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Conseguimos, conseguimos…

17-02-2023 - Francisco Pereira

Foi, com essas mesmas palavras que começou, um curto vídeo, que num tom apoplético, dominado por uma espécie de onda de êxtase histérico e histriónico, que Sua Excelência o senhor Presidente desta, alegada, Republica laica, celebrou a escolha de Lisboa como local para assentar os arraiais de um evento da Santa Madre Igreja, que nos vai custar os olhos da cara, que vai servir apenas para enriquecer os do costume, pouco nos vai trazer, como todas as outras idioteirices que há quase 50 anos nos são vendidas como eventos salvíficos, que invariavelmente descambam sempre em orgias de desbaratar dinheiros públicos, de vigarices de todos os tipos onde quem realmente ganha são as costumeiras elites mafiosas, foi assim, para não ir mais atrás, com o 25 de Abril, com a entrada para a CEE, com a Expo 98, com o Europeu de futebol e vai ser assim com as patéticas jornadas da Juventude que a Igreja está a organizar, mais triste que isto foi ver a figura patética de um presidente da república que parece não perceber que a sua religião, não deve, nem pode aparecer, quando representa o país.

Mas não é disso que vos quero falar, quero ao invés falar-vos de uma realidade, que finalmente saiu da escuridão, uma realidade obscena, grotesca, miserável e nojenta que tem maculado a Igreja, falo claro está dos vergonhosos abusos sexuais que se passam, passaram e vão passar nas igrejas, nas capelas, nos confessionários, nos seminários, nos acampamentos de jovens e onde mais se queira que tenham ocorrido estes hediondos actos malévolos perpetrados por gente ligada à Igreja, sejam, padres., leigos ou outros

Começo por dizer que sou Ateu, felizmente há quase 4 décadas que cortei com os Deuses, é minha convicção que as religiões, são uma palhaçada medíocre, não passam de ocupações estéreis de gente que deveria antes estar a trabalhar para o Bem do Mundo, ao invés daquilo que realmente faz, dito isto, espanta-me que agora, muita gente ligada à Igreja em Portugal se diga surpresa, que aquilo que foi levemente aflorado no Relatório produzido pela Comissão de estudo dos abusos, relembro a todos, em especial aos senhores Bispos da Igreja Católica de Portugal, que se tivessem lido o livro de 1954, “Manhã Submersa” de Vergílio Ferreira, teriam percebido que algo não ia bem, volto a frisar que o livro é de 1954, ora nestes quase 70 anos passados será que a Igreja Católica Portuguesa não teve tempo para fazer nada?

A pergunta é retórica, como é óbvio não espero, nem necessito de uma resposta, porque sei qual é a resposta, a Igreja em 70 anos não fez nada. Ou antes fez, assobiou para o lado, mentiu, escondeu, abafou os casos, achincalhou as vítimas e protegeu os abusadores, foi isso que a Igreja fez, os investigadores históricos da comissão apesar de alguma resistência, após consultarem os arquivos da Igreja ainda deram com cerca de uma vintena de denúncias, denuncias que foram tratadas da mesma maneira claro está, a Igreja fez aquilo que faz melhor há 2023 anos, mentir, ocultar e achincalhar os outros, portanto nada de novo. E, para aqueles que hoje elogiam a atitude da Igreja em pasmem-se “permitir” as comissões de investigação, importa dizer que se hoje temos uma Comissão de estudo dos abusos sexuais na igreja católica portuguesa, que desvendou um pouco a atroz realidade, devemo-lo tão somente à imposição do Vaticano e não à proactividade da Igreja portuguesa e muito menos ao interesse do Estado, acho portanto igualmente ridículas e miseráveis as declarações do Primeiro-ministro, portanto entre aqueles que têm achado melhor nada fazer, aqueles que se escudam nas boas intenções piedosas, a outros que têm optado pela desvalorização dos atrozes actos, incorrendo até em inverdades ditas em público como por exemplo o Bispo do Porto, temos ido andando sem grandes consequências, naquilo que é mais um excelente exemplo da impunidade geral que reina neste paraíso da estúrdia que é Portugal...

O coordenador da Comissão o pedopsiquiatra Pedro Strecht, agora que o relatório está cá fora e é público, afirma que a Igreja continua esconder os abusos, defendendo que a Comissão necessitaria de mais tempo para avaliar com mais acuidade a realidade factual destas atrozes ocorrências. Informa-nos também que 25% dos abusos relatados ocorreram entre 1990 e os dias de hoje, que mais de uma centena de pares abusadores ainda está ao serviço. A comissão validou 512 denuncias, mais de 4800 vítimas, infelizmente apenas 25 casos seguem para o Ministério Público, os restantes, comodamente já prescreveram, em Portugal só o sofrimento das vítimas é que não prescreve, infelizmente Portugal é um país feito para proteger bandalhos, infelizmente Portugal é um país que protege os bandidos, que protege os pedófilos e os abusadores, Portugal é um país que abandona as vítimas, que desvaloriza quem sofre, esta é a realidade do país que deixámos acontecer.

A prescrição, um preceito legal muito cómodo, é um outro assunto que subitamente parece estar a preocupar as mentes dos decisores, empurrados claro está pela sugestão, fraca, da Comissão, para que o prazo dessa prescrição fosse alterado, pessoalmente acredito ser uma vergonha que crimes contra pessoas, quaisquer que seja a sua natureza, prescrevam, é vergonhoso, é obsceno e traduz a completa falta de Humanismo que o Estado demonstra em Portugal, em especial no que toca a pessoas vítimas de crimes.

Concluindo, é muito importante a informação que a Comissão, veio confirmar aquilo que muitos, pelo menos os mais avisados já sabiam, que a Igreja Católica precisa de uma séria reforma, precisa de uma cura para os seus imensos vícios, essa informação sobre abusos também veio confirmar que o Estado português precisa de ter Legislação séria que proteja as crianças, ao invés da palhaçada legalista do faz de conta que hoje existe. Por último a Comissão trouxe a esperança de que apareçam mais denúncias, que revelem a real dimensão desta atrocidade, se bem que pessoalmente não acredite em que daqui vá resultar nada de significativamente importante, veremos se tenho razão.

Para quem quiser ler o relatório: https://darvozaosilencio.org/

Francisco Pereira

 

 

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