho para iniciar ações de formação que se desenvolveram por esta ordem, em Castelo Branco, Torres Novas, Lisboa, Setúbal e Albufeira (Hotel de Montechoro), para além de durante a semana ao final do dia ainda dar formação na área das Gestão de Pessoal, mais precisamente em Planeamento. Como escrevi saía às 17 horas e tinha que estar às 19 horas nos diferentes locais para iniciar as ações de formação, se para uns locais era fácil para os mais distantes não era e não sei como é que nunca tive nenhum acidente, pois pauto-me por estar a horas, não gosto de chegar atrasado a nada. Paralelamente a esta atividade desenvolvia a minha atividade profissional numa multinacional onde era o responsável pela Gestão das Pessoas e simultaneamente o braço direito e esquerdo do Administrador de nacionalidade alemã. A minha carga era de tal modo que reunia com ele apenas das 8h às 8h30m quando havia motivos para isso depois ele saía e deixava a empresa nas minhas mãos, aliás as nossas conversas terminavam sempre com a assinatura dele eu assinava à direita toda a documentação e ele à esquerda, após isso perguntava-me e problemas não temos mais pois não e lá ia ele.

Durante a minha vida de trabalho foi ele que me tratou como gosto responsabilizando-me, mas não limitava a minha liberdade de ação, com o trabalho feito em Portugal, ele foi convidado para regressar à Alemanha e ficar com a responsabilidade da gestão dos Países Europeus. Como já referi foi onde fui melhor tratado, apesar de ter trabalhado horas e horas a fio, mas fui recompensado por isso, não só em termos de respeito que tinham por mim quer na aceitação das propostas que efetuava, atingi o topo de uma carreira muito cedo, mas foi-me reconhecido o mérito quer profissional, quer pessoal. Um belo dia quando fui a uma reunião na Alemanha em Leverkusen, onde era a sede da empresa, como era hábito ao final do dia íamos todos jantar, nesse jantar estava presente o meu ex-administrador em Portugal e a meio do jantar a despropósito para mim, na altura perguntou-me o que é que estava a fazer em Portugal, não percebi, achei mesmo estranha a pergunta, não liguei na altura, mas uns dias mais tarde chegado a Lisboa entendi, porque me chegou um convite para enveredar pela carreira internacional e o que me foi oferecido foi uma ida para Barcelona ou para Roma à minha escolha, como Responsável pela Gestão das Pessoas e simultaneamente Vogal do Conselho de Administração, teria sido muito bom para mim se tivesse aceitado, quer em termos de realização pessoal, profissional e financeira, mas não aceitei tinha a minha mãe sozinha se lhe dissesse isto ela iria reagir muito mal, os meus filhos também não encararam bem a situação pois iriam perder os seus amigos, a sua escola, não tive ninguém que me apoiasse neste processo de tomada de decisão, por minha vontade tinha ido, mas existe sempre um mas, a família era muito importante para mim, principalmente a minha mãe, estava preso e não fiz o que queria, abdiquei, estas oportunidades só passam pela nossa vida uma vez. O afeto que tinha pela minha mão era muito e não me via a voltar-lhe as costas, porque estava fora de hipóteses ela acompanhar-me, pois não pretendia sair de cá, com esta decisão apercebi-me que estava a empenhar o meu futuro, mas induziram-me valores que não me permitiam assumir o desafio, a família estava em primeiro lugar. Sabia que esta decisão me iria prejudicar, mas não consegui voltar as costas ao que considerava mais importante do que tudo a família, mais tarde viria a provar o amargo desta minha decisão, quando os meus filhos cresceram fizeram a sua vida e não me perguntaram opinião para o que quer que fosse, apesar disso não em arrependo da decisão que tomei. Por outro lado o mercado de trabalho não era como é hoje arranjava-se emprego facilmente desde que fossemos competentes e assim foi arranjei logo emprego numa empresa de restauração, onde me foi dada as mesmas oportunidades, o patrão, viu a minha capacidade de trabalho e delegava tudo em mim, permanecia pouco tempo na empresa, pois confiava em mim para resolver tudo o que acontecesse.

Como achava que a empresa estava num estadium de crescimento que era necessário alguns meios para que ela pudesse crescer sustentadamente, elaborei um documento onde lhe solicitava a aquisição de determinados meios, basicamente informáticos para que se pudesse fazer uma boa gestão financeira da empresa. Esperei o que achava razoável para obter uma resposta, três semanas, como não recebesse nenhuma resposta, um dia enviei-lhe um fax de minha casa a apresentar-lhe a minha demissão. Ficou estarrecido, ligou-me e pediu-me para eu me deslocar à empresa para poder falar comigo, disse-lhe que sim, mas que a minha decisão estava tomada e que não iria voltar atrás, independentemente disso ele queria falar comigo, como não sou malcriado e não gosto de fechar as portas com as costas desloquei-me à empresa e ouvi-o com toda a atenção. A conversa foi no sentido de me informar que estava a pensar a curto prazo afastar-se da empresa e queria que eu fosse o seu Diretor-Geral, com educação disse-lhe a minha decisão está tomada, passou o que se passou e sou homem que honra o que faz mesmo que isso me prejudique e não mudei de opinião a minha decisão estava tomada. Pensarão alguns de vocês o gajo é casmurro, não honro a minha palavra e não me vendo por nenhum preço.

É por esta razões e por outras que apesar de ter sido convidado para integrar alguns partidos políticos sempre declinei os convites porque, sou vertical, profissional, tenho ética e não gosto de dizer uma coisa, amanhã outra completamente diferente, pauto-me por ser coerente e cultivarei estes valores até ao dia em que desapareça deste Mundo, tanto mais agora que já entrei na casa dos 60 anos, se fretes não fiz, não é agora que vou começar a fazê-los sei que posso pagar um preço alto por isso, mas comigo as coisas são certinhas e direitinhas, honro a minha palavra e não abdico de dizer o que penso, para ser simpático ou poder usufruir de alguns benefícios em proveito próprio, nasci livre e livre quero morrer, não quero desiludir ninguém, ou aqueles que acreditam em mim, mas não me peçam para ser o que não sou ou para fazer de conta, quem gostar de mim tem de gostar de mim tal e qual como sou.

Cada vez mais gosto de pessoas que pensam, discutem ideias, entendo que é assim que aprendemos a viver em sociedade, o que em meu entender ainda não aprendemos até aos dias de hoje, não gosto é de marketing e de pessoas que vivem de aparências e mostram o que não são.

Eu engano-me, tenho dúvidas e estou sempre a aprender não sei tudo, nem sei se terei tempo de vida suficiente para fazer tudo o que quero, mas estou sempre disposto a aprender, a escutar, a argumentar, a pensar e a dialogar, sem ideias pré-concebidas ou quaisquer tipos de preconceitos.

Para mim não faz sentido nenhum nos tempos de hoje por as coisas em termos de esquerda ou direita já passei esta fase, o que entendo é devemos pensar o que é melhor para o País e consequentemente para os cidadãos que nele habitam, só desta forma se consegue construir algo de sustentável é preciso que as pessoas expressem de forma pura e sem outras intenções as medidas que preconizam para o seu País, mesmo que aos olhos das outras não façam sentido, se não formos nós portugueses a dizermos o que queremos para o nosso País quem é que o vai fazer?

Henrique Pratas

 

 

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