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“PRESIDENCIAS 21” – ONDAS DE CHOQUE E ILEGALIZAÇÃO DO CHEGA

05-02-2021 - Francisco Garcia dos Santos

Quem leu o meu artigo na última edição deste jornal, recordar-se-á de que referi terem sido as últimas eleições para Presidente da República uma espécie de primárias das que se lhe seguiriam, as quais, segundo o calendário, são as para as Autarquias Locais em Outubro próximo e para a Assembleia daRepública em 2023 -isto seapresente legislatura chegar ao fim, claro, o que o histórico socialista Francisco Assis admitiu ser possível que não suceda, prevendo uma eventual crise política no quarto trimestre deste ano, segundo a edição de ontem, 4 de Fevereiro, do jornal Público.

Com efeito, à excepção das candidaturas de Marcelo Rebelo de Sousa e de Ana Gomes, as restantes emanaram de partidos políticos. Mas também mencionei que o resultado da candidata socialista, representativa da ala esquerda radical do PS“desobediente” a António Costa, poderia ter repercussões no seio do seu próprio Partido e na luta pela sua sucessão, nomeadamente entre Fernando Medina, delfim do atual líder, apoiado pela ala mais centrista e moderada, ou social-democrata, e Pedro Nuno Santos, com o apoio da dita esquerda radical marxista estatista.

Dos discursos dos candidatos presidenciais e de líderes partidários, ficou-me no “ouvido” o seguinte:

Quanto aos primeiros: Marcelo não falou como vencedor, antes institucionalmente enquanto Presidente reeleito, pouco ou nada acrescentando de novo para osegundo mandato face ao que até aí vinha sendo o seu exercício do cargo; Ana Gomes “cantou vitória” por, ainda que por uma diferença de cerca de 40.000 votos, ter impedido que André Ventura tivesse ficado em segundo lugar, mas logo avisou subliminarmente António Costa de que não se iria “reformar da política”, lamentando a falta de apoio formal e efectivo daquele e do PS à sua candidatura, responsabilizando-o pela grande vitória eleitora do, segundo ela, candidato da “direita”; André Ventura, indiscutível vencedor da corrida eleitoral na perspectiva desta e anterior análise publicada no meu artigo na passada edição, muito inteligente e perspicaz que é, “guardou-se” para falar em nome próprio e do Chega antes de Marcelo, o que transmitiu uma imagem de verdadeiro segundo candidato vencedor, avisando expressamente o PSD de Rui Rio de que sem ele e seu Partido a direita e centro-direita jamais conseguiriam voltar ao poder -e tem razão!-; João Ferreira fez o discurso típico do atual PCP, aliás também inteligente, pois a percentagem de votos obtida pela sua candidatura ficou mais ou menos em linha com aquela que as sondagens atribuem ao seu Partido, e não admitindo derrota nem apregoando vitória -a contrario dos tempos de Álvaro Cunhal, que sempre que perdia transformava a derrota em vitória-, posição correcta do ponto de vista da mensagem política, eximindo-se a admitir e ou justificar a estrondosa derrota face a André Ventura nos grandes bastiões comunistasdo Ribatejo, Setúbal e margem sul do Tejo, Área Metropolitana de Lisboa e, finalmente, em todo o Alentejo, “joia da coroa” dos comunistas; Marisa Matias, a grande derrotada, cuja baixíssima votação, parafraseando uma “velha” militante do PCP, e sua delegada na secção de voto de cuja mesa fiz parte, onde num universo de 704 votantes apenas obteve uns “vergonhosos” 16 votos, “já incluiu a ajuda do Ventura com os lábios vermelhos”, teve de admitir a sua amarga e estrondosa derrota, no que foi secundada por Catarina Martins e seu BE; Tiago Mayan Gonçalves, discretamente mas de forma assertiva, incisiva e certeira, lembrou a subida “liberal” para um patamar de percentagem superior ao atribuído pelas sondagens ao CDS, enviando assim uma mensagem subliminar, mas muito clara, a Rui Rio e PSD, que é o Iniciativa Liberal poder muito bem ocupar o lugar dos “centristas” como parceiro preferencial dos social-democratas em futuras coligações eleitorais ou de governo; quanto a Vitorino Silva, Tino de Rans, pouco ou nada adiantou, apenas lembrando que tinha dado liberdade de voto aos militantes e apoiantes do seu partido RIR, forma inteligente de separar a sua baixa votação e último lugar, daquela que o mesmo poderá eventualmente obter em futuras eleições.

