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Pais e Filhos

07-11-2014 - Henrique Pratas

Vou arriscar e fazer uma incursão sobre este tema, não pretendo criar nenhuma teoria, muito menos escrever o que é certo ou o que é errado pretendo apenas narrar-vos factos.

Assim e começando pelo princípio todos nós um dia quando casamos ou encontramos a parceira certa para nos acompanhar na vida e em tudo o que ela encerra, uma das coisas que pensamos é em ter filhos. Não estou a pensar em nada que seja demonstrativo de nada o ser humano é assim, ponto, como diria o meu amigo João Andrade e Silva.

Só que isto de ter filhos não deveria ser uma decisão tomada de ânimo leve, para quem sabe estar e ser é uma responsabilidade assumida, que dá água pela barba.

Para não ir mais longe irei escrever-lhes sobre o que fiz quando tomámos essa decisão, sim porque isto não é uma decisão tomada apenas por um, para ser bem-sucedida tem que ser tomada a dois dado que no processo reprodutivo estão envolvidas duas pessoas.

Não sendo marcada hora, data, dia para o efeito as coisas aconteceram normalmente como em todos os casais, quando se teve conhecimento da situação real já que era esperada foi um momento de alegria ímpar, daí para a frente alteraram-se rotinas, procedimentos, porque o objetivo era que a criança nascesse bem e em perfeitas condições e a mãe tivesse a menor dor possível.

Como há muito tempo defendo que mulheres e homens têm direitos e obrigações iguais e como nós homens não temos a capacidade para engravidar, fiz tudo o que estava ao meu alcance para que o “avanço” que as mães têm de pelo menos 9 meses em relação à criança que irá nascer não fosse tão acentuado. Não me recordo de ter faltado a nenhuma consulta de rotina ou de acompanhamento se quiserem com o obstetra, porque queria estar a par de tudo e ajudar no que fosse possível, não que me tivesse sido imposto, mas porque os meus princípios me diziam que era assim que devia de ser.

O período de gestação correu normalmente ocorrendo aqui e acolá alguns acidentes de percurso, mas em síntese correu tudo bem. Há esqueci-me de vos contar que me preparei para o parto, quero dizer acompanhei a mãe da criança na ginástica de parto, no processo de aprendizagem de saber respirar e controlar a respiração, porque pensava eu que iria assistir ao parto.

Chegado o dia de uma consulta mais perto da oclusão do parto lá fui como habitualmente, recordo-me bem do facto porque coincidiu com o encerramento da campanha à Presidência da República de militar, apoiado pelo atual Presidente da República na altura Primeiro-Ministro que já nessa altura ambicionava ter uma maioria e um Presidente, estávamos em 1986. Voltando ao que me leva a escrever estas linhas, na consulta ao final da tarde fomos informados que a criança, agora já vos posso escrever a rapariga estava devidamente encaixada para poder nascer mas havia um pequeno senão é que tinha um dos braços junto à cabeça e o médico profissional como era e é quando fez o toque sentiu que era esta a posição mas não tinha a certeza, mas como era médico em Santa Maria, disse-me as coisas com muita calma e pediu-me que fosse com a mãe para fazer um RX, para ver em que posição é que se encontrava a rapariga, para poder tomar as devidas providências. Disse-me que não era um caso de urgência para não ir a acelerar mas eu quando ouvi o pré-diagnóstico abanei e comecei a fazer filmes como é meu hábito. Bem lá fizemos o que tínhamos a fazer com as demoras normais nestas situações e quando tivemos o RX na mão voltámos de novo à Clinica de São Miguel, local onde o médico dava consulta e a criança iria nascer muito a contragosto do seu pediatra, que não gostava nada da clinica, bem mas isso são outras histórias, não fugindo ao motivo pelo qual vos escrevo este texto, o obstetra quando viu o RX, riu-se e eu pensei para comigo que já estava em sofrimento este gajo está a gozar comigo mas não disse nada, porque já o conhecia e sabia que ele era um bem-disposto e foi uma forma de nos tranquilizar. Explicou-me tudo à posteriori, informou-nos que estava tudo normal que a rapariga estava encaixada para poder nascer mas quando lhe fez o toque tinha sentido que lhe tinha tocado na mão que estava junto à cabeça e que lhe tinha apertado os dedos, par ver se ela reagia ao estimulo que lhe tinha sido dado e encolhia o braço, porque sair de cabeça e com o braço não era possível e ter-se-ia que realizar uma cesariana.

