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DE DERROTA EM DERROTA ATÉ À DERROTA FINAL

19-03-2021 - Pedro Pereira

A História evolui em círculos concêntricos, sendo que, por esse facto, podemos encontrar semelhanças entre conjunturas do passado e os tempos que vivemos como actualmente, neste caso concreto, relativamente aos conflitos de meados do século XVII, como sejam: mudança climática global (a Pequena Idade do Gelo nos anos 1600), convulsões políticas e guerras à mistura com conflitos civis, enfim, uma crise que atingiu foros globais.

As guerras, a mudança climática e as catástrofes durante boa parte do século XVII resultaram numa Era complexa que perturbou, desestabilizando, regimes e impérios desde a Inglaterra até à China.

A mudança climática (Pequena Idade do Gelo) gerou escassez de trigo, milho, etc, sendo que era na agricultura que se encontrava a base da alimentação numa época de grande crescimento populacional. Tal como nos dias de hoje, todos calculavam que as grandes colheitas continuariam para sempre. Infelizmente, a natureza não é um sistema “burocrático”, estacionário e os seus ciclos não são controlados pelo desejo dos seres humanos quanto a uma desejável abundância de colheitas em constante expansão.

Os indivíduos respondem à escassez alimentar, avaliando quem recebe os maiores pedaçosda comida quando esta começa a escassear.

Quando a fome gera desespero, desenvolvem-se diversas dinâmicas. Neste caso, o poder político e financeiro desenvolve as mais diversas acções, a fim de obter o que necessita para sobreviver, enquanto aqueles que detêm a maior fatia do poder político manobram para se manterem e/ou expandir o seu poder.

Essas dinâmicas são fluídas e sujeitas a fluxos não lineares relativamente às quais, as ações relativamente pequenas desencadeiam enormes consequências que normalmente não são as previsíveis. Não obstante podemosdistinguir alguns padrões repetidos neste redemoinho caótico:

Assim:

- Os proprietários descapitalizados (ou seja, as elites) procuram influenciar o Estado para proteger/expandir as suas posses;

- As massas despojadas/privadas de direitos procuram a reparação/socorro do Estado;

- O equilíbrio geopolítico de poder volve-se precário cada vez mais, à medida que a competição pelo controlo dos recursos e do poder político aumenta;

- Os recursos do Estado minguam pela fome, o declínio do comércio, e por aí fora.De acordo com as pressões dos rivais geopolíticos, as elites e as massas vão aumentando, reduzindo assim a capacidade do Estado para responder aos múltiplos desafios e crises sobrepostas;

- As crises coincidentes revelam e exploram as fragilidades das estruturas políticas, sociais, económicas e no seio das elites concorrentes;

- Os líderes concentram o poder centralizado nas mãos de poucos como uma estratégia de afrontamento, reduzindo a influência de conselhos amplos, assembleias, etc. Essa concentração de poder à custa de muitos (incluindo as elites de nível inferior que estavam acostumadas a manter algum poder consequente) aumenta a resistência daqueles que vão sendo excluídos da tomada de decisões, aumentando também as chances de erros catastróficos de julgamento dos poucos no topo do poder.

- À medida que o Estado claudica ou se divide em grupos beligerantes, as elites mais poderosas assumem o controlo dos recursos e do poder do Estado, tanto como medida defensiva quanto como meio de explorar a crise para o seu próprio benefício;

-Emergem os líderes populistas exigindo uma distribuição mais justa de recursos e de poder. Quanto mais reprimidas forem as massas, maior a desordem criada por esse renascimento de vozes há muito silenciadas;

- Face às inúmeras lealdades em jogo (local, regional, político, social, religioso e económico) cada grupoprocura cimentar de forma decisiva as lealdades, estabelecendo linhas duras de tudo ou nada por meio da retórica “ideologicamente pura” que demoniza grupos/bandos concorrentes, na verdade dividindo os indivíduos em campos opostos/radicais, que deixam pouco espaço de manobra para acordos ou negociações;

- Nessa competição febril por lealdades e seguidores confiáveis ​​ dispostos a sacrificarem-se pelo seu grupo/bando, os l í deres veem cada avanço como uma evidência de que o acordo é desnecessário, uma vez que a vitória total virá com a próxima vitória;

- Dadas as perdas graves e as consequências potencialmente devastadoras de grupos e grupúsculos concorrentes que vão ganhando terreno, os vencedores de cada batalha apressam-se a vingarem-se do grupo derrotado, devastando e infligindo crueldades que revoltam os perdedores sobreviventes e incitam a sua própria determinação quanto a exigirem medidas determinantes de vingança quando as fortunas mudarem de percurso;

- Só quando a terra, as pessoas e os rendimentos se encontram de todo exauridos é que a promessa de vitória total se desvanece e os grupos em confronto procuram acordos negociados que deixem todo o poder que ainda possuem, intacto para não deitarem tudo a perder.

Pedro Pereira

 

 

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