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A CIVILIZAÇÃO OU A BARBÁRIE?

29-04-2022 - Cândido Ferreira

- A exposição de cenas de selvageria sem limites, na Ucrânia e na China, que superam qualquer quadro imaginável em sociedades modernas e evoluídas, obriga-nos a refletir sobre o estado atual da nossa civilização.

Na vida pública, tal como no exercício da Medicina, nunca emiti “diagnósticos” sem estar bem seguro. Foi assim que, a 28 de fevereiro, no quarto dia da invasão da Ucrânia, e contra todas as expetativas, expressei publicamente a minha convicção numa “humilhante derrota” militar da Rússia.

Essa conclusão surgia-me óbvia, assente na incompetência do exército invasor, no desespero de um psicopata que já ameaçava recorrer a armas nucleares, na firme resposta ocidental e na “demora” de uma intervenção conjunta chinesa, há muito esperada sobre Taiwan.

Num planeta em disrupção, com o “eixo sino-soviético” na busca de inverter a hegemonia do “Ocidente”, de repente antevi um desfecho algo inesperado: o reforço da “frágil” Europa e o recuo do “poderoso” Império Soviético, perante alguns avanços dos Impérios Otomano e Chinês, estes sempre à espreita.

Estava, então, ainda longe de imaginar as cenas de horror e de total desprezo pelos direitos humanos, que, a seguir, se iriam desenrolar perante os nossos olhos.

Na Ucrânia, há claramente uma vítima e um agressor, um país soberano invadido e um país que não respeita o Direito Internacional e os Direitos Humanos mais elementares. A bem do futuro da Humanidade, o crime não pode compensar. A Rússia terá de sofrer tremendas consequências pelo seu treslouque. Em teatros extremados de guerra, ninguém resiste a exageros. “Virgens”, que se saiba, só existem em Fátima. Mas nenhum ser humano, digno da nossa espécie, poderá tolerar o comportamento das hordas russas. Ponto final.

Quanto à China, a evolução é bem mais subtil, mas ainda assim digna da nossa melhor atenção. Nesse Império, para apagar o fracasso do seu aliado em teatro de guerra, as autoridades pretextaram um surto de Covid-19, em Xangai, para arrasar as veleidades de populações que, mais ocidentalizadas e economicamente mais pujantes, tal como em Hong Kong e Taiwan, tentam reverter os padrões totalitários do regime. No seu conjunto, estes e outros pequenos "enclaves" ameaçam tornar-se numa espécie de "China Branca", "Ucrânias" encravadas na grande "China Vermelha"

A 5 de abril, antecipando notícias que as imprensas nacionais e internacionais depois confirmaram, divulguei fotos e um vídeo oriundos do interior da China, que comprovavam flagrantes violações dos direitos humanos em Xangai: confinamento obrigatório desde há semanas; hospitais a abarrotar de “suspeitos” de covid em condições sub-humanas; milhares de prédios selados à força; uma campanha obrigatória de testagem e isolamento das populações, que não qualquer esforço na vacinação e no tratamento.

Denunciei então, pela primeira vez em Portugal, a ocorrência de inúmeras tragédias entre idosos e incapacitados, abandonados completamente ao seu destino no interior de suas casas, sem o apoio de familiares, vizinhos ou amigos que já começavam a exibir alguma revolta.

A situação, entretanto, complicou-se… e muito: a subnutrição hoje já atinge largas camadas de uma população “rica”, que foi despojada dos seus vencimentos e que é obrigada a suportar elevadas rendas fixas; a pretexto de extinguir a pandemia, milhares de crianças de tenra idade foram separadas dos progenitores; os animais de estimação sofreram uma razia geral, alegadamente por serem agentes transmissores da covid-19; nos prédios mais altos de Xangai, onde é difícil identificar os protestos, milhares de cidadãos escondem-se atrás das janelas para lançarem apelos à resistência, enquanto drones munidos de altifalantes os ameaçam de retaliação; existem numerosos sem-abrigos a sobreviverem debaixo das pontes, porque, ao chegarem a casa, depois do trabalho, tinham o acesso selado, sem qualquer aviso prévio.

A televisão portuguesa mostrou-nos, ontem mesmo, uma Xangai deserta, apenas “animada” por filas quilométricas de humanos à espera por testagens. Trata-se, uma vez mais, de total falta de coragem em denunciar a verdade: é que em locais de abastecimento alimentar, há muito que se espraiam filas de cidadãos desesperados por alimentos.

E sem que o nosso MNE esboce qualquer reação oficial, e até negue a existência de problemas, sei de fonte segura de uma portuguesa que, devido à fome, já perdeu vários quilos, enquanto outro, há dois dias, depois de um “safari” por alimentos que iniciou logo pelas seis da manhã, depois do recolher obrigatório, só conseguiu dois iogurtes e um pequeno queijo. Como podem os portugueses, políticos e comunicação social, ignorar estas verdades? Que interesses servem?

E enquanto isto acontece, vários outros cidadãos nacionais têm total liberdade para sair do país, mas estão impossibilitados de o fazer por razões materiais, por não poderem comprar as passagens, despojados que estão dos vencimentos que lhe são devidos.

Em Mariupol ou Xangai, as questões que, corajosa e serenamente, hoje se colocam a qualquer ser humano bem formado, e informado, são, pois, muito simples:

Que mundo desejamos para os nossos filhos e netos?

De que lado estamos? Pela civilização ou pela barbárie?

Cândido Ferreira – Médico jubilado, patriota e escritor

 

 

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