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ESTÁ UM CÁ UM AMBIENTE!

29-03-2024 - Francisco Pereira

Portugal, há muito que perdeu algo que sempre considerei importante, “o respeito pela Natureza”, muito daquilo que há singelos 40 anos ainda nos distinguia dos restantes países desta coisa chamada União Europeia, era ainda possuirmos muitos habitats naturais relativamente preservados, biodiversidade quer na fauna quer na flora, ainda que obviamente muitos desse habitats fossem produto de milhares de anos de manipulação humana, infelizmente não aproveitámos essa importante diferença. Por essa altura ainda possuíamos rios relativamente saudáveis, sapais, paúis mais importantes áreas alagadas bem como as ainda mais importantes dunas, as três primeiras são extraordinários fixadores de carbono enquanto que as dunas naturalmente protegiam as zonas costeiras.

Infelizmente, nestes últimos 40 anos conseguimos escaqueirar quase tudo. Mercê de politiqueiros medíocres e vendidos aos interesses mafiosos, com os quais muitos lucraram, Portugal chega a 2024, com imensos problemas ambientais, tão ou mais graves do que aqueles de países infinitamente mais industrializados. A zona costeira ameaçada, com grande perdas de território dunar, cito apenas os exemplos de São Bartolomeu do Mar em Esposende, Ovar ou a Fuzeta no Algarve, apenas três exemplos de uma muito mais grave situação que a nossa costa enfrenta, e não, não culpem apenas as alterações ambientais que qualquer pessoa com dois neurónios funcionais já percebeu que estão aí, culpem em grande parte a falta completa de “respeito pela Natureza”, revelada pelos politiqueiros que têm tido assento nas cadeiras do Poder, a sua cedência, muitas vezes bem paga, muito bem paga, à cupidez de empresários sem escrúpulos que ainda não cimentaram a costa toda de lés a lés, porque devem existir locais que não o permitem.

Mas são apenas as zonas costeiras que estão ameaçadas, veja-se a trapalhada que rodeia a construção do novo aeroporto de Lisboa, a biodiversidade está igualmente ameaçada, com perda de espécies, segundo o Livro Vermelho 1 das espécies ameaçadas, à data da saída desse documento em 2023 no total Portugal possuía 27 espécies ameaçadas de extinção, na maioria dos casos por causa da perda de habitats, engolidos pela voracidade da construção desenfreada e da agricultura intensiva.

Curiosamente decorrente dessa mesma agricultura intensiva, da perda de habitats, da péssima e quase inexistente política florestal, apesar de em Portugal existirem mais de 1000 espécies 2 de insetos polinizadores, entre abelhas, abelhões, vespas, moscas, borboletas e escaravelhos, muitas destas espécies estão criticamente ameaçadas, seria pois tempo de nos preocuparmos com seriedade sobre esta questão, pois sem polinizadores não existirão plantas e sem estas restará apenas a fome.

As plantas, elemento essencial para um habitat equilibrado, enfrentam enormes problemas, as plantas são seres vivos produto de 400 milhões de anos de evolução, as alterações climáticas que muita gente nega, trazem cada vez mais e maiores períodos de seca, estes períodos de seca fazem perigar as plantas expondo-as a inusitados períodos de stress hídrico, que fará com que as plantas apresentem claras reduções de produtividade, bem como um quadro de patologias mais complicado, como aquele que neste momento pressiona por exemplo os sobreiros e as oliveiras, apenas para citar dois dos muitos exemplos, a seca prolongada alavancada pelas altas temperaturas geradas por ondas de calor cada vez mais frequentes e mais prolongadas, são elementos essenciais fomentadores de incêndios devastadores que dispositivo algum, por mais musculado que seja, por mais homens e meios tenha, poderá deter. Era necessário um bom senso político, que infelizmente parece não existir, para salvar as florestas nacionais, florestas essas que necessitam de ser redesenhadas, é urgente a protecção das espécies autóctones e o consequente combate às espécies invasoras exóticas, é igualmente da maior importância fixar matéria orgânica nos solos, sob pena de termos solos de má qualidade, precisamos ainda mais de uma política de solos e da sua protecção, para que os decisores saibam o que podem deixar plantar e ou cultivar em cada pedaço do território nacional.

A par de tudo o que foi anteriormente dito, é necessária uma política concertada para a água, para defesa dos cursos de água, de todos os cursos de água, uma política que infelizmente não existe, mais uma vez o que existe são retalhos legislativos donde resulta mais uma grande salgalhada, tipicamente portuguesa onde ninguém se entende. Segundo um relatório de 2023 3, 27% da água que entra nas redes de abastecimento é desperdiçada por causa de roturas, avarias e desvios. Os municípios são quem mais água desperdiça devido à falta de investimento nas redes de distribuição, o pior resultado nacional de perdas chega aos 84,6%, ainda de acordo com os dados da ERSAR “existem 39 entidades com desperdícios superiores a 50% e 15 onde a medição nem sequer é feita, o que revela um péssimo quadro na defesa de um bem absolutamente essencial para a vida. Uma conclusão mais que óbvia que nos tem sido demonstrada pela cada vez mais complexa realidade é de que as nossas cidades tem que ser desenhadas para produzir água e energia, sendo que as cidades actuais necessitam urgentemente de ser adaptadas para atingirem esses desígnios o quanto antes.

Em conclusão, o planeta está doente, muito doente, os sinais estão por todo o lado, infelizmente o ser humano ensimesmado no seu típico umbiguismo egocêntrico, está mais preocupados com politiqueirices imbecis, um problema que deveria ser de todos continua dividido entre esquerdas e direitas, a verdade é apenas uma, quando acontecer a catástrofe e acreditem que vai acontecer, tanto morrerão os da esquerda como os da direita, porque se ainda não perceberam, comecem a entender a Morte é totalmente democrática e Planeta Terra só temos este.

Francisco Pereira

1 https://livrovermelhodosmamiferos.pt/

2 https://www.cienciaviva.pt/aprenderforadasaladeaula/index.php?accao=show_obj&id_obj=1532

3 https://observador.pt/2024/03/01/servico-de-abastecimento-de-agua-perde-por-ano-184-milhoes-de-metros-cubicos/

 

 

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