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Dinâmicas Políticas em Evolução: A Ascensão do Chega e o Futuro Incerto do Governo Português

16-02-2024 - Rui Santos

No cenário político, em constante evolução,do nosso país, a consolidação do Chega como terceira força política, reconfigurou as tradicionais dinâmicas de poder. Com uma forte presença nas preferências do eleitorado jovem, conseguiram transcender fronteiras ideológicas e conquistar apoio tanto nos eleitores tradicionalmente de direita, quanto nos de esquerda. Num momento em que o PSse debate para manter sua atratividade e o PSD enfrenta desafios de liderança, surge a pergunta: estarão os eleitores a abandonar a sua “lealdade partidária”, em prol de uma avaliação mais pragmática das capacidades e das propostas que se lhes apresentam?

A rápida ascensão do Chega, pode dever-se também à sua capacidade de se identificar com as necessidades e demandas de um conjunto diversificado de eleitorado. Conseguem superar o PS em comunicação, dado oseu líder carismático, que nas suas mensagens, com propostas claras, toca nas aspirações do eleitorado, completamente desiludido com o status quo. O que por si só já é um indicador da rutura que os cidadãos estão a fazer, com a dita lealdade partidária convencional. Fica a ideia, de que portugueses, são cada vez menos pelas siglas ou pelo simbolismo, mas sim pelas propostas e pela substância.

O romper com esta questão da lealdade partidária, é uma das novas dinâmicas que este partido vem trazer para o xadrez político nacional. Os portugueses sempre foram um povo, tradicionalmente avesso à mudança, de tal forma que mantinham a lealdade a partidos específicos ao longo de várias eleições, com base em afiliações ideológicas ou históricas. Contudo, o Chega desafiou essa norma, ao atrair e representar um conjunto de apoiantes que não se limitam às barreiras ideológicas tradicionais. Este movimento sugere uma mudança na mentalidade dos eleitores, que agora parecem mais focados na avaliação da substância das propostas políticas e o impacto destas nas suas vidas e no geral da sociedade, ao invés de seguirem um qualquer símbolo partidário.

Uma boa forma de entender o impacto do Chega em Portugal, é olhar para o distrito de Santarém que, historicamente à esquerda, viu este partido ganhar destaque, de tal modo que hoje disputa o primeiro lugar das intenções de votona região, o que reflete a sua capacidade de penetração em regiões historicamente associadas a outros espectros partidários. Os resultados eleitorais em Santarém indicam uma aceitação crescente do Chega entre os eleitores locais, o que sinaliza a mudança nas dinâmicas tradicionais de votação e que também é sentida a nível nacional.

No cenário político português, os dois gigantes, PS e PSD, encontram-se num momento delicado, enfrentam desafios significativos que refletem a transformação do eleitorado.

O PS, enfrenta um ceticismo crescente por parte dos eleitores, em grande parte devido à perda de credibilidade das promessas feitas pelo partido e pelo próprio líder recentemente eleito, o qual não deixou saudades no governo em que participou. Ao longo do tempo, o PS comprometeu-se com uma série de iniciativas e políticas que, na prática, acabaram por não se concretizar. O que não seria de estranhar, porque nem tudo o que se promete em campanha, se consegue concretizar, porém o tema é bem mais complexo que isso. Podemos ter como exemplo o caso das cativações na saúde, o recente caos das forças de segurança ou os atrasos nos pagamentos das ajudas aos agricultores. Esta desconexão entre as promessas e a sua implementação efetiva, acaba, como é obvio, por gerar uma sensação de desconfiança entre os eleitores, o que leva a que muitos questionem a sinceridade e a capacidade do partido,emhonraros seus compromissos eleitorais. Para não falar dos tais 78000€, que levaram à demissãodo Primeiro Ministro.

Por outro lado, o PSD (AD), embora lidere as sondagens por uma margem curta, enfrenta desafios internos que ameaçam a sua estabilidade. O partido debate-se com a liderança de uma figura que, apesar de estar à frente nas intenções de voto, é percebida como carente de carisma e de uma postura ideológica clara. Essa falta de definição pode contribuir para a indecisão dos eleitores, os quais poderão estar à procura de partidos e líderes com uma visão estratégica mais forte e mais clara.

Esta fragilidade dos dois principais partidos políticos portugueses, vem trazer a evidência da sua ineficácia. Os eleitores, muitos até fiéis a estas siglas durante vários anos, começam agora a questionar as normas e a darem vida a um novo paradigma político em Portugal. Onde a população se foca em encontrar uma alternativa política, que esteja mais alinhada com as suas aspirações e necessidades e que reflita a evolução da sociedade.

Esta desadequação dos grandes partidos, face às mudanças na sociedade, nomeadamente à forma como lidam com a economia, saúde e ensino, faz com que os eleitores explorem alternativas fora do espectro político convencional. Um pouco por todo o mundo, partidos emergentes, como o Chega, capitalizam essa insatisfação, e conquistam eleitores que procuram uma abordagem diferente e, muitas vezes, mais assertiva para os problemas do país.

