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O encorajamento de um amigo

18-03-2022 - Cândido Ferreira

- entre vários outros que me animam a continuar

Os médicos, tal como outros mulheres e homens do saber, têm tido um papel marcante nos mais de oito séculos do nosso passado histórico enquanto Nação, nas artes, nas ciências, nas letras, na política, enfim, na História do pensamento e da identidade que fomos construindo.

O nosso primeiro médico conhecido terá sido Mendo Dias, que estudou em Paris. Depois dele, várias centenas marcaram as épocas em que viveram nos mais variados domínios da atividade humana, especialmente na Cultura.

Começarei por falar de um outro médico – eterno candidato ao Prémio Nobel – que soube interpretar como poucos a relação do lavrador com a videira e a relação da mãe com a filha. Ele torce a ata a vide com a fina delicadeza e amor com que a Mãe tece a trança à filha. Trata-se de Torga, transmontano sofrido e combatente da Liberdade.

Mas, hoje, será dia de apresentar Cândido Ferreira, jovem audaz das gândaras, médico como Adolfo Rocha, laboriosamente inspirado como Miguel Torga. O suor derramado de um e de outro, mesmo em terreno quase estéril, tem vindo a fazer brotar aromáticas obras, carregadas de substância.

Hoje, particularmente, é o dia de vos falar de um bom Amigo dos mais frágeis e das terras por onde tem caminhado. Neste longo itinerário, as cãs, embora a rarear, e uma barba de dois dias – qual neve encimando a sua sólida e robusta figura – reforçam o calor da sua sensibilidade – um Jaime Cortesão da atualidade!

Tendo sido gerado nas Gândaras de Carlos Oliveira, os cromossomas de Cândido Ferreira estarão marcados por genes do génio com a mesma origem. À criança traquina, mas trabalhadora, sucedeu um jovem ousado que Coimbra e a sua “cabra” receberam de braços abertos, no tempo em que montava o seu célebre 2 cavalos.

A nossa cidade das luzes, como todo o país, viviam nas trevas da ditadura de Salazar, que nele deixaram marcas indeléveis.

A sua envergadura física, psíquica e cívica, comandada por um caráter de intrínseca liderança, exprimiu-se também no desporto, na música, na escrita – alguns dos seus “ditos” são dignos de serem gravados na pedra! – e naquela férrea vontade de correr mundo, de – nunca temendo a aventura – transpor barreiras do desconhecido.

Desse palmilhar pelo mundo inteiro, foi amealhando, grão a grão, cultura plasmada em objetos e em sabedoria. Uma impressionante quantidade daqueles ficará no Museu de Cantanhede; esta é, ciosamente guardada e partilhada pelo próprio.

Fez-se médico Nefrologista, dos primeiros de Portugal, e aqui também Mestre, tendo colaborado com os melhores, cá e no estrangeiro, nomeadamente com o insigne Professor Linhares Furtado, também ele artista.

Grão a grão, linha a linha, infatigável construtor, foi edificando, com “obras valerosas” um valioso empório material e imaterial.

Na “massa do sangue” tem a solidariedade e o incondicional amor à Liberdade. Houve quem o visse, no 1.º de maio de 1974, entre dois famosos antifascistas nas varandas dos Paços do Concelho de Cantanhede, a exortar o povo a que pertence, à luta pelos ideais sempre novos da Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade, Fraternidade.

Hoje, pelas múltiplas e valiosa obras que produziu, tornou-se referência e inspiração de novos escritores e poetas, alguns destes já consagrados na literatura portuguesa. Com o respeito e a admiração que devo a todos os outros, que me perdoarão, refiro apenas António Canteiro, que também continua a burilar os seus pés nas pegadas gandaresas, marcadas nas mesmas areias de Febres, já partilhadas por Carlos de Oliveira e Cândido Ferreira.

A obra Covid 19 – A tempestade Perfeita – História da Pandemia é um trabalho revelador, mais uma vez, das preocupações dominantes do cidadão e do médico perante uma catástrofe anunciada, evidenciando profundo saber científico fartamente experienciado, que lhe permitiu denunciar as erradas decisões de quem tutela e os seus perniciosos efeitos – e apontar soluções que, por estarem sempre muito à frente no tempo, só muito mais tarde foram reconhecidas na sua justeza e validade. Infelizmente, quando o foram, para muitos, era tarde demais.

Parafraseando Egas Moniz, Prémio Nobel da Medicina, as técnicas “sofrem modificações com a prática, até alcançar a perfeição da hora presente”. As assertivas e solidamente fundamentadas críticas do nosso Autor são aqui derramadas em textos que deveriam ser obrigatoriamente lidos, pelo menos, por todos os responsáveis da área da saúde. Elas não são pedras atiradas a Madalena; são antes lições de Grande Mestre que analisa, previne, anuncia com muita antecedência soluções que ainda ninguém vislumbrou, e, no meio da tempestade, ainda mantém sempre bem viva a Esperança.

Como o próprio insiste, “perante a vertiginosa evolução da ciência e da técnica, é razoável manter algum otimismo sob o ponto de vista médico/sanitário.” As “orelhas moucas” de hoje são o lápis azul de ontem.

No meu entender, Cândido Ferreira poderia ter fechado o seu livro com as palavras com que Egas Moniz terminou as suas Confidências: “Julgar-se-á que foi a vaidade a determinante que deu origem ao volume. Na minha idade, já essa pecha não é chama que alumie olhos embaciados pelo tempo e pelas desilusões. Mas se ainda assim quiserem classificar o meu intento, não o contraditarei.”

Obrigado, Cândido, e… venham mais!

Rui Crisóstomo , médico e ex-Presidente da Câmara Municipal de Cantanhede

 

 

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