A ARTE DE BEM SE GOVERNAR
22-09-2023 - Francisco Pereira
Que o senhor Silva é um ressabiado, já se sabia. Que o senhor Silva é um egocêntrico presunçoso, também já se tinha dado por isso, agora que o senhor Silva parece não ter qualquer filtro que por modéstia, siso e ou decência o impeça de fazer declarações estúrdias ou de escrever “barbaridades” patetas, para depois juntar tudo isso num molho para lhe chamar um livro, enfiando o dito pela goela dos atarantados cidadãos nacionais, como se aquelas pasquinices medíocres, fossem doutas palavras de um sábio, disso ainda o não sabíamos capaz, apesar de naquela porcaria escrita a que chamou “Autobiografia Política”, já existissem indícios dessa tendência para o desvario demente.
Convém esclarecer o desavisado leitor que o senhor Silva, anda há uns módicos 43 anos, a lombrigar pelos corredores do Poder, em 1980 foi ministro das Finanças do VI Governo Constitucional chefiado por Francisco Sá Carneiro e Diogo Freitas do Amaral, cinco anos depois veio a farsa da rodagem do carro, tornando-se posteriormente presidente do PSD ganhando de seguida as eleições legislativas vindo a ocupar o cargo de Primeiro-ministro passando depois em 2005 a Presidente da República. O que o senhor Silva realmente quer é promover-se, imortalizar-se, criar um aura de heroicidade, de capacidade e decência, quer ser tudo aquilo que não é.
O senhor Silva quer à força promover-se, quer figurar como um grande da História, o seu egotismo desmesurado faz com que perca a noção do ridículo, o homem anda perdido, ainda não percebeu que jamais passará de uma nota de rodapé, apesar das quatro maiorias com que foi obsequiado pelos analfabetos funcionais que existem por cá, ainda hoje não consigo perceber como é que uma nulidade da grandeza do senhor Silva consegue ser eleito tantas vezes com maiorias absolutas, mesmo a imbecilidade congénita do povinho eleitor não é suficiente para explicar tal desgraça, foi mesmo um fenómeno e aí honra se faça ao homem que os conseguiu enrolar 4 vezes.
Mas passemos à História. O senhor Silva foi Primeiro ministro desde 1985 a 1995, uma década portanto. De positivo o reforço da integração de Portugal na Europa, ao tempo ainda apenas uma aliança económica, a Comunidade Económica Europeia (CEE), tendo até existido uma música dos GNR na sua formação inicial que dizia no refrão “Quero ver Portugal na CEE”, entretanto na segunda governação do senhor Silva entraram em vigor mudanças fiscais, como a introdução do IRS e do IRC, imposições da legislação europeia transpostas para a nossa ordenação jurídica para harmonizar a política fiscal comum.
O que mais me assombra no senhor Silva é a falta de vergonha, o senhor Silva foi o grande promotor das privatizações, ou seja foi o grande iniciador do desmembramento de sectores essenciais do tecido produtivo nacional, verdade seja dita que o modelo que iniciou foi seguido por todos os seus sucessores no cargo, foi o plantador mor de alcatrão e da política do betão, verdade seja dita que o seu consulado viu um grande crescimento económico, foi a década em que realmente nos sentimos europeus, apesar da sua política de salários miseráveis, apesar de esse crescimento ter sido conseguido grandemente à custa dos milhões que diariamente entravam nos cofres do Estado nesses anos, milhões que serviram, é verdade, para fazer o país avançar, não tanto como deveria e poderia ter avançado, infelizmente, todos esses milhões não criaram, como hoje se pode constatar, um país sustentável, o senhor Silva teve tudo na mão, e fez pouco, infelizmente fez muito pouco, e do pouco que fez, muito, foi profundamente mal feito.
Os casos são mais que muitos, no que à transparência concerne, por exemplo, o senhor Silva demonstrou uma falta de transparência atroz. Foi um dos presidentes "mais gastadores da Europa", como explicava o "Diário de Notícias" em 2011, a Presidência da República tinha um orçamento anual de 16 milhões de euros e cerca de 500 pessoas a trabalhar lá, num fartar vilanagem do típico “jobs for the boys”. A falta de transparência verificou-se também com as aquisições, durante uma década, se pesquisarmos o portal Base onde estão registados os contratos públicos, não existe um único ali registado respeitante a essa década em que o senhor Silva por ali vegetou, isto porque todas as aquisições foram sempre efectuadas recorrendo ao subterfúgio do ajuste directo e sem qualquer divulgação, num valor que o Tribunal de Contas acredita chegar aos 4,2 milhões de euros só em 2014, no que toca à transparência e à honestidade estamos conversados.
Mas ainda há mais, por exemplo, o senhor Silva terá pago apenas metade do IMI devido, respeitante à sua modesta casita de praia, durante 15 anos, isto porque os dados comunicados pelo senhor Silva às Finanças relativos à habitação não eram verdadeiros. Não espanta porém que o senhor Silva tenha declarado em Dezembro de 2010, numa outra barracada de que falaremos seguidamente que "para serem mais honestos do que eu, têm que nascer duas vezes", realmente o senhor Silva é a personificação da honestidade.
