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MILITARES e militares

03-10-2014 - Henrique Pratas

Ontem após ter recebido um mensagem por correio electrónico de um amigo meu, que se encontra a viver há alguns anos fora do nosso País, recebi o mote que me vai levar a escrever este texto.

A questão que aqui trago diz respeito à condição de MILITAR e as suas responsabilidades assumidas quando juram bandeira, é esta a designação correcta.

Assim e de uma forma humilde irei levantar algumas questões relativamente à condição MILITAR sem esquecer a condição de cidadão.

A um MILITAR exige-se que tenha uma série de predicados que muitas das vezes não são exigíveis ao comum dos cidadãos de um País, particularmente no nosso.

A um MILITARnormalmente exige-se que seja correcto, delicado, responsável, racional, disciplinado, obediente mas não subserviente, aprumado e que tenha a capacidade de comandar Homens, na defesa da sua Pátria ou em missões internacionais para as quais venha a ser indigitado, gerir todos estes requisitos não é fácil, mas é espectativa de muitas pessoas.

Tenta-se ver num MILITAR, um cidadão exemplar, de palavra, impoluto sem mácula, humilde, vertical, recto, justo e imparcial, reunir todos estes atributos é difícil mas é o que esperamos.

Eu que já tenho alguns anos de vida e de vida vivida, muitos mais, aprendi com o meu avô paterno, que era um HOMEM, na verdadeira acepção da palavra e que muito me ensinou de uma postura perfeitamente exemplar ao ponto de ser antes quebrar do que torcer.

Por imposição de ordem pessoal e de consciência decidiu que se deveria alistar no CEP (Corpo Expedicionário Português), como voluntário, aquando da I Grande Guerra Mundial para servir a Pátria e “lutar” contra os alemães que na altura tinha como objectivo ser os donos da Europa e assim foi alistou-se, considerando os seus atributos, nível de instrução e capacidades operacionais e de comando militares, foi nomeado oficial do referido Corpo. Recebeu e deu instruções aos seus homens, para que estivessem minimamente preparados para o que iriam encontrar em La Lys onde já sabia que iriam ser colocados. Com o fraco equipamento posto à disposição de todos os MILITARES, lá se preparam para o que não sabiam que iam encontrar.

Chegados ao campo de batalha foram confrontados com a dura realidade do frio, para o que não estavam preparados, nem o Estado Português os tinham equipado quer em termos de “vestimenta” quer em termos de armamento e sofreram horrores, como é do vosso conhecimento, pois as tropas alemãs e todas as outras estavam melhor equipadas do que nós, mas na altura tivemos aquilo que nos podemos orgulhar e muito tínhamos a vontade de demonstrar que éramos tão bons ou melhores que os outros e estoicamente nos batemos e não arredámos pé fazendo frente aos alemães em La Lys que os obrigámos a recuar, do ponto de vista MILITAR e de CIDADANIA, não era de exigir mais àqueles HOMENS.

Na altura não se me oferece dúvidas que aqueles MILITARES fizeram o melhor que lhes podia e a causa pela qual se bateram era justa. Não vou ainda aqui entrar com as ideologias dominantes na altura, mas mais à frente fá-lo-ei, quando escrever sobre a Guerra Colonial.

Recompensas não existiram como é do vosso conhecimento, a não ser um rectângulo de terra delimitado, com maior ou menos dimensão em cada um dos cemitérios, que decidiram designar por “Talhão dos Combatentes” e onde foram sepultados todos aqueles que à medida que iam morrendo eram sepultados. Imaginam que o débil equipamento que foi atribuído às tropas portuguesas, no caso dos designados gases utilizados na altura de alta capacidade tóxica quer respiratória quer visual, muitos deles deixaram de utilizar as máscaras que lhes foram fornecidas porque aquilo em vez de os proteger só os atrapalhavam e criavam dificuldades, devem imaginar as consequências causadas a todos os que passaram por esta experiência, problemas de visão, respiratórios, para os feridos em combate algumas amputações de pernas ou de braços, outras parte do corpo afectadas e convém não esquecer os que morreram e nãoregressaram.