Uma das principais características da forma de fazer política do chega, é a sua abertura ao diálogo com a sociedade, o que faz com que seja muito mais ágil e assertivo nas tomadas de decisão. Esta atitude, além de evidenciar um maior contacto com a população, cria também um vínculo entre ambas as partes e um compromisso genuíno com a resolução dos problemas enfrentados pelo país.

Embora os eleitores estejam descontentes, de uma forma geral, com o proceder dos maiores partidos do regime e que com isso procurem alternativas, a verdade é que também, de acordo com as estatísticas, não estão muito disponíveis para ter um governo de coligação e neste momento um governo que não seja em modelo de coligação, tem muito poucas probabilidades de sucesso. Ainda que o cenário de coligação seja o mais evidente, qualquer solução que venha a ver a luz do dia, será de gestão desafiante. Destaca-se a possível formação de uma aliança entre o PSD (AD) e o Chega, como uma alternativa viável. Esta potencial coligação, não apenas aponta para uma reconfiguração das tradicionais divisões ideológicas, mas também sugere uma abordagem pragmática para o governo do país, que transcende as linhas partidárias convencionais. Embora seja o cenário mais provável, ainda assim temos os líderes da AD a rejeitarem qualquer entendimento com o Chega, compreendo a sua tomada de posição, porém depois de 10 de Março, saberemos o desfecho, porque estas decisões não podem ser feitas por pessoas normais (para o bem ou para o mal, aprendi isto com AngelaMerkell) e os interesses do país deverão estar acima dos interesses partidários.

Um dos pontos fulcrais desta possível aliança, seria deixar em evidência a limitação das abordagens políticas convencionais, levadas a cabo pelo PSD e pelo CDS. Revelaria também a grande maturidade política do Chega, muitas vezes acusado de não a ter, à medida que os eleitores reconhecem a necessidade de pragmatismo na formulação de políticas e na tomada de decisões.

No entanto, é importante destacar que uma coligaçãoAD-Chega não está isenta de desafios. As diferenças ideológicas entre as várias forças políticas poderiam apresentar obstáculos significativos à implementação eficaz de políticas conjuntas. Além disso, a reação de partes do eleitorado a uma aliança aparentemente improvável pode gerar resistência.

Por outro lado, teríamos ainda dois cenários possíveis, embora menos prováveis. O primeiro, seria um governo minoritário da AD, que provavelmente teria a duração limitada pela aprovação do orçamento de estado de 2025 e um outro cenário, seria uma coligação AD-PS, um bloco central o qual não tenho forma de comentar...

Ao navegar por este terreno complexo, a chave está em reconhecer as dinâmicas mutáveis do comportamento do eleitor. O descontentamento coma classe política, leva a que o eleitorado, principalmente nas camadas mais jovens, assuma uma postura mais pragmática e de uma forma geral tenha uma inclinação mais para as políticas de direita, que de esquerda.

O cenário mais evidente será, a potencial coligação AD-Chega, que pode até representar uma rutura com as políticas tradicionais, muito graças à transferência de votos do PSD para o Chega, porém poderá ser uma resposta aquém das necessidades dos eleitores, ao ter em consideração as diferenças ideológicas evidentes. Num cenário destes, será necessária uma grande capacidade de negociação de parte a parte, com vista à governação responsável do nosso país, sem que os eleitores sintam o seu voto traído.

Qualquer outro cenário, não me parecerá viável e caso a AD se mostre inflexível, provavelmente estaremos em novo processo eleitoral ainda este ano. O que só virá a prejudicar os partidos com estratégias menos claras e fará com que os eleitores se polarizem. Com certeza, este cenário será bastante vantajoso para o Chega, que terá mais uma oportunidade de mostrar o seu crescimento exponencial, de eleição para eleição.

Em conclusão, o futuro político de Portugal, está envolto em incertezas. Temos os três principais partidos políticos separados por diferenças percentuais marginais, não se adivinha uma maioria e a governação só poderá ser através de coligações ou de entendimentos. Acordos e entendimentos, com forças políticas ideologicamente diferentes.

Neste contexto de divisão, o eleitorado irá priorizar o voto útil. Resta saber o que considerarão voto útil. No início deste artigo, mencionei que os portugueses, eram de certa forma avessos à mudança, mas será que querem continuar num ciclo de banca rota, após banca rota? Será que irão optar por um estado que limita o investimento, mantém os impostos elevados e corta seriamente na despesa? Ou irão optar pelo voto útil, num regime fiscal mais favorável ao investimento privado, numa justiça eficiente e num sistema de saúde capaz?

A mudança está nas mãos de todos nós.

Rui Santos

 

 

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