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Pequeno Tratado da Cavalgadura Lusitana

13-12-2013 - Francisco Pereira

A Cavalgadura, “Iumentum Lusitanum” é um animal que bem longe de estar extinto, conhece em terras Lusas um franco progresso demográfico, existem vários tipos, cores e feitios de Cavalgadura, sendo que existem também vários graus de Cavalgadurice, um facto porém é insofismável, a Cavalgadura em Portugal, prospera.

O que seria deste país sem a Cavalgadura que repuxa o escarro e o atira com sonoro brilho para o chão, onde um qualquer incauto pedestre o pisará, o que seria deste país sem as cavalgaduras a passear de bicicleta por cima dos passeios, ou a circular nos velocípedes em ruas de sentido proibido, o que seria deste país sem os contentores de lixo reduzidos a cinzas pelas cavalgaduras que não apagam as brasas e ao invés de as meterem no ânus para ficarem quentinhos por dentro, as colocam nos contentores do lixo que depois ardem e que nós todos pagamos.

A Cavalgadura, conduz a sua carripana, a toda a velocidade, ultrapassa pela esquerda ou pela direita, nem as procelas ou as névoas a fazem abrandar a marcha, a Cavalgadura não se detém por nada, insulta quem anda mais devagar, buzina, acende as luzes, solta impropérios e acelera, de quando em vez a Cavalgadura, marra de encontro a uma árvore e morre, outras vezes, infelizmente, ceifa a vida de inocentes na sua louca corrida. Os passeios nada dizem à Cavalgadura, ao invés de servirem para os peões, os passeios são meras extensões da estrada que servem para a Cavalgadura estacionar, para ir comprar o papo-seco, quem vier de carrinho de bebé, de muletas, de cadeira de roda, ou quem queira pura e simplesmente usufruir sem preocupação de uma caminha num passeio que se lixe, a Cavalgadura é rei e senhor, isto com o beneplácito e a lassidão das autoridades e dos seus representantes.

A Cavalgadura estaciona à frente de garagens ou portas das casas, estaciona em lugares para deficientes e em todo e qualquer sítio, a Cavalgadura tem uma máxima, pela qual rege toda a sua vida, “Primeiro Eu, depois Eu outra vez.” A esta máxima junta o bom senso de um gnu da savana, o gnu como todos sabem é dos animais mais inteligentes do universo.

A Cavalgadura, abre a janela da carripana para deitar lixo para a estrada, cuspir escarros verdes e soltar ranhocas, quando apeada a Cavalgadura exibe o mesmo comportamento porcino, quando dá o aperto na bexiga, a Cavalgadura micta onde calha, mesmo quando existe um urinol próximo, ombreiras das casas, entradas de prédios, caixas de electricidade, caixas Multibanco, árvores, atrás dos contentores do lixo e dos ecopontos, enfim qualquer sítio serve, para alívio da Cavalgadura.

A Cavalgadura, fala aos berros, entra num comboio, num autocarro ou numa repartição pública e toda a gente sabe que ela entrou tal é o berreiro que faz, e se por infeliz acaso recebe uma chamada no telemóvel, aí sim a Cavalgadura faz ouvir alto e bom som a sua edificante voz de Cavalgadura, incomodando toda a gente. A Cavalgadura não sabe ler, finge que sabe, pois nunca lê as informações que estão nos locais de acesso público, depois com o ar mais inocente do mundo diz – Ah desculpe não sabia!

A Cavalgadura, chega sempre atrasada, ao teatro, ao cinema, à escola, bem a todo o lado, assim tem mais hipótese de chatear quem chega a horas, além disso deixa o telefone ligado para que lhe possam ligar, e o agradável som polifónico, pois claro, de uma qualquer músiqueta irritante e estapafúrdia, invada os tímpanos de quem só quer estar em silêncio.

A Cavalgadura berra a qualquer hora do dia ou da noite, o sossego e paz de espírito alheios nada dizem à Cavalgadura, a música lá em casa é sempre em altos brados e os berbequins podem ser ligados à uma ou duas da manhã, sem problema, apitar o carro é a qualquer hora, berrar na rua também, quem não quiser ouvir, tape as orelhas.

A Cavalgadura, tem-se por ser esperta, para ela as bichas para o que quer que seja servem para exercitar a sua esperteza, tentando papar uns lugares, ser atendido primeiro, aliás a Cavalgadura é a única que tem pressa, que trabalha e que tem obrigações a cumprir.

A Cavalgadura adora animais, em especial cães, e é ver o desvelo com que a Cavalgadura trata o rafeiro, passeando alegremente pelos jardins, passeios e ruas de Portugal, conspurcando com grossas poias todos esses locais, enchendo de mijadelas as jantes dos carros dos vizinhos, as entradas das casas e enchendo de merda os passeios, é uma alegria.

A Cavalgadura é de todas as cores, sendo porém de notar que, existem Cavalgaduras que por serem de uma ou de outra suposta etnia ou classe profissional, fazem da arte de ser Cavalgadura uma arte superior, são uma espécie de versão de luxo da Cavalgadurice, selvagens, incivilizados, ladrões, sanguessugas, boçais e estúpidos, mas como são Cavalgaduras minoritárias, são o supra sumo da Cavalgadura, vivem acima da Lei da Nação, regem-se por leis próprias, são uma espécie de pequenos estados dentro do estado da cavalgadurice.

Em resumo a Cavalgadura vai de vento em popa, sosseguem todas as vozes da brigada do reumático de Belém, que se cale Baco e Zeus do trovão ardente, e vós oh musas dos antigos, preclaras anunciadoras das artes e virtudes, lavrem novas loas às Tágides do Tejo, coitadas com as carradas de merdum que o rio tem devem estar lindas, porque no horizonte desponta a Cavalgadura Lusitana, que dará brados ao mundo, tão latos que nem o fero Boreas a fará fracassar.

Poderíamos ter trocado o título por «Cavalgadura Almeirinense», mas não seria justo, dado que as Cavalgaduras de Almeirim, essa corja de labregos, por muito cavalgaduras que sejam e de facto são muito competentes na sua cavalgadurice, não são as únicas, a cavalgadurice é um apanágio nacional, sendo que existem sítios onde o desempenho é particularmente bom, daí termos optado pela nacionalização da cavalgadurice, que é de todos nós.

Francisco Pereira

 

 

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