Como sabem nisto e noutras situações o Estado Português, não trata e não tratou com o devido respeito as pessoas envolvidas, mas isso já nós estamos fartos e cansados de saber, o reconhecimento é muito difícil no nosso País ou restringe-se a uma esfera reduzida de eleitos.

Decorridos todos estes anos as nossas exigências/espectativas que temos em relação aos MILITARES não diminuíram antes pelo contrário acho que cresceram em exponencial, tendo em consideração o eu fizeram em 25 de abril de 1974 e é sobre este acontecimento que quero parar e reprocessar a informação de que disponho, já que neste eu participei ao vivo e a cores como é hábito dizermos.

Retomando a ideia principal onde quero chegar, que é questionar o juramento que quem opta por uma carreira militar faz de defender a Pátria, que Pátria é aquele que cada almeja alcançar, a que existe e que é subordinada ao poder politico, ao poder económico, ambos ou uma outra e esta é a primeira grande questão. A segunda considerando que MILITAR tem uma regra de conduta, definida pelos seus superiores hierárquicos e que é obrigado a respeitar mesmo que não concorde com ela como é que esta situação e compaginável com o juramento que realizou de defender a Pátria.

Este abordagem não é fácil mas recuando alguns anos no tempo e passámos por uma situação em que muitos de nós uns voluntariamente e outros à força tiveram que cumprir que foi a designada Guerra Colonial, que sempre me fez alguma confusão porque independentemente de na instrução primária nos obrigarem a decorar os rios, os caminhos-de-ferro, os distritos das designadas Províncias Ultramarinas, de ter sido induzido a frequentar um curso no Círculo de Províncias Ultramarinas, organismo criado para formar os potenciais administradores regionais das diferentes Províncias Ultramarinas, havia que dar continuidade ao sistema e garantir que o Governo do Continente continuaria a dominar através de quadros formados para o efeito. A escolha era feita de acordo com o aproveitamento escolar e eu com tinha notas bem acima da média fui escolhido sem ninguém me perguntar se queria ou não, fui como se diz arregimentado, era muito novo tinha cerca de 10 anos e recordo-me disso porquê, porque apesar de tudo o que lhes descrevi no mundial de futebol em 1966 estava num café a ver o jogo do Mundial de Futebol, entre Portugal e a Checoslováquia e tive uma tirada que na equipa portuguesa não havia só portugueses havia angolanos e moçambicanos, independentemente da cor da pele, o que eu fui dizer de imediato fui para à António Maria Cardoso e fui interrogado sobre o que queria dizer e de novo voltei a repetir a minha afirmação, até que me chamaram à atenção se na escola onde eu andava não me tinham dito que para além do Continente também tínhamos as Províncias Ultramarinas e aí é que eu dei por ela. Tanto nos tentavam induzir que Portugal tinha a dimensão que queriam eu decorei tudo mas na minha cabeça as coisas eram diferentes, existia Portugal continental e as Ilhas, a Guiné, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Angola, Moçambique e Timor, porque em relação a Goa, Damão e Diu, já a India tinha tomado conta.

Esta minha resposta não foi premeditada muito menos tinha consciência política para poder dizer o que disse, disse-o por exponteniedade e de acordo com que pensava não da forma como me obrigavam a decorar, tinha duas verdades a da escola e a minha, hoje até agradeço aos Pides que me levaram porque aí comecei a estar alerta para outras situações e aí sim comecei a cultivar-me politicamente.

Depois veio o problema do serviço militar obrigatório e aí eu pensei, continuo a estudar e vou pedindo adiamento, vou para a Academia Militar para me preparar para a guerra à séria ou vou-me embora do País, porque pura e simplesmente aquela guerra não tinha sentido para mim eram portugueses contra os legítimos proprietários daquelas terras, o que se me afiguravam injusto e eu não estava interessado em morrer.

