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A Grécia, a Europa e a discussão política.

13-03-2015 - Eduardo Milheiro

Desde sempre fui um eurocéptico. Desde sempre tive presente que a União Europeia e fundamentalmente o Euro eram assuntos de grande importância para Alemanha e para todas as potências industriais da Europa, as que exportam bens de preços elevados para todo o mundo, sendo obviamente a Alemanha a mais interessada numa moeda europeia única e de cotação elevada.

No nosso caso e no grego, não somos países industrializados e exportamos muito pouco, somos mais dependentes das importações, daí o interesse no euro ser relativo, uma vez que temos sempre, ambos os países, que equilibrar a balança de pagamentos com o exterior.

A intervenção da Troika em Portugal e na Grécia conduziu os dois países à pobreza, pois quando vimos que temos cerca de 1 milhão de desempregados (oficialmente 308 porque não contam quem não recebe subsídio de desemprego, os que estão nos estágios e os que imigraram) e cerca de 2 milhões no limiar da pobreza, isto significa que gente que trabalha não ganha para comer.

O caso da Grécia e a vitória do Siryza abanaram a Europa, introduzindo, no mínimo, a discussão política que tinha já há muito abandonado o espaço europeu. Este estava e está transformado numa teia de tecnocratas neoliberais, que por mais planos que façam para os países em dificuldades, a receita é sempre a mesma: austeridade, despedimentos e falências, um serviço de dívida que não se vai conseguir pagar nem amortizar sem recorrer a mais empréstimos dos mercados. Alguém acredita que conseguimos crescer entre 4 e 5 por cento ao ano? Nem pensar. As melhores previsões são de 1,9 por cento, o que significa que a solução está longe de ser encontrada e a dívida crescendo até rebentar.

Isto vem a propósito de alguma gente dizer que não podemos ser caloteiros e que temos de pagar. É verdade, mas não chega dizer isto, é preciso apresentar soluções e sem renegociação da dívida e das taxas de juro nada feito, caminhamos para o abismo.

A Grécia e a vitória do Syriza deu a oportunidade aos países aflitos da zona euro de procurarem a solução em conjunto, mas a mediocridade e as falsas ilusões são mais fortes que a realidade e a verdade é que, em vez de estarmos ao lado dos gregos, tornámo-nos seus opositores, acompanhados pelo governo espanhol do PP chefiado por Mariano Rajoy, os campeões da corrupção em Espanha.

Temos de encarar friamente o problema: em primeiro lugar renegociar a dívida, se não resultar, num segundo tempo, renegociar uma saída pacífica do euro.

Temos de saber quanto nos pode custar qualquer uma das medidas, mas para isso é que existem economistas sérios que podem fazer esse estudo, não podemos é ser “peões de brega” da Alemanha, temos de tomar o nosso destino nas nossas mãos e deixar de lado a conversa que não somos caloteiros, só não seremos caloteiros se fizermos o Eurogrupo e a EU mudar de política. É por isto que a Vitória do Siryza introduziu a discussão política na Europa, inclusivamente o Ministro das Finanças grego já afirmou que se for necessário, a Grécia fará um referendo sobre a saída do euro.

Tudo o que os partidos políticos prometam para um Portugal melhor, sem equacionar a renegociação dos juros e da dívida ou a saída do euro, não vão conseguir realizar nem fazer nada para melhorar a vida dos portugueses. Se o dinheiro para investir na economia não chega para pagar os juros, como vamos fazer isto? É simples, não vamos. Mais uns tempos e lá estaremos nós a pedir mais um plano de resgate.

Além disso, numa fase estruturada de arranque das economias dos países em crise, não podemos continuar a ter um Tratado Orçamental que nos impede de o fazer, daí o ser necessário também a sua revisão, pois claramente é um entrave ao nosso desenvolvimento.

Deixem de fazer críticas de ânimo leve aos gregos, gastaram dinheiro de qualquer maneira? E cá? Não vêm, quando vão nas auto-estradas, os carros de topo de gama que passam e as casas na terra, em Lisboa e no Algarve? Isto de julgar a casa dos outros e esquecermos a nossa tem gaitas, mas é preciso não esquecer que quem nos transformou num mercado de consumo foi a Europa, acabando com a nossa agricultura, com as nossas pescas e com algumas indústrias - é que assim ganharam mercado para os produtos deles e foi-lhes dando resultados, até que o dinheiro acabou.

Temos de encontrar soluções sem demagogias e sem frases feitas ou de retórica, num sentido de verdade e honestidade política, dizendo aos portugueses o que tem de ser feito, sem ter medo do que daí possa advir.

Eduardo Milheiro

 

 

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