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Memórias (23)

05-06-2015 - Henrique Pratas

Em junho de 1984, terminava a minha licenciatura em Economia, a última cadeira que fiz foi Avaliação de Projetos, ninguém dispensava da prova oral, independentemente da nota que fosse conseguida na prova escrita, tirei 14 valores, o que não me deixava nada tranquilo, porque já tinha ocorrido com outros meus companheiros de curso terem tirado a mesma nota e chegarem à prova oral e esticarem-se ao comprido. Os meus professores desta cadeira eram muito exigentes, porque sabiam da “poda”, no dia em que fiz a prova oral o único que passou no meio de 10 alunos fui eu e saí de lá com a mesma nota do que entrei, não foi fácil fiquei feliz por mim mas triste pelos outros.

Assim que cheguei ao campo de jogos e parque de estacionamento das traseiras que davam para a Rua Miguel Lupi, peguei na pasta, atirei-a pelo ar, para que caísse no espaço relvado que existia, consegui acertar, depois tive que apanhar os livros, as folhas que estavam dentro da pasta e que constituem a base de estudo para aquela cadeira, mas o alivio foi tão grande que ainda hoje não sei como lhes expressar a minha felicidade ao concluir mais um objetivo a que me tinha proposto, consegui concretizar o que me tinha proposto e sonhado alcançar aos 10 anos de idade.

Pela primeira vez não fui trabalhar tinha o exame de manhã que terminou por volta do meio-dia, fui exprimido até dizer chega, tinha que demonstrar que sabia a matéria na ponta da língua mas não empinada, interiorizada sabê-la explicar sem qualquer tipo de hesitação ou demonstração de não saber explicar qualquer tipo de temática que integrasse o conteúdo da disciplina.

Recordo-me de ter pensado que tinha feito o Curso à minha maneira, sem favores de ninguém e como lhes escrevi à minha maneira sem ser submisso, pedir as explicações necessárias e suficientes, para entender o que para mim não tinha ficado de entender o que tinha sido “debitado” nas aulas, manifestei sempre o meu desacordo quando não estava de acordo com o pensamento de alguns professores quando explicavam a matéria curricular, nunca me calei, nem tive medo das consequências de assumir posições diferentes daquelas que me queriam impingir, sempre fui muito critico e não era na Faculdade que iria deixar de o ser, tinha a minha opinião formada sobre muitas coisas e exprima-a sempre que era possível, muitas vezes a contragosto dos meus companheiros de curso porque se faltava pouco tempo para tocar para a saída e se alguns dos professores produzisse afirmações que eu não concordasse não era o escasso tempo que faltava para tocar para a saída que me ia impedir de contra argumentar com os professores e a defesa das argumentações prolongavam-se muitas vezes pelo intervalo até ficar tudo muito bem esclarecido.

Destes tempos recordo-me de a professora de Métodos Matemáticos I, cadeira do 1.º ano, por acaso uma mulher bem interessante me ter dado 15 valores e me ter convidado para fazer uma prova oral com ela em local e hora a combinar porque ela me queria dar 19 valores, voltei-me para ela e dado que já estávamos em julho respondi-lhe imediatamente que o que naquele momento o que queria era praia é claro que esta situação foi objeto de gozação por parte das minhas companheiras e companheiros de turma, tinham uma mente muito fértil e já estavam a imaginar coisas que a mim nunca me tinha passado pela cabeça. Aliás quero aqui deixar claro que só andei com quem eu achei que devia andar, apesar de a procura ser muita tive o privilégio de escolher e não era quem queria que andava comigo ou dava uma voltinha era quem eu escolhia ou queria.

Desculpem esta falta de modéstia mas sempre fui assim sempre, quem me “queria” tinha que fazer por isso, mesmo mais tarde nas organizações/empresas por onde passei ouve mulheres que quase debaixo de mim, me convidavam para lanchar ou jantar em casa delas, mas nunca cedi a estas “pressões” gosto de ser eu a decidir não gosto que me impinjam nada, gosto de ser eu a “escolher” e não pensem que tenho a mania que sou bom ou melhor do que os outros, as coisas acontecem quando eu quero e da forma como quero.