Para mim a cereja em cima do bolo, no que concerne às trapalhadas do senhor Silva, é sem dúvida, o BPN mais a SLN. Os governos do senhor Silva criaram uma das mais persistentes redes mafiosas de compadrio de que há memória. Não vou alumiar nomes, mas alguns deles continuam por aí pelas televisões a opinar, mais comummente a dizer baboseiras, mas vou recordar Deus Pinheiro, Duarte Lima ou Oliveira e Costa, mas há mais infelizmente muitos mais.
Com a SLN, o senhor Silva e a filha lucraram imenso com a venda das ações dessa Sociedade Lusa de Negócios, essas acções do senhor Silva e da filha, compradas a um preço mais baixo que aquele a que os accionistas compraram, foram posteriormente vendidas, por ordem do presidente da administração (Oliveira e Costa), à SLN Valor, principal accionista da SLN, onde se juntavam os maiores investidores individuais da empresa, entre eles o mesmo Oliveira e Costa, por um preço superior, essa venda, teve um lucro de 147,5 mil euros para o senhor Silva tendo a filha também lucrado com o mesmo tipo de ações cerca de 209 mil euros, se isto não é ser honesto não sei o que será a honestidade. Já agora a casinha de praia, aquela sobre a qual o senhor Silva sonegou informação às Finanças, fica “curiosamente” num “feudo” de antigos administradores da SLN.
Aliás o BPN, foi um banco, expoente máximo das trafulhices ligadas aos consulados do senhor Silva, não é à toa que o BPN ficou sobejamente conhecido como o banco do PSD, uma estância de encosto de ex-ministros e secretários de Estado e barões ligados ao PSD e ao senhor Silva, não quero com isto dizer que o senhor Silva participasse das maroscas, mas delas deveria ter algum conhecimento dado que, por exemplo, em determinada altura encerra a continha que detinha no BPN, de 23 de Novembro de 2008 a 14 de Dezembro de 2010 - já depois da nacionalização do banco -, a conta n.º 6196171 foi fechada e dela deixaram de constar os valores mobiliários de fundos de investimento que o senhor Silva e esposa detinham por via do BPN, mais um caso “curioso” portanto, um caso de excesso de honestidade talvez.
Mas não fica por aqui a coisa da honestidade, senão vejamos, a propósito do banco do amigo Salgado, o senhor Silva garantiu nos monitores das televisões nacionais, desta vez sem migalhas de bolo-rei a saírem-lhe da boca entaramelando o discurso, que "os portugueses podiam confiar no banco", infelizmente para muitos dos acreditaram na “honestidade” do senhor Silva meros 13 dias depois o BES caía com tal estrépito e estrondo que ainda hoje se ouve.
Para terminar, parece que o senhor Silva, na sua mais recente pasquice escrita, entre outras críticas mais ou menos acertadas, terá criticado o actual Primeiro-ministro escrevendo que “o PM deve evitar responder em público às críticas do PR”, curta é a memória do senhor Silva, pois enquanto foi Primeiro-ministro, respondeu várias vezes a críticas do então Presidente da República, mais uma vez o senhor Silva perdeu uma excelente oportunidade para estar calado, ou então querendo encher a boca, coma bolo-rei. Para mim o senhor Silva representa tudo do pior que o Portugal político contém, o senhor Silva é um péssimo exemplo de governante, um político medíocre e um governante igualmente medíocre. O senhor Silva devia ter vergonha, é das últimas pessoas a poder falar no tom arrogante com que fala, como se fosse um génio, coisa que bem sabemos não é.
Muita coisa fica aqui por escalpelizar, por exemplo, não directamente, mas dá que pensar, a venda do Pavilhão Atlântico ao genro do senhor Silva, ali mais uma vez com o dedo do amigo Salgado, o “buzinão” na ponte 25 de Abril e a carga policial, o refinamento da seita mafiosa dos “jobs for the boys” com a nomeação de cerca de 15 pessoas com ligações familiares aos seus ministros nomeadamente esposas dos ditos, a reforma de (dez mil Euros) brutos que não lhe chega para as despesas, esta última declaração, foi para mim a gota de água, para que eu sentisse doravante profundo asco, nojo e incómodo, sempre que esta criatura aparece nas televisões, confesso que não sou sequer capaz de o ouvir a debitar imbecilidades, ou mudo de canal ou tiro o som ao aparelho, termino com as palavras sábias, de homem que muito admiro o General Garcia dos Santos, instado a dar a sua opinião sobre o senhor Silva, numa entrevista dada ao Jornal Público em Agosto de 2023, disse o senhor General,“Não gosto desse homem nem pintado”, subscrevo.
Francisco Pereira
Bibliografia utilizada:
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