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Memórias (24)

12-06-2015 - Henrique Pratas

Escrevinhes-lhes sobre uma parte mais racional da minha vida, não lhes escrevi sobre as minhas afetividades que começaram muito cedo e com grande abundância.

Nem sempre é fácil conjugarmos em termos de escrita os acontecimentos que ocorrem no campo racional e o afetivo, por isso devem ter notado que não me referi a esta última nos meus textos, nem às “viagens” que fiz e que são inenarráveis porque muitos de vós não acreditarão, nem eu próprio mesmo depois destes anos todos quando me recordo destas “viagens” feitas com um dos meus grandes amigos.

Mas voltando à primeira “omissão” que vos indico, posso-lhes escrever que ela sempre foi normal e como noutro dos meus textos que escrevi, percebi o conteúdo de uma afirmação que a minha avó materna um dia me disse quando era menino e moço, “vais deixar muitas cadelas sem ceia”, não percebi como vos escrevi na altura, mas mais tarde percebi-o e de forma efetiva.

A minha grande paixão aconteceu pol volta dos 14 anos numas férias de Verão, passadas na Federação Nacional para a Alegria no Trabalho (FNAT), hoje INATEL, esta primeira paixão como muitos de vós sentiram foi de caixão à cova, nunca me tinha sentido tão feliz, foi uma boa sensação que ainda hoje não consigo explicar do ponto de vista racional, estava disposto a tudo, tinha uma pessoa a quem dedicava a minha vida por inteiro, o que se passava à minha volta não interessava nada vivia um sonho que era confinado apenas a mim e à minha namorada. Ainda nos escrevemos, cartas que guardo religiosamente e que traduzem a pureza de sentimentos, não havia ideias preconcebidas, discordâncias ou defeitos era tudo bom, vivi e senti uma forma de estar que jamais tinha vivido, não sei mas acho que é assim para todos quando se vive a primeira paixão.

Eu, vão-me desculpar a imodéstia nesta altura era um rapaz bem-apessoado, olhos verdes, ágil, bem-parecido, educado, esguio, respeitador, honrado, já de palavra, o que combinavam comigo eu cumpria e assumia e sem me aperceber a minha maneira de estar e de ser causava admiração nas jovens na altura eu não fazia esforço para ser como era, era assim e pronto. Esta minha maneira de ser que pouco se alterou ao longo destes anos, a não ser com as partidas e as ocorrências que nos vão acontecendo na nossa vida nos tornam mais maduros, porque nem na ingenuidade eu me alterei, é certo que não sou tão ingénuo como era, naquela altura achava que podia mudar o Mundo, hoje e passados estes anos todos se conseguisse mudar “apenas uma virgula, já me sentiria muito feliz”, mas nunca deixei nem deixo de tentar “influenciar a decisão”.

Mas voltando ao que pretendia partilhar convosco e com a devida distância entendo algumas coisas que na altura não entendi, nem dava conta delas, eu já me defini como era e na altura a que já vos fiz alusão, as férias na FNAT, na Costa da Caparica, e a primeira paixão que tive, nós tínhamos um grupo de rapazes e raparigas, com quem nos dávamos e que partilhavam da nossa vida diária, era exímio a andar de bicicleta, fazíamos várias viagens desde S. João da Caparica até à Costa da Caparica, vila, naquele tempo era uma aventura, mas com menos viaturas do que hoje, íamos ao cinema ao ar livre e fazíamos toda uma vida diária em comum. Como vos escrevi, éramos um grupo de rapazes e raparigas, eu sempre fui aquele que tinha mais capacidade de iniciativa, de liderança se assim quiserem, era eu que fazia os “programas” diários, estabelecia, horários e regras a cumprir e era bem aceite pelo grupo, com mais acerto aqui ou ali porque já era democrata na altura, partilhava as minhas ideias e recebia com bom agrado as sugestões, críticas, diferentes propostas que me faziam, sempre achei que esta era a melhor forma de estar em sociedade.

A composição do nosso grupo era como vos escrevi feito por rapazes e raparigas, que ao tempo só podiam estar juntos nestes momentos de lazer, porque nas nossas atividades académicas ao longo do ano era rapazes para um lado e raparigas para o outro, assim eram impostas as regras e assim se cumpriam, mas nas férias não, vá lá uma pessoa entender isto.

Sem eu dar por isso quando comecei a namorar com a rapariga, cujo nome não menciono, porque entendo que não devo expor o seu nome, reparei que as outras raparigas já não eram como eram para mim passaram a ser diferentes, mais distantes, na altura não percebi, estava apanhadinho de todo e queria lá saber, mas não deixei de registar o que vos contei.

Os momentos que vivi nessas férias para mim foram únicos, como o foi para todos nós que passámos por situações semelhantes, fiz amizades que perduram pela via inteira de uma pessoa e que são tão boas.

Mas tudo tem um fim e chegado o momento desta passagem de férias na FNAT, cada um de nós regressou aos seus locais de vida normal, uns eram de Lisboa, outros da Covilhã, outros de Santarém e outros de outras localidades que já não me recordo.

