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Memórias (19)

08-05-2015 - Henrique Pratas

Logo após o 25 de abril na Escola Comercial Veiga Beirão, como em outros lugares chegou a hora dos saneamentos e nós como tínhamos professores inqualificáveis, quer enquanto pessoas, quer como pessoas, um belo dia fechamos os portões da Escola, ficámos com a chave e vá de ir para o ginásio fazer um Plenário onde apenas se discutia se os professores visados saiam pela porta ou pela janela, ao tempo já havia colegas meus que eram filiados em partidos políticos, mas no caso vertente todos estavam de acordo que os professores devessem sair pela janela, eu enquanto aluno da escola e “chefe” de turma e já com as minhas posições politicas assumidas, fui à sala dos professores e vi alguns a chorar com medo e outros todos borrados, pois não sabiam o que lhes ia calhar em sorte.

Voltei ao ginásio subi ao palanque usei da palavra serenei a rapaziada e abordei a questão como eu achava que devia ser tratada com elegância e de forma superior. Expliquei as minhas razões e disse-lhes, “ acho que não devemos trata-los como eles nos trataram até ao dia de hoje, vamos fazer a lista dos professores que não queremos mais na escola e vamos-lhe deixá-los sair pela porta por onde entraram sem que ninguém usasse de qualquer tipo de violência” e assim foi, foram elencados os nomes dirigi-me à sala onde estavam os professores fechados à chave, entrei e li os nomes dos professores e disse-lhes que tinham uma hora para abandonar a Escola, alguns agarram-se a mim a chorar tal era o medo que tinham de vir a sofrer violência por parte dos meus companheiros, eles sabiam muito bem o que tinham feito e foi desta forma que foram afastados alguns professores pouco dignos desse nome da minha Escola Comercial Veiga Beirão.

Vou partilhar convosco as minhas dúvidas relativamente a este caso, algumas vezes interrogo-me se fiz bem em ter procedido como procedi e isto só acontece agora no actual regime de “governança” porque estamos a passar, mas é só em determinados momentos, porque nunca tive dúvidas quanto ao procedimento a tomar, acabávamos de sair de uma ditadura queríamos implantar uma democracia de pleno direito e entendia que não devíamos tomar as mesmas atitudes que tomaram connosco.Mas……….

A minha situação militar ainda não se encontrava resolvida, pois tive que continuar a pedir adiamentos, entrei para a Economia, curso que sempre quis fazer desde pequeno no ano de 1977 e posso-vos dizer que até ao 3.º ano praticamente não estudei, porque os conhecimentos adquiridos no Curso Comercial davam esse conforto de não ter que estudar, dado que muita da matéria que foi dada tinha sustentação na Faculdade.

Para quem vinha do Liceu na altura é que era pior porque não tiveram contabilidade, nem Cálculo Comercial e outras cadeiras para as quais não estavam devidamente preparados, o Liceu sempre foi mais generalista em termos de conteúdos académicos.

O curso tinha a duração de 5 anos e era a doer, com os conhecimentos adquiridos dei muitas explicações aos meus colegas, passei horas no anfiteatro a explicar-lhes Contabilidade e Cálculo Comercial, mas como gosto de partilhar conhecimentos não me importava rigorosamente nada, recordo-me até de um episódio à cadeira de Introdução ao Estudo da Empresa, tinha uma colega que não “pescava” nada de nada, como eu acredito nas minhas capacidades e apesar de o professor da cadeira já lhe ter dado a entender que ela não iria passar à cadeira, apostei comigo próprio que tal não ia acontecer.

Para o efeito comecei a explicar-lhe a matéria o melhor que sabia e arranjei a melhor forma para que ela entendesse os conteúdos académicos, foi de tal maneira que no dia em que ela ia fazer prova oral da cadeira por volta das 20 horas, passei o dia até umas horas antes a explicar-lhe e questioná-la sobre a matéria que iria ser confrontada. Eu tinha a consideração do professor porque ao tempo eu sabia a matéria toda e quando ele colocava questões, respondia de forma pronta, rápida e certeira.

Com o esforço que fiz para explicar à minha colega a matéria da cadeira já referida e como tinha apostado comigo próprio que ela ia conseguir passar, fui até à exaustão, sequei, fiquei vazio mas consegui o meu objectivo.

