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Tanto barulho e nada…

05-03-2021 - Francisco Pereira

Em Portugal o legislador vomita legislação. O edifício jurídico-legal português é uma extraordinária fortaleza bem apetrechada, há de quase tudo sobre tudo e mais um par de botas no entanto por incrível que pareça, devem existir poucos lugares no Mundo, dos que têm semelhantes edifícios legislativos, onde tanto se releve o cumprimento dessa legislação, como aqui em Portugal.

Além de não cumprirem a legislação os indígenas, andam sempre a reclamar da mesma, dou-vos um exemplo que bem ilustra aquilo que vos quero dizer, no capítulo da condução automóvel é vulgar ouvir os sevandijas clamarem por “pedagogia”, isto quando há um código da estrada escrito, livros vários sobre regras e sinalização, livros com exames de código, existindo inclusive para os avessos à leitura centenas de portais da Internet com informação sobre o tema, existe ademais espalhada pelas auto-estradas, estradas, avenidas, ruas, ruelas, becos, vias e veredas, sinalização de vária ordem para além do complementar código penal, não se percebe portanto que mais “pedagogia” pretendem estas alimárias, ou são analfabetos e não conseguem ler, ou então são apenas gente estúpida.

Está um bonito Domingo de Sol, percorro as ruas aqui da cidadezita onde habito, aqui e além ouve-se um chinfrim desgraçado de obras, barulho de berbequins, de rebarbadoras, marteladas e outras cacetadas, uma cacofonia de poluição sonora que mais não é, de que mais um extraordinário exemplo do não cumprimento da legislação em vigor sobre o ruído.

Em Portugal existe uma coisa legislativa chamara «Regulamento Geral do Ruído», é daquelas leis que se fez só para dizer que não existe nada, e que no seu artigo 16º diz: “ As obras de recuperação, remodelação ou conservação realizadas no interior de edifícios destinados a habitação, comércio ou serviços que constituam fonte de ruído apenas podem ser realizadas em dias úteis, entre as 8 e as 20 horas, não se encontrando sujeitas à emissão de licença especial de ruído.” Neste Domingo, como noutros, ninguém quer saber dessa legislação para coisa nenhuma, tal é o banzé dominical, que por vezes aqui se escuta, uma pessoa que queira como é seu direito dormir até mais tarde, dificilmente o conseguirá acaso viva paredes meias ou perto de um desses fãs da “obra dominical”.

Eu sei que vivo numa cidadelha das berças, onde ainda vigoram os ancestrais usos e costumes próprios da labreguice saloia, sei que não devo esperar muito, ainda assim sendo esta terra parte integrante do território nacional, porque será que a Lei não se cumpre, nem tão pouco se faz cumprir?

E ai daquele que ouse contrariar essas tradições instituídas, nunca vi sítio como este, tão dominado pelo egoísmo egocêntrico e onde o bem-estar público seja tão desrespeitado e atirado às malvas, numa absoluta falta de respeito pelo bem estar comum, pela saúde de todos, um verdadeiro hino à incivilidade, uma elegia à boçalidade labrega e despótica, onde cada um age per si, como se fora dono e senhor de tudo, como se cada moradia ou cada apartamento fossem castelos isolados, como se as pessoas não tivessem de se respeitar, é incrível ver esta gentalha, pior é que a grande e larga maioria destes tipos acha isto tudo normal, para eles está tudo bem.

E não pense o caro leitor insurgir-se contra a tradição, porque será perseguido de imediato por ululantes matilhas de cidadãos desvairados que ladram bem alto o seu rancor contra o malvado pateta que ultraja os seus bons costumes, pondo e causa a sua curiosa cosmovisão daquilo que é viver em sociedade. Estou em crer que o tal Regulamento do Ruído, é coisa para, como muitas outras peças legislativas, só ver o seu cumprimento efectivo lá para os lados da capital do reino, porque aqui pelas berças provinciais é o que se vê.

Francisco Pereira

 

 

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