Tudo explicado e entendido disse-nos que voltássemos dois dias depois porque a rapariga iria nascer, estávamos a 26 de janeiro de 1986 eu como sou muito forte nestas coisas perguntei ao médico se a mãe não podia ficar lá já, porque eu já estava desorientado de todo, ele respondeu-me que não, que fosse para casa normalmente e que na data combinada nos queria lá. Tudo bem mais 2 dias que pareceram uma eternidade e a qualquer sintoma ou um pequeno ai lá estava eu sem saber o que fazer.

Bem os 2 dias passaram e fomos de novo à Clinica, acompanhados já de todos os apetrechos para ficarmos, a consulta era às 16 horas mas eu às 13 horas já lá estava, tal era o medo que acontecesse algo que não controlasse.

O médico viu a mãe, mandou-a subir para os quartos, pois iria entrar em trabalho de parto, eu que estava convencido que iria ajudar a mãe, só compliquei, fiquei branco como a cal da parede, doía-me tudo os rins, os cabelos tudo mesmo sabem, O médico veio ao quarto e com o seu ar brincalhão olhou par mim e disse-me era você que queria assistir ao parto nem pense nisso eu tenho é que tomar conta da mãe e não de si, tal era o estado em que me encontrava.

A rapariga nasceu correu tudo bem, até que chegou o dia para ir para casa, enquanto elas estiveram na Clinica eu trabalhava, quando foram para casa tirei 15 dias de férias, pois queria que a mãe descansasse e se recompusesse bem e em condições.

Chegados a casa tratei de tudo dava-lhe banho à rapariga, mudava-lhe as fraldas tudo sabem, até que um belo dia vou dar com a mãe a chorar na cama, ai como é meu hábito perguntei o que se passa resposta imediata tu agora só gostas da filha e já não gostas de mim, como as mulheres ficam muito sensíveis no pós parto de imediato lhe disse não seja por causa disso toma lá a rapariga e depositei-lha no colo, o que a acalmou. Provavelmente eu exagerei porque não queria que a mãe fizesse qualquer tipo de esforço para se restabelecer em condições. Ultrapassados estes episódios e outros e centrando-me outra vez no tema deste meu texto, PAIS e FILHOS, o meu pensamento sempre foi quando tivesse um filho seria eu em conjunto com a mãe que o educaríamos e assim foi, nunca me demiti da minha função de pai, sempre lhes incuti os valores que absorvi de meus pais e avós, não queria mentiras e responsabilizá-los, desde muito cedo isso aconteceu, sou muito determinado nos meus objetivos e faço tudo para que eles sejam alcançados, quando escrevo tudo é mesmo tudo.

Como tive uma infância feliz, cheia de afetos e de ensinamentos dos que me rodeavam, pais, avós e amigos de ambos, cresci de uma forma sustentada e bem alicerçada em valores e princípios, acho eu. Fiz a mesma coisa com os meus filhos, porque achava que era isso o que era certo, tinha-me dado bem e não equacionei outra forma de o fazer e acho que o fiz o correto.

Tudo isto para vos escrever que não entendo como é que existem pais que não têm tempo para os filhos e filhos que não têm tempo para os pais, ou como muitos dizem os nossos filhos só precisam de nós quando são pequenos para os embalar e quando são grandes para lhes dar dinheiro.

A frase que lhes acabo de escrever é real e observável na nossa sociedade quantos casos nós conhecemos que os filhos não desgrudam de casa dos pais enquanto estes têm dinheiro, ou só os visitam quando precisam do vil metal, assim como há pais que pouco se preocupam com a educação dos filhos, demitem-se da função de pais.

O Estado em que vivemos contribui em muito para esta situação, porque não se preocupa, como me dizia um amigo meu de seu nome Matos Serra em conversa, que deveria existir em termos curriculares na fase do primário uma unidade de ÉTICA e do que é viver em sociedade, porque é nesta fase que as crianças se formam ou aprendem e interiorizam determinados valores, hábitos de trabalho ou muito dificilmente lá vão.

Ora num País em que precisamos de cidadãos de corpo inteiro, bem formados, íntegros, inteligentes, sabendo ser e estar não entendo porque esta causa não é assumida pelo ESTADO, esta deveria ser uma das suas principais FUNÇÕES, para sairmos desta desgraça em que caímos, mas já se deveria ter começado há muitos anos atrás e como não o fizemos está à vista o resultado.

Lisboa, 31 de outubro de 2014

Henrique Pratas

 

 

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