No dia seguinte tinha eu prova oral com o mesmo professor e eu que até aí respondia de imediato a todas as questões que ele me colocava, nesse dia, como estava exausto, não acertava uma e ele com um sorriso de gozo disse-me vou-te dar 15 valores porque apesar de não teres respondido à maior parte das questões que te coloquei e eu sei que sabes e como conseguiste que a tua colega passasse à cadeira e me evitaste de a chumbar, levas esta nota por isto tudo. Quando ouvi aquelas palavras, nem queria acreditar, em bom rigor eu não deveria ter passado pois a prova oral correu-me bastante mal, mas como o professor para além de ser professor era uma pessoa e apercebeu-se do esforço que tinha feito pelos colegas, reconheceu esse facto e valorizou-o, o que me satisfez de forma inusitada, não esperava que ele estivesse atento a tudo.

Nesse mesmo ano apanhei uma “encomenda” a Politica Económica em que as aulas eram todas às 8 horas da manhã, para além disso que era o menos importante a bibliografia que nos dava era toda em inglês e todas as manhãs em que havia aulas aquela alminha mandava-nos fazer exercícios que vinham num livro em inglês e o pânico estava instalado na turma inteira, porque ninguém conseguia tirar positiva ao raio da cadeira, isto aconteceu no 1.º semestre, apesar de a cadeira ser anual, chegada a época de exames em abril ou maio o professor teve a distinta lata de dizer em plena aula que as provas orais iriam decorrer no edifício Bento de Jesus Caraça, no quinto andar, na Rua Miguel Lupi, muito próximo do Quelhas e quem tivesse menos de 8 valores poderia atirar-se da janela abaixo. Eu nunca gostei deste tipo de “gracinhas” e decidi vou-te fazer a “cama”. As provas orais começaram a realizar-se e as notas eram muito baixas variavam entre o 7 e o 8 só dois colegas tinham tirado 10 valores.

Ao tempo como eu fazia parte da Associação de Alunos, pedi para falar com Conselho Pedagógico expus a situação, mandatado pelos meus colegas todos e disse-lhes peremptoriamente, que não queríamos ter aquele professor no 2.º semestre sob pena de não pormos os pés nas aulas. O Francisco Pereiro de Moura e a Manuela Silva, ainda disseram que os estava a colocar numa posição difícil mas em retorqui-lhes que a nossa posição ainda era mais difícil porque queríamos fazer a cadeira, porque era mau começarmos no 2.º ano a deixar cadeiras para trás, a posição estava tomada e só esperávamos que nos resolvessem o problema como resolveram, no 2.º semestre da cadeira tivemos um outro professor que nos apanhou num estado lastimável com aversão à cadeira, entendeu com o que deparava e conseguiu dar a volta à situação recuperando a matéria do 1.º semestre no 2.º conseguindo que passássemos a gostar da matéria.

É cero que com o meu feitio, nunca mas nunca mais voltei a falar com o 1.º professor, quando passávamos um pelo outro eu nem as saudações lhe dava nunca gostei de gente petulante. Mais tarde vim a saber por portas e travessas que a personagem tinha comentado com o pai de uma colega minha de turma que eu era o único que tinha personalidade naquela turma e que gostava muito de mim, quando soube isto, não fiquei contente, mas não gosto de ser mal tratado, respondo à letra.

Ele ainda tentou reatar conversas/diálogos comigo mas para mim estava fechada não tolero a ninguém más educações, inconveniências ou humilhações, mas quanto mais eu não o queria ver mais vezes, por acaso, nós passávamos um pelo outro até ele ser afastado da Faculdade, mas da minha boca nem uma palavra, sorriso ou qualquer tipo de expressão, tenho mau feitio, não me tratem mal que a mal não conseguem nada de mim, só desprezo e ignoração, as pessoas deixam de existir, é por estas e por outras que os amigos que tenho contam-se por os dedos de uma mão, os conhecidos esses são muitos, mas só quando eu quero, o Povo diz e com razão “ quem não se sente não é filho de boa gente”, existe espaço par todos não é preciso andarem a fazer sacanices uns aos outros acabamos todos da mesma maneira, logo entendo que nos devemos tratar como pessoas que somos, com as nossas diferenças, com os nossos pontos em comum e com as nossas capacidades.

Henrique Pratas

 

 

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