O QUE ESTÁ POR DETRÁS DA INVASÃO DA UCRÂNIA?
20-01-2023 - Pedro Pereira
Face ao actual conflito bélico entre a Federação Russa e a Ucrânia, após a invasão deste segundo país pelo primeiro deles, apresentamos ao leitor uma breve resenha relativamente ao maior grupo judaico espalhado um pouco por todo o mundo, os ashkenazis, que na sua origem, a partir do reino da Khazaria, dominaram grande parte dos territórios da Europa Central.
No início da invasão russa, viviam na Ucrânia 350.000 judeus. Para muitos deles espalhados pelo mundo, o nome desse país evoca imagens do território onde os seus avós ou ancestrais fugiram entre o final do século XVIII e o início do século XIX, ou como uma região onde milhões de judeus foram assassinados durante o Holocausto. Antes da invasão da União Soviética por Hitler em 1941, a Ucrânia era o lar da maior população judaica da Europa.
Sintomaticamente, após ser eleito presidente da Ucrânia em 2019, o comediante Volodymr Zelensky, que é judeu, teve como uma das suas primeiras ações, encontrar-se com uma delegação formada pelos seis principais rabinos do país.
Dada a informação truncada (e a desinformação) propalada pela maior parte dos meios de comunicação ocidentais, nomeadamente da União Europeia (de que Portugal é um triste exemplo), Grã-Bretanha e Estados Unidos da América, por um lado, e pela Rússia, por outro, todos os contributos, como este modesto artigo que podem ler, poderão contribuir, certamente, para que o leitor possa aferir ou conjecturar sobre os verdadeiros motivos que se encontram por detrás desta guerra que a todos nós europeus e outros povos trás apreensivos quanto ao futuro colectivo próximo.
Ashquenazis ou asquenazim, do hebraico ashkenazi, é o nome dado aos judeus provenientes da Europa Central e Europa Oriental. O termo provém do termo do hebraico medieval para denominar a Alemanha, chamada Ashkenaz.
Os ashkenazi, formaram-se culturalmente no vale do Rio Reno durante a Idade Média para onde haviam sido levados cativos pelos soldados romanos após a destruição do Segundo Templo. O seu número aumentou consideravelmente com a chegada de novos contingentes, na Alta Idade Média, oriundos de Itália, atraídos pelos estímulos oferecidos pelo imperador Carlos Magno.
Segundo o Génesis, capítulo 10, versículo 31, Ashkenaz foi um bisneto de Noé, neto de Jafé e filho mais velho de Gómer, sendo que o nome do lugar Ashkenaz ocorre três vezes na Bíblia,
A emigração dos judeus ashquenazis foi em tempos associada à Alemanha, daí que que todos os judeus alemães passassem a ser designados por esse termo que foi então aplicado aos judeus da Europa Central e Oriental que seguem certos costumes religiosos e que falam iídiche .
A língua iídiche , que consiste em elementos hebraicos, alemães e eslavos e é escrita em aramaico, é falada pelo menos desde o século IX d.C., desconhecendo-se a sua origem.
Há linguistas que defendem uma origem alemã, outros acreditam numa origem mais complexa para o idioma, tendo por base as terras eslavas da Khazaria, o império Khazar da Idade Média que cobria o sul da atual Rússia, Cazaquistão, Ucrânia e partes do Cáucaso.
Localizada na encruzilhada de antigas rotas comerciais, essa região sugere que o idioma iídiche foi desenvolvido pelos judeus iranianos e ashquenazis quando negociavam ao longo da Rota da Seda desde o século I até o século IXd.C...
No século VIII, as palavras "judeu" e "comerciante" eram como sinónimos , e foi por essa época que os judeus ashquenazis iniciaram a sua mudança para o Império Khazar, com o objectivo de expandirem as suas operações mercantis. O Khazar Khaganate era um estado gigantesco que ocupava toda a região norte do Mar Negro, a maior parte da Crimeia, o Mar de Azov, o norte do Cáucaso, a região do Baixo Volga e a região do Trans Volga do Mar Cáspio. Como resultado de inúmeras batalhas militares, a Khazaria tornou-se uma das potências mais poderosas da época. As rotas comerciais mais importantes da Europa Oriental estavam em poder dos ashkenazis: a rota do Grande Volga, a Grande Rota da Seda da Ásia à Europa...
