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Não me Odemira nada

07-05-2021 - Francisco Pereira

Eu volta e meia fico pasmo com a rapaziada politiqueira. Não consigo perceber se são apenas asnos simplórios, ou se são velhacos que fazem de conta que não percebem nem conhecem o país onde vivem, mas depois vejo as suas declarações e atitudes e fico quase com a certeza que esta gentalha é mesmo de uma ignorância atroz que mete dó.

Vem este comentário a propósito da recente questão passada em Odemira, com os trabalhadores estrangeiros, que enxameiam aquele concelho, para proverem com o seu trabalho, de quase servidão, as explorações agrícolas, realidade que de há uns anos a esta parte afecta sobremaneira os concelhos que necessitam de mão de obra para a agricultura.

Num exemplo nada costumeiro, relativamente à questão de Odemira, sua excelência o senhor Presidente da Republica, declarou “Nessa realidade subterrânea é preciso apurar que há de ilegal e se há eventualmente alguma coisa de criminoso". Esta declaração, soando a frase sábia, é porém no meu pobre entendimento a prova cabal, de uma ignorância atroz, e pior se torna, porque sua excelência o senhor Presidente da Republica, não é alguém que tenhamos por ignorante, no entanto ainda assim aqui demonstra precisamente o contrário ou estará a fazer de conta, fica-me a dúvida.

Odemira é apenas um exemplo, da pavorosa realidade que grassa neste país, só caiu nas bocas do Mundo por causa da pandemia, que ao ficar em total descontrolo fez soar os alarmes, acaso se por algum milagre a coisa não se tivesse descontrolado e saltado para as parangonas da comunicação social, jamais teríamos os patetas governeiros a dirigirem-se em romaria a Odemira para irem chorar lágrimas de crocodilo em cima de uma situação que ocorre um pouco por todo o país em especial nos distritos em que a agricultura intensiva necessite de mão de obra barata, digo barata, quase a roçar a escravatura.

O que agora é novidade em Odemira, já aconteceu por exemplo em Beja, em Portalegre e em Almeirim, entre mui tos outros casos ainda não identificados, porque raio, reagem agora esses politiqueiros medíocres como se isto fosse novidade, aquilo que se viu em Odemira é a realidade diária de há já vários anos, nas zonas de agricultura intensiva, onde o que pontua é o lucro a qualquer custo, mesmo que seja à custa da exploração de seres humanos vindos de realidades complexas, atraídos por verdadeiras máfias, as mais das vezes geridas por conterrâneos, esses pobres diabos caindo nas garras dessas matilhas de cães raivosos gananciosos, dificilmente se libertam desses grilhões.

A receita não é nova, vimo-la no fim do século XIX princípios do século XX com a imigração que chegava aos Estados Unidos, em especial os italianos, vimo-la nos anos 50 e 60 do século XX com os emigrantes portugueses que foram para França, mas nem nessa altura essa realidade era estranha nem desconhecida, aqui pelas terras do antigo Ribatejo, já em 1939 Redol no seu soberbo romance “Gaibéus”, descrevia a dura e crua vida de quase servidão que as gentes das Beiras vivia quando vinha para aqui trabalhar, as pessoas da minha idade tem ainda bem presente na memória os ranchos de “barrões”, como perjurativamente se chamavam às gentes que vinham do Norte do país para aqui trabalhar na agricultura, falo dos anos 70 e 80, vinham em especial para as vindimas, ficavam por cá uns tempos alojados em barracões de salubridade questionável, com salários igualmente miseráveis, por isso nada desta realidade é estranha ou sequer inovadora.

Aquilo que se passa em Odemira, bem como em muitos outros concelhos portugueses, revela apenas que somos um país de bandalhos, um Estado semi falhado, em que tudo é possível, em que se fecham os olhos à miséria humana, contando claro está que o lucro seja assegurado, infelizmente somos todos enquanto sociedade miseravelmente coniventes com a bandalheira, mais o são as Autoridades, os governantes e os políticos mais toda essa corja que vive da burocracia e do despesismo sem sentido do aparelho glutão disto que chamam Estado, em suma não aprendemos nada, nada.

Francisco Pereira

 

 

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