Foram tempos muito difíceis para mim pois não sabia quando a guilhotina iria cair, mas sabia que ia cair, assisti a vários embarques de militares ouvi histórias e histórias, umas mais agradáveis do que outras e as que me preocupavam mais eram aquelas em militares de carreira, enviavam para a frente de combate os oficiais milicianos enquanto eles ficavam no bem bom e os outros sofriam na pele as agruras de uma guerra injusta e sem sentido.

Os tempos foram passando e deu-se o 25 de abril de 1974, aí a lufada de ar fresco foi uma coisa que ainda hoje tenho momentos em que me sinto completamente livre quando volto a sentir o ar que consegui respirar naquela altura e que guardo até hoje.

Encurtando razões os factos são conhecidos, apareceram documentos dos 9, houve o COPCON eu sei lá um turbilhão completo de movimentos, de fazer coisas e consolidá-las em termos legais à posteriori, fizeram coisas, havia uma vontade de fazer de construir de modificar de alterar, de criar, enfim havia livre e espontânea vontade.

No meio de todo este processo cometeram erros, mas também se fizeram muitas coisas boas, mas os que foram apeados não dormiam e sorrateiramente foram dando catanadas em processos que já estavam em curso ou implementados.

Alguns participantes neste processo oriundos da parte militar, começaram a invocar a sua falta de conhecimento político para justificar alguns erros ou desvios que provocaram no processo de mudança que estava a decorrer, não sei se pressionados por outras vontades ou por ingenuidade.

Tenho algumas dúvidas quanto a estas hesitações porque vi alguns destes militares, entrarem para sociedades secretas, outros a trabalharem para grandes grupos económicos, a tratarem da sua vidinha enquanto que os se mantinham fieis aos ideais de abril foram postos fora de cena e alguns mesmos voltados ao ostracismo.

Chegados a este ponto é por isso que intitulei este meu texto de MILITARES e militares, porque alguns são dignos da primeira designação e a maioria enquadra-se na segunda designação.

Ao escrever-vos este texto onde manifesto as minhas questões, penso de uma forma clara, tenho na minha memória em que um dos MILITARES faleceu e chovia nesse fatídico dia, mas eu estive presente como muitos tiveram e o actual Presidente da República na altura Primeiro-Ministro, não compareceu e mandou um rapaz de nome Fernando Nogueira em sua representação, na altura Ministro da Defesa, uma atitude que considerei na altura perfeitamente inaceitável, mal sabia eu que anos mais tarde a referida personagem viria a ser Presidente desta Republica.

Termino comentando a frase do actual Ministro da Defesa, ontem a propósito do episódio de uns activistas nacionalistas da independência dasCanárias ficaram mais tempo nas Ilhas Desertas do que o autorizado, tendo sido convidados abandonar a ilha pela Marinha Portuguesa, multados em 4 euros e obrigados a voltar à procedência e o Ministro da Defesa ter afirmado nada ao assunto porque o acto de hastear a bandeira do grupo de militantes nacionalistas independentista das Canárias (ANC) nas Desertas, para publicitar e chamar à atenção para o desejo de se tornarem independentes era a mesma coisa se alguém o fizesse no Jardim Zoológico em Lisboa.

Não gostei do comentário do Ministro da Defesa e não sei o que é que os MILITARES têm a dizer sobre isto e como é que vêm estas declarações face ao juramento que fizeram, para mim é um atentado grave à soberania nacional que dá lugar à chacota e à vergonha nacional uma vez que foram proferidas pelo responsável máximo da Defesa Nacional, que como todos sabem englobam os três ramos das forças armadas e que nomeia os seus chefes militares.

Lisboa, 26 de setembro de2014

Henrique Pratas

 

 

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