Por volta de 860, Kiev (actual capital da Ucrânia)cidade fronteiriça da Khazaria, renasceu sob influência khazar, nela tendo-se fixado então, uma comunidade ashkenazi. Uma carta sobre as desventuras financeiras de um de seus membros, um certo bar Yaakov de Hanukkah, escrita no início do século X, é o primeiro documento autêntico relatando a existência desta cidade.
Durante cerca de 15 anos, os ashkenazis, servindo-se de tropas mercenárias compostas por pechenegues e os chamados "búlgaros negros" que viviam no Kuban, tentaram desenvolver Kiev.
Segundo a historiografia russa, o primeiro líder a começar a unir as terras eslavas do leste no que se tornou conhecido como Rússia de Kiev foi Olegue (882–912). Estendeu o seu controle de Novogárdia Magna ao sul, ao longo do vale do rio Dniepre para proteger o comércio das incursões de ashkenazis do leste e moveu a sua capital para a estratégica Kiev.
Actualmente, a Bielorrússia, Ucrânia e Rússia reivindicam a Rússia de Kiev como o seu ancestral cultural.
O fim da Khazaria ficou a dever-se a sucessivas invasões e à Peste Negra, que devastou este império judaico, levando à divisão dos judeus ashquenazis em dois grupos: uns permaneceram no Cáucaso e outros emigraram para a Europa Oriental e para a Alemanha.
Os judeus ashkenazis tem sangue das 12 tribos de David são uma etnia judaica que se parece com a etnia ariana, dado que ao longo dos séculos se misturaram com outros povos europeus. O judeu Arthur Koestler considerava os khazares como “a décima terceira tribo de Israel”, da qual descendiam todos os judeus Ashkenazi (ou seja, europeus). Curiosamente, os sionistas são, na sua maioria ashkenazis.
Chegados a 1917 os judeus originários da Khazaria, decidiram criar o seu próprio estado na Palestina. Nesse ano, também participaram activamente na Revolução bolchevique. Nessa altura, procuraram de novo controlar a Rússia após mais de 900 anos. Morreram nesse conflito, dezenas de milhões de cristãos ortodoxos russos e, por sua parte, segundo alguns historiadores, cerca de 20 milhões de judeus morreram às mãos dos judeus ashkenazis.
Mais de 80 por cento de todos os judeus que vivem no mundo são ashkenazis, grupo de judeus orientais que diferem em muitos aspectos do seu grupo ocidental, os sefarditas, não apenas nos costumes, mas também na aparência. Assim, sem excepção, todas as figuras proeminentes do judaísmo e do sionismo pertencem ao número de judeus "orientais".
Paradoxalmente, um problema puramente científico - a história do estado medieval Khazar – transformou-se num assunto sério nos jogos políticos dos nacionalistas europeus dos séculos XX-XXI. Alguns deles tentaram (e estão tentando) usar a história dos ashkenazis para legitimar as suas demandas políticas, outros declaram-se como os “únicos” e “reais” descendentes dos khazares, outros estão a tentar reescrever a história medieval dos russos, povos ucranianos e judeus com base na questão da antiga região da Kazaria e descendentes ashkenazis.
No passado mês de Setembro, dezenas de milhar de peregrinos judeus hassídicos dirigiram-se a Uman, 200 quilómetros a sul de Kiev (o que fazem uma vez por ano),partindo de todo o mundo a fim de visitar o túmulo de uma das principais figuras do judaísmo hassídico e celebrar o Rosh Hashaná, o Ano Novo judaico. Embora Uman esteja relativamente longe da linha de frente do conflito bélico, as autoridades ucranianas e israelitas pediram aos fiéis para evitarem as celebrações, que em 2022 se realizaram entre 25 e 27 de Setembro. Por hábito os peregrinos citam um texto religioso do rabino Nachman, fundador de um movimento ultra ortodoxo falecido na cidade em 1810, o qual prometeu que "salvaria (os crentes) do inferno" se eles visitassem o seu túmulo durante o Rosh Hashaná.
Enquanto o mistério sobre a origem e o destino dos khazares não é totalmente desvendado, o tema está a ser usado pelos ultranacionalistas russos para disseminar o seu anti-semitismo. Segundo eles, os ashkenazis seriam uma tentativa de "envenenar" o sangue russo e de destruir a glória da herança russa, por isso, a cada dia, surgem novos panfletos denunciando "a conspiração judaica" para glorificar os askhenazis.
Pedro Pereira
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