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Consummatum est

15-03-2024 - Francisco Pereira

Hoje, dia em que escrevo estas parcas linhas é Terça-feira, passaram dois dias sobre o mais recente acto eleitoral, o que se passou nesse Domingo parece ter sido para muitos uma surpresa. Na realidade, não se passou nada que não fosse inteiramente previsível, a vitória da AD ou a subida do Chega, factos mais relevantes, foram sobejamente antecipados, pelo menos por todos os que não tenham andado distraídos.

No que concerne à AD, a vitória, foi realmente uma vitoriazinha, poucochinha, que deixa Montenegro no pau dos bois, como sói dizer-se, o homem fez pouco melhor que Rio, na realidade fez bem pior, Rio ao menos concorreu sozinho, Montenegro é um líder medíocre, sem carisma, falho de empatia, pode ser boa pessoa, politicamente é um pobre diabo que arruinou o PSD, que melhor teria feito, é minha convicção, se tivesse concorrido sozinho, ao ressuscitar aqueles cadáveres politiqueiros, CDS, essa estrutura anacrónica e bafienta, mais o PPM, estrutura ainda mais anacrónica e ainda mais bafienta, o que Montenegro fez, foi afastar muita gente que até votaria no PSD, mas não votou na AD, estou até convicto que se Sá Carneiro voltasse hoje à vida correria com aquela gentalha toda ao pontapé, o que acontecer à AD será apenas culpa do senhor Montenegro e dos seus estrategas, não poderão culpar mais ninguém. Na realidade a vitória da AD, foi na realidade a derrota do PSD, é por isso que lá pelas bandas do PSD está tudo a torcer para que Montenegro caia, para que então, o inefável Coelho, qual “sebastião” surja do nevoeiro para salvar a honra do convento, mais do mesmo, mais miserabilismo portanto.

O PS e o seu menino birrento, perderam. No entanto tendo em conta o desgaste do PS, com todas as trafulhices, intrujices e trapalhadas a que assistimos nos últimos oito anos, tendo em conta que o actual líder fez parte do governo, tendo inclusive estado no centro de algumas dessas trapalhadas, a derrota do PS até não é assim tão esmagadora como deveria e poderia ter sido, o PS perde por meros 51029 votos de diferença, ou seja perde por uma pequena margem de menos de uma décima, perde por 0,8%, facto que deveria fazer corar de vergonha o senhor Montenegro. De novo, a realidade é que o PS foi derrotado, não tanto como deveria ter sido, creio eu, mas aguardemos para ver o que aí vem.

Vamos aos vencedores, o Livre é claramente um vencedor, um pequeno partido que vive da figura carismática do seu líder, projecto político que duvido que sobreviva sem esse mesmo líder, mas isso é outra história, o Livre depois do tiro nos pés com a péssima escolha do senhora Joacine para deputada, parece agora ter reorientado o discurso e abandonado o radicalismo a cheirar a prepotência anti democrática da anterior escolha, é efectivamente um dos vencedores das eleições elegendo 4 deputados.

O grande vencedor porém, é o papão, o Chega entra no parlamento na próxima legislatura com quase meia centena de deputados (48), mais de um milhão de eleitores votaram no Chega, tornando o partido do senhor Ventura, que tal com o Livre, duvido que sobreviva sem o líder, numa força com a qual invariavelmente o senhor Montenegro terá de se entender se quiser ter algo que se assemelhe a uma governação estável, caso isso não aconteça, só a benevolência do PS salvará a AD, ou então o calculismo estratégico do Chega, que também poderá ir votando pontualmente alinhado com a AD, mas sempre com a ameaça velada de que lhe poderá em qualquer altura tirar o tapete.

Os restantes partidelhos, BE, IL, PAN conseguiram manter os seus estatutos de partidos periféricos mantendo os seus pequenos grupos parlamentares, apesar de BE e IL, terem falhado redondamente nos seus objectivos de crescimento que impuseram às suas candidaturas, o PAN ficou igualmente aquém daquilo que queria, mas assim é a Democracia. No que toca a outra aberração anacrónica bafienta a CDU, felizmente conheceu outra derrota é minha grande esperança, que numas próximas legislativas desapareçam efectivamente do panorama parlamentar português, pois não fazem lá falta alguma a par do CDS e do PPM.

Concluindo, o governo da AD, reacção patética de um PSD em implosão liderado por uma liderança fraca e desnorteada, será um governo a prazo, se tivesse que apostar diria que não duram 1 ano, espero porém a bem da estabilidade deste pardieiro mal frequentado a que ainda chamam Portugal, que a minha predição não se concretize, o PS vai fazer a sua travessia do deserto, o senhor Santos vai apaziguar as dissidências, apagar os fogos latentes dos “Costistas” e dos “Carneiristas” que podem fazer perigar os objectivos do chefe, que inclusivamente já enviou recados para dentro, mas atenção que Assis que não é santo nenhum vai estar de olho.

A Democracia, apesar da surpreendente baixa da abstenção, é a principal perdedora, em especial com a presença no parlamento de partidos como o CDS, o PPM, a CDU e o Chega, sem prejuízo de eu estar convicto de que o Chega é um saco de ar quente, porque confrontado com a realidade, restam-lhe duas opções, ou continua o discurso histérico e oco, que se esgotará e será redundante, ou então opta por uma posição em que imperará a moderação e sentido de Estado que lhe garanta uma maior fiabilidade e confiança, o que por incrível que pareça, tornará o Chega um partido realmente perigoso.

Resta falar de um outro grande perdedor, Sua Excelência o senhor Presidente da Republica, perde porque enquanto principal instigador e fomentador da situação que nos fez aqui chegar, cada vez que apareceu para tentar dar um ar da sua graça, mais valia ter ido nadar, porque meter água por meter água, mais vale ir fazê-lo no mar. A culpa do aparecimento de fenómenos como o Chega é da inteira responsabilidade dos bandalhos politiqueiros que ocuparam os governos, os parlamentos e as autarquias nas últimas quatro décadas, a culpa é deles, das suas trafulhices e bandalheiras, da impunidade que deixaram instalar neste país, a culpa é da sua imensa falta de cultura democrática e da sua cupidez, só a essa gentalha politiqueira medíocre e impostora se deve o surgimento de algo como o Chega.

Quanto ao resto, meus caros, nada de novo, vamos continuar a ser um pardieiro miserável, porque ao longo destes últimos 40 anos, se esqueceram de criar um país, é aliás interessante ver alguns desses patéticos vendilhões do país aparecerem nas televisões a dar receitas de governação, que excelentes poetas dariam se caladas as suas bocas estivessem. A verdade é que não temos dinheiro para ser um país, vivemos à 300 anos de esmolas e de mão estendida. Consummatum est, siga o baile.

Francisco Pereira

 

 

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