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"Impaciência leva-nos a querer soluções para ontem" - Ex-PR Armando Guebuza

15-05-2015 - Lusa

O ex-Presidente moçambicano Armando Guebuza considera justa a impaciência de quem quer "soluções para ontem" e rejeita um afastamento progressivo entre os dirigentes políticos e a população, lembrando o impacto de 16 anos da guerra no desenvolvimento do país.

"Como seres humanos, somos impacientes, é justo que assim seja, é isso que nos move, e a impaciência leva-nos a querer soluções para amanhã, não, para ontem e se não foi ontem, então que seja hoje", afirma em entrevista à Lusa Amando Guebuza, Presidente da República durante dez anos até ao passado dia 15 de janeiro.

"As pessoas são impacientes, querem mais", insiste o antigo estadista, rejeitando que a Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), partido dominante em Moçambique e que liderou até ao fim de março, se tenha afastado dos seus objetivos ao longo das últimas quatro décadas.

Os moçambicanos sabem, segundo Guebuza, que dois anos após a independência, o país mergulhou numa guerra "que matou um milhão de pessoas e destruiu tudo" e que, depois, "imediatamente se iniciou a reconstrução".

"Hoje temos escolas em quase todo o lado", diz o ex-Presidente, enfatizando que "os objetivos estão lá", embora feitos "na medida em que os recursos e as circunstâncias permitem".

Do mesmo modo, rejeita a análise de que os líderes do Governo e do seu partido estejam a afastar-se dos interesses dos cidadãos, observando que "o contacto ainda é muitíssimo forte entre a classe dirigente e a população" de mais de 20 milhões de habitantes, "dispersos num país muito grande e com infraestruturas que ainda não conseguem facilitar a comunicação, em termos de rádio, televisão, estradas e pontes".

"O movimento da tocha [que replica este ano a Chama da Unidade usada em 1975 para atravessar todas as províncias do país] está aí, as pessoas estão lá, é um forte contato aquilo", defende Armando Guebuza, que atribui a presença de multidões aos meios de comunicação social, mas também "aos dirigentes que estão lá".

O Acordo Geral de Paz, negociado por ele próprio em 1992 em Roma com a Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), também não trouxe o fim das ameaças à estabilidade.

As partes voltaram a uma confrontação militar, durante 17 meses na região centro do país, até um novo entendimento de cessação de hostilidades, celebrado a 05 de setembro de 2014, entre o líder da oposição e Guebuza, na qualidade de Presidente da República e já em fim de mandato, pouco antes de umas eleições que a Renamo não reconhece.

"Mesmo depois de se encontrar uma solução, falta sempre uma coisa aqui e acolá", comenta o ex-chefe de Estado a propósito da persistente instabilidade política com a oposição e que "parece pôr em causa completamente o que se alcançou".

"Não me parece que ponha", declara Guebuza, dando como o exemplo o ambiente na Assembleia da República, em que os deputados das três bancadas bebem café juntos, após as suas discussões parlamentares.

"Portanto, muito se alcançou, aquilo que acontece são acidentes de percurso e temos de continuar a lutar com paciência para que não aconteçam", como um avião que enfrenta turbulência "mas acaba por chegar à pista e aterra sem problemas", sustenta o antigo dirigente político, que apela para uma "mudança de atitudes" em nome da concórdia em Moçambique.

E a diferença de opinião acaba por ser, também ela, uma conquista de quatro décadas de independência.

"Sem dúvida, é a nossa identidade, que não é monolítica, como no [ex-Presidente soviético Leonid] Brejnev, a nossa identidade assenta exatamente e fortemente na diversidade", declara o antigo chefe de Estado moçambicano.

Lusa

 

 

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