No dia seguinte voltei ao trabalho fui recebido em apoteose, porque os meus companheiros de trabalho viam o esforço que fazia para estudar e trabalhar ao mesmo tempo alguns deles chegaram mesmo a por em causa que eu conseguisse acabar o curso tal era o empenho que colocava no meu trabalho.

É certo que esta receção não foi desinteressada, muitos daqueles que estavam mais próximos de mim disseram-me logo agora tens que pagar qualquer coisa, o que aconteceu, fizemos um almoço na Casa do Alentejo, com muito grão à campaniça, vinho à farta, foi tudo muito para a merecida ocasião, nesse dia chegámos todos mais tarde, mas como uma das minhas chefias também tinha ido, pelo facto de ser meu amigo e não por ser minha chefia e que defendia que havia momentos para tudo, para trabalhar e para conviver, ele também sabia que se fosse preciso no outro dia fazer algum esforço adicional nós só sairíamos quando o trabalho estivesse concluído. Ele ainda hoje é meu amigo apesar de ter uma idade superior à minha, atualmente tem 70 anos, quando estivemos noutro dia por um motivo não desejado ou seja a morte do irmão que não era desejada nem esperada, mas como sabem esta ataca à traição e não se faz anunciar, quando me apresentava a alguns familiares, apresentava-me” como sendo uma das pessoas que tinha trabalhado com ele” corrigi sempre para “ em que eu fui teu subordinado” ele para mim foi um dos poucos “comandantes” com que tive o privilégio de trabalhar e aprendi muito com ele e com outros que faziam parte da equipa, mais velhos mais conhecedores, mais experientes, mas que nunca, deixaram de me apoiar quando apresentava os meus trabalhos alguns merecedores de rasgados elogios e de outros não tanto, passíveis mesmo de alguns reparos que o faziam com a maior das honestidades intelectuais, dizendo se fosse eu fazia assim, ou talvez desta forma fosse melhor. Umas vezes aceitava ou rebatia-os e explicava-lhes o que estava subjacente à apresentação do meu trabalho, umas vezes aceitavam a explicação outras não e eu que sempre deste processo de trabalho não me importava nada, pois entendo que é procedendo desta forma que uma organização cresce e que eu aprendo é a ter espirito critico e construtivo que as empresas se desenvolvem, aproveitando o que nelas há de melhor o potencial de cada um de nós. Nos dias de hoje esta prática desgraçadamente caiu em desuso, porque o se pretende é que ninguém ponha nada em causa e todos estejam de acordo sem o estarem.

Faltava ainda solucionar um outro processo na minha vida que era o cumprimento do serviço militar obrigatório, que ainda não estava encerrado, pois tinha pedido sempre adiamento de incorporação foi-me sempre concedido, até que belo dia recebo um telefonema da minha mãe a dizer-me que tinha chegado um postal dos correios informando-me que eu podia ir levantar a caderneta militar a Setúbal, pois tinha passado à disponibilidade.

O telefonema ocorreu de manhã e como nestas coisas tinha muito medo que “eles” se arrependessem, à tarde fui logo a Setúbal buscar a minha caderneta militar, vim a saber que todos os que tínhamos ido à inspeção no meu ano ou seja 1974, tinham passado à disponibilidade, foi outro peso que saiu das minhas costas.

No dia seguinte dirigi-me à repartição de finanças correspondente ao local por onde tinha sido convocado para inspeção militar para pagar a minha taxa militar, que ao tempo era 20,00 escudos, o funcionário ainda me disse que se eu pagasse toda a quantia que era devida até aos 45 ou 55 anos já não me recordo bem, me faziam um desconto. Olhei para ele e disse-lhe, não eu faço questão de vir cá todos os anos só par ter o prazer de o ver, porque para mim meus amigos, nestas situações pagar tudo de uma vez era uma perfeita burrice como se viria a demonstrar inequivocamente. Na altura algumas das pessoas preferiam pagar tudo de uma vez e ficarem livres desta obrigação, eu optei pelo contrário e em boa hora o fiz porque passados dois anos, quando me dirigi a minha taxa militar fui informado que não tinha que o fazer pois tinha saído um diploma que tinha posto o términus ao pagamento da taxa militar, tive sorte poupei umas coroas.

Henrique Pratas

 

 

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