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Uma triste labreguice

23-08-2024 - Francisco Pereira

Hoje para não vos maçar em demasia, muitos de vós estarão ainda em gozo das merecidas férias estivais ocupados a rilhar conquilhas, optei pois por um assunto ligeiro, quase cor-de-rosa, um tema “faitsdivers”, fiz essa opção mais porque eu sou um gajo chato que dá importância a minudências patetas, não me coibi portanto de escrever umas linhas, sobre aquilo que acredito ser mais um exemplo da enorme praga de labreguice e analfabetismo funcional que assola este pobre país, além de, mais seriamente configurar um grande eveladoperigo, que mais tarde ou mais cedo porá as nossas liberdades individuais em causa.

Portugal está, há muito, assolado por uma praga, a que ninguém parece conseguir por cobro, uma praga quase bíblica, dirão os crentes, felizmente não possuo essa capacidade da crendice e as “benzilhices” dão-me urticária, mas adiante, praga essa que se propaga pelos múltiplos ecrãs televisivos dos canais generalistas, espalhados por todas as pastelarias, cafés, consultórios, tascas e lares e o mais que se queira, surge, a dita praga, desde logo configuradapor todos os programelhos medíocres damais rafeira qualidade que servem para entreter, ensandecer e distrair hordas dos pobres reformados mal pagos entre outros grupos de basbaques ocasionais, esse tipo de programação, cingia-se antigamente apenas ao horário matinal, entretanto mercê seguramente dos algoritmos modernaços que determinam as estatísticas das audiências desse tipo de telelixo, sem prejuízo de a espaços até aparecerem por ali assuntos com interesse, aquilo,qual vírus venenoso e infeccioso, saltou dos horários da manhã para o horário da tarde e depois para o fim-de-semana, que há alguns anos era o último reduto, onde calmamente ainda podíamos assistir a alguns programas decentes, até esses dois dias sagrados foram contaminados por esse tipo de lixo televisivo.

E se trouxe esse tema dos programas imbecis, é porque foi num desses programas destinados a débeis mentais, que ouvi há uns bons tempos uma alimária, que se diz um grande cultor da língua portuguesa, proferir esta pérola da mais pura imbecilidade labrega, a propósito de se despedir de alguém disse essa personagem, e vou citar mais ou menos de cor “…é um gosto, porque prazer é outra coisa…”.

Recordo-me que na altura me fartei de rir com a diatribe daquela avantesma patética, no entanto daí para cá o alcance da coisa foi estarrecedor, num curto espaço de tempo, a quantidade de imbecis labregos a dizer “é um gosto” foi tal que não restam dúvidas que estamos perante mais um caso de estupidez colectiva, um caso de labreguice patética apenas fundamentada pelo analfabetismo funcional de uma sociedade de neandertais travestidos de homo sapiens, assim foi começar a ouvir dizer, desde, aqui do “Zé da Boina”, até à jornalista do programa de notícias, da dondoca com aspirações a baronesa mas que é filha da porteira, passando inclusivamente até por alguns dos meus amigos, “é um gosto” quando as pessoas se despedem e querem dizer com toda a propriedade que tiveram efectivamente muito prazer em ver e falar com a pessoa com quem interagiram, aliás a coisa cala ainda mais fundo, um funcionário de um callcenter, confidenciou-me que no guião que lhes distribuem a palavra “prazer” foi substituída por “é um gosto”, isto meus caros é o cúmulo completo da taradice imbecil que nos domina.

E se trouxe aqui hoje este assunto, é pela assustadora perigosidade destes fenómenos, o tema em si é quase inócuo, qualquer pessoa minimamente culta e alfabetizada, não trocará a tradicional e correcta formula convencionada, “muito prazer” pela imbecilidade arrivista “é um gosto”, infelizmente “pessoas cultas e alfabetizadas” são cada vez mais uma minoria, predominando as grandes massas semi analfabetas que pouco dadas ao civilizado acto de pensar embarcam em todas as modas, sejam elas verdadeiras ou não, e isso meus caros é verdadeiramente assustador, o poder, de replicação de inverdades e ou de imbecilidades que estes média possuem, é verdadeiramente assustador, esta capacidade de torcer e retorcer a verdade, se usada por agendas perigosas, configura um enorme problema, ademais sabendo nós quão intelectual e culturalmente frágeis são as sociedades modernas.

Para finalizar até porque já vai longa a arenga e vocês querem ir para a praia, a ver se topam com o senhor das bolas de Berlim, é pá tou fã das de alfarroba, era um resistente, mas este ano converti-me, os meus diabetes até cantaram, música sacra pressuponho, mas voltando ao tema que estou a divagar, para além da perfeita imbecilidade labrega, o que fica deste infausto episódio é um risível exemplo do perigo bem real que os média representam. Para acabar, uma história, há uns tempos encontrei umas pessoas amigas, uma delas com quem tenho muita confiança e à vontade, despede-se de mim com a odiada fórmula labrega, eu olho para trás e replico “…é pá, cuidado com o que metes na boca…” o outro olha para mim assarapantado dizendo –“ …como assim!” – é isso mesmo, gosto é paladar, e para isso tens de meter algo na boca, por isso tem cuidado, demos os dois uma grande gargalhada.

P.S. – A palavra “gosto 1” na sua acepção primeira tem efectivamente que ver com o paladar, no entanto de forma figurada e mais utilizada no linguajar oral tornou-se também sinónimo da palavra “prazer 2”, se quiserem consultar os significados de ambas as palavras deixo-vos as ligações para o excelente dicionário online da Porto Editora

Francisco Pereira

1 https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/gosto

2 https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/prazer

 

 

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