A CRISE DO ORÇAMENTO
12-11-2021 - Rui Filipe Freitas
Os últimos dias afiguraram-se turbulentos e incertos. Com o chumbo do orçamento e a dissolução da Assembleia da República, o país oficial entrou, uma vez mais , no estado febril que sucede sempre que há crise política. Devemos preocupar-nos? Depende. Do meu ponto de vista, não. Tudo isto está perfeitamente compreendido no quadro de uma ritualística institucional, de uma liturgia democrática macaqueada e diligentemente oficiada pelos zelotas da democraciazinha liberal, isto é, da democracia burguesa.
Nada disto se deve a problemas de fundo, a posições irreconciliáveis, a visões de mundo incompatíveis. O PS tem uma fauna clientelar imensa que está sedenta por se apropriar dos milhões do PRR. Além disso, tendo percebido a significativa erosão da sua hegemonia, e, tendo tirado consequências, decidiu apostar tudo.
Nada disto é a sério. Nada disto é decisivo. Isto só é decisivo para o jotinha a ou para o jotinha b, para o autarca a ou para o autarca b, que podem, ou não, chegar a secretários de estado ou a deputados. Tudo o resto continua fatalmente na mesma. Veja-se, a título de exemplo, a turbulência interna da direita: tem aquilo a ver com diferendos ideológicos? Claro que não.
Que ninguém se iluda! O circo continuará inexoravelmente o mesmo: a burguesia instalada, clama por acordos ao centro e por estabilidade; a direitinha empreendedora e arrivista dos exploradores, saliva por uma união das direitas; a pequena burguesia funcionária — videirinha e geneticamente interesseira — casa com quem lhe prometa não cortar o décimo quarto mês e não lhe congelar a progressão salarial; a classe baixa — saco de pancada de todos — com excepção da bola, não faz a mais pálida ideia de coisa nenhuma. Nada de novo, pois não?
Comam o bacalhau de Natal descansados.
Rui Filipe Freitas
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