A diferença que senti das outras raparigas para comigo, decorreu do facto de eu a partir de um determinado momento passar a dar mais atenção a uma do que às outras e isso aprendi eu ao longo da minha vida elas não perdoam, mas na altura não me apercebi do que agora de uma forma simples lhes escrevo, porque estes episódios voltaram a repetir-se na minha vida.

Perdoem-me a imodéstia mas eu nunca procurei nada, ainda não sei por que razões as raparigas é que vinham ter comigo e sempre assim foi, do nosso grupo de férias havia uma rapariga que era de Lisboa e que frequentava a Patrício Prazeres e mais tarde ainda viemos a namorar, fazia umas tortas de cenoura deliciosas que nos dias em que não tínhamos aulas encontrávamo-nos no Castelo de S. Jorge e para além de trocarmos caricias um com o outro eu ainda comia umas fatias de torta. Esta era uma daquelas que vos disse que alterou o seu comportamento quando assumi a minha relação perante o grupo com a outra rapariga.

Na rua onde os meus pais viviam, as raparigas faziam-me um “cerco” diabólico, porque como era um rapaz bem visto pela vizinhança, os pais delas achavam muito bem que elas falassem comigo e algumas delas só podiam sair para qualquer lado se eu as acompanhasse, eram créditos que eu possuía sem saber e que me renderam alguns “juros” sem nunca perder a imagem do que era, do que sou e sempre serei, ético, honesto, solidário, fraterno e de palavra.

Esta minha maneira de ser em relação às raparigas/mulheres tem-me acompanhado ao longo da vida, recordo aqui que os pais de uma rapariga minha amiga que gostava de ir à piscina do Areeiro, em Lisboa, na altura uma das boas e poucas piscinas existentes, só a deixavam ir se eu fosse e eu como nunca fui deselegante com ninguém lá alinhava e tantas vezes fomos à piscina que deu em namoro.

Situações como estas foram mais do que muitas e não pretendo alongar-me em esmiuçar mais estas situações para não ficarem com a ideia de eu me achar um conquistador, nunca o fui nem pretendi ser, hoje tenho uma certeza que é minha e provavelmente vossa, não somos nós que as escolhemos são elas que nós escolhem a nós e quem pensar o contrário está redondamente enganado, nada de ilusões.

Quando ingressei na Faculdade, no primeiro dia de aulas, eu já estava na sala de aulas em Económicas e este episódio remonta aos anos de 1977, entra na sala de aulas um pai acompanhado da filha, a turma era composta por 25 a 26 elementos e não é que o pai se dirige a mim e me pergunta se a filha pode ficar no meu grupo. Como nunca tive preconceitos de qualquer espécie, nem convencimentos, achei normal e respondi logo de imediato que sim, mas ainda hoje me pergunto, existindo tantos outros elementos para onde a filha pudesse ser acolhida porque é que se dirigiu a mim, faço notar que não conhecia nem a filha, nem o pai de lado de nenhum e pergunto porquê a mim, com tantos companheiros por perto, eu não sei se isto é sina minha, mas estes episódios repetem-se com bastante frequência ao longo da minha vida e com a maior das sinceridades eu não entendo porquê.

Também na Faculdade, logo no início do segundo ano quando comecei a “andar” mais com uma colega de turma, “arranjei” uma série de inimizades por parte das outras raparigas da turma, algumas delas deixaram mesmo de me falar, apenas pelo simples facto de dar mais atenção a uma do que às outras.

No final deste meu primeiro ano de Faculdade, a professora de Métodos Quantitativos, pretendia dar-me 19 valores, mas para isso eu teria que ir fazer uma prova oral com ela, que até podia ser em sua casa de acordo com a sugestão feita por ela, porque ela deu-me 15 valores mas entendia que eu sabia mais e como achava que eu era aluno de 19, pretendia que fizesse a dita prova oral em privado. É óbvio que foi a “chacota” total pelo resto da turma com mais ascendência por parte das raparigas/mulheres, que me gozaram indecentemente.

Ah, esqueci-me de vos contar que a professora tinha ficado em 2.º lugar de um dos concursos de Misses.

Como estávamos já em julho e o calor apertava decidi-me ficar pelos 15 valores e abdicar dos hipotéticos 19 valores que a professora achava que eu merecia, mas com a condição indicada, em nunca levei isto para outras intenções que não fosse o de me dar um melhor nota, mas não gostei da forma como as coisas me foram postas e declinei fiquei-me pelo 15 e caminhei rumo à praia da Torre, que frequentava com os meus amigos e amigas, que não deixaram de me endereçar piadas.

Tinha sido uma ano letivo muito exaustivo, não pelo facto de ter que tivesse que estudar muito mas mais pelas “ajudas” que dei com o maior dos prazeres aos meus colegas que vinham do Liceu e que não percebiam nada de contabilidade nem de cálculo comercial, queria era sopas e descanso.

Henrique Pratas

 

 

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