Os Dias do Armagedão
24-10-2014 - Eurico Henriques
A par da situação que vivemos no país há que se ter em conta o que é exterior. A permanência da austeridade financeira e social não constitui o único motivo de alarme e preocupação. Temos que estar atentos ao que nos chega de outras terras e regiões.
Hoje é assunto de notícia a colocação de professores para o presente ano letivo. Os erros e trapalhadas colocaram muita gente aos gritos, exigindo a saída do ministro. Como se isso resolvesse o problema que, no meu entender, deveria ser receita para todos os que lá estão.
Há uns tempos a esta parte escrevi as minhas impressões sobre a questão Palestina-Israel. Parece que é um problema afastado de nós, mas não é. Estou a lembrar-me dos problemas que tivemos à época do Sr. Marcelo, quando o governo não quis deixar os aviões americanos sobrevoar território português com armamento para Israel, à época da nova guerra que travava com os seus vizinhos. As ameaças do Sr. Nixon obrigaram à autorização. Em contra partida sofreu-se o boicote do petróleo, feito pelos produtores árabes.
Estávamos dentro do assunto. Ainda há pouco houve a nova série de horror, tipo Armagedão, bombardeamentos contra a Faixa de Gaza.
O que víamos diariamente deveria ser suficiente para fazer parar de imediato a atrocidade. Ninguém com poder ouviu ou sequer reparou nisso. Leio agora que o Sr. Ban Ki-Moon, secretário-geral da ONU, essa coisa que existe mas parece que não existe, a dizer que não tem “palavras para descrever esta destruição que vi”. Não tem? Quando as coisas chegaram a esse ponto estava onde? De certeza que não na casa de banho.
Vamos aos números que encontraram: do lado palestiniano mais de 20.000 casas destruídas, mais de 1.000 edifícios industriais, 4.200 lojas. A central elétrica danificada, para além de quilómetros de redes de água e esgotos. Tudo isto destruído em bombardeamentos aéreos pelas forças armadas de Israel. O Sr. Ban Ki-moon disse ainda que estava com um aperto no coração – tadinho do coração dele. Como ficaram os corações dos mais de 2.000 mortos pelas bombas? Acrescente-se que destes palestinianos 70% eram civis.
Agora o outro lado. O fabuloso Estado Islâmico – o que corta cabeças aos ocidentais e fuzila gente indefesa, violando e destruindo tudo à sua passagem. – está a avançar na Síria e no Iraque. Há uma coligação com o país mais poderoso da terra a bombardear os seus movimentos e instalações. Eles continuam a avançar. Com eles estarão mais de 12.000 aderentes vindos de outros países, sendo que a maioria veio de França e Inglaterra. Nestes países há liberdade de informação e de reunião. E outras liberdades mais.
Poderemos separar estas situações? Permitir a matança dos palestinianos, nada fazendo e, ao contrário, abominar os crimes dos islâmicos?
Estamos perante uma situação de gravidade extrema para os nossos países e para a nossa segurança.
Mas ninguém quer ver o problema. Destruir o doente sem tratar da doença não leva a lado nenhum. No meu fraco entender destas coisas.
Mas há um clamor longínquo e insuportável de ódios e de vinganças que não se podem parar.
O mundo de agora já está novo demais para se entender.
Eurico Henriques – Lic.º em História e Mestre em Comunicação Multimédia.
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