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A RUNIÃO NACIONAL

04-03-2022 - Pedro Pereira

A «runião» aparenta ser a grande instituição nacional. Nossa. Muito portuguesinha. Assim parece. É um termo híbrido que serve para designar qualquer coisa entre «reunião» e «não estou para aturar esse gajo(a)». Por tudo e por nada e mais não sei quê se «rune».

As 2ªs feiras são sempre as mais afreguesadas em termos de «runiões». O pessoal, invariavelmente, arriba maldisposto e cansado dos transportes insalubres e malcheirosos ao seu local de trabalho, após dois dias de merecido remanso. Logo, para retomarem a rotina, para colocarem os neurónios no sítio, têm de entrar em «runião», senão dão em doidos com a trabalheira do dia-a-dia.

No mor das vezes, assim a modos que entram numa espécie de stress alentejano, começam a tremelicar desalmadamente por ficarem nervosentos e depois têm de encontrar um ombro que os apoie fora do lar, ou, ir ao psiquiatra para que este lhes receite uns drunfos que os deixe zombies e por isso, também, muitos passam ao estado permanente de «runião». Eles são nas empresas, nas escolas, no comércio, nas autarquias ou na função pública em geral.

Ligamos para falar com uma criatura e do outro lado da linha uma telefonista com voz robótica, ao pedido de contacto com a pessoa e depois de nos deixar pendurados ao telefone a secar como os bacalhaus, responde-nos: «o sôtôr está em runião». Mesmo que seja um analfabruto com duvidosa instrução primária (que é o caso da maioria), basta que ocupe um lugar de chefia para ser sôtôr, presidente de qualquer coisa e, às vezes, engenheiro. Normalmente de «obra feita», como diziam os antigos.

A «runião» é também designada por aqueles que lêem os jornais de negócios, por «mitingues». Os seus participantes são os mesmos que frequentam muitos congressos onde assistem a conferências a que chamam de «painéis». Por isso os seus frequentadores são conhecidos por paineleiros. Não perdem um painel nem as «visitas de estudo» que acompanham este tipo de eventos, normalmente a locais fechados onde se bebem umas bejecas à média luz, acompanhadas com música de muitos decibéis, luzes psicadélicas e maralhal aos saltos, cada um para seu lado com ar de autistas.

Estar em «runião» para quem quer que procure este tipo de criaturas, confere-lhes (pensam eles…) status, que se traduz por arrogância para com tudo e com todos, menos para os superiores hierárquicos, a quem se curvam, tanto em vénias que às vezes se lhes vêem as cuecas e até o cú. Entretanto, os índices de produtividade nacional continuam a cair de dia para dia, na razão directa da multiplicação das «runiões». Parece que Portugal é o país da UE onde menos se produz, donde se conclui, que quanto mais «runiões» se realizam, mais o país se afunda e que a «runião» não é uma instituição nacional, como aparenta ser, mas uma praga, um verdadeiro flagelo nacional.

Pedro Pereira

 

 

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