Quanto às declarações de líderes partidários, as únicas de relevo foram: as de André Ventura acima referidas; de Rui Rio, ainda que involuntariamente, que de forma elogiosa referiu explícita e objectivamente a “vitória” de André Ventura na Península de Setúbal, “onde o PSD nunca conseguiu ganhar uma Câmara Municipal ao PCP”, bem como“em todo o Alentejo em que também ganhou ao PCP”; por fim, Francisco Rodrigues dos Santos, Presidente do CDS, o qual, consciente de que este está em vias de extinção, resolveu “colar-se”a Marcelo Rebelo de Sousa, para assim poder reclamar para si e seu Partido umas “migalhas” da esmagadora vitória do atual Presidente da República.

As “ondas de choque” das últimas eleições presidenciais já se fizeram sentir em foça à direita e à esquerda:

Vejamos o primeiro caso.

Francisco Rodrigues dos Santos “correu para debaixo das saias” de Rui Rio com vista à celebração de coligações entre PSD e CDS nas próximas eleições autárquicas, mas excluindo liminarmente o Chega, numa desesperada tentativa de se aguentar na liderança do seu Partido e adiar a morte política do mesmo. Ora, face à curva ascendente e consolidação de eleitorado no Chega, apontando as últimas sondagens este partido da “direita nacional popular” -como é catalogado por Jaime Nogueira Pinto no prefácio que escreveu para o último livro de Riccardo Marchi, intitulado “À Direita da Revolução”, que historia a resistência ao comunismo por parte dasverdadeiras direitas durante o PREC (Processo Revolucionário em Curso) ocorrido em Portugal entre 1974 e 1975- como terceira força política portuguesa, o mesmo se passando com o IL, e a permanente descida ou estagnação de intenções de voto no CDS em cerca de 2%, quando não menos, afigura-se que o mesmo apenas lute pela sobrevivência, mas numa lógica de morte anunciada. Lembremo-nos que sempre que o CDS concorreu sozinho em eleições autárquicas e legislativas, exceptuando o feito de Assunção Cistas, ainda que concorrendo a “solo” à Câmara Municipal de Lisboa ter ficado à frente da candidata do PSD, as votações obtidas nunca foram muito relevantes, apenas conseguindo algum protagonismo e chegado à governação em aliança pré ou pós eleitoral com o PSD, uma vez que sempre foi mais um “partido de quadros” do que uma força abrangente e popularmente enraizada. Oresultado obtido por André Ventura veio demonstrar que o Chega, à direita do CDS, está a implantar-se fortemente no seio da população portuguesa do centro interior e sul de Portugal continental e ilhas, bem como nas grandes áreas urbanas e suburbanas da grande Lisboa e Península de Setúbal. Depois, consoante os analistas e comentadores políticos, o IL encontra-se à direita do PSD e ou do próprio CDS, no mínimo sobrepondo-se a este. Assim, afigura-se que o eleitorado conservador e verdadeiramente de direita que votava no CDS por não ter um partido que o representasse efectivamente, está agora a “fugir” para o Chega, onde se sente finalmente representado após 46 anos de eleições desta III República (as primeiras ocorreram em 1975 para a Assembleia Constituinte que elaborou e aprovou a Constituição da República Portuguesa de 1976 em vigor); quanto ao eleitorado de centro-direita mais liberal, que por não ser social-democrata votava no CDS, também parece abandonar este para se acoitar no IL. Ora, se se considerar que PSD, e IL ocupam o espaço político do centro-direita e direita liberal, e o Chega o da verdadeira direita, então que espaço político resta ao CDS? Parece que nenhum!

Portanto não é de estranhar o desencadeamento da contestação interna à liderança de Francisco Rodrigues dos Santos, personificada claramente pelo seu ex-Vice-Presidente Adolfo Mesquita Nunes e outros membros da direcção política que se demitiram e exigem um congresso electivo antecipado, e também de forma mais discreta pelo deputado europeu Nuno Melo, que já afirmou pensar candidatar-se à liderança do CDS em próxima reunião magna do Partido. Tudo isto já obrigou o líder centrista a convocar uma reunião do Conselho Nacional para apresentar uma moção de confiança, numa tentativa desesperada de se manter à “tona” até às próximas eleições autárquicas, certamente na esperança de, aliado ao PSD, conseguir eleger alguns vereadores, deputados municipais, membros de Junta e de Assembleias de Freguesia para “mostrar serviço” e arrastar-se até às próximas eleições legislativas em que consiga a ilusória sobrevivência do CDS numa eventual coligação pré eleitoral com o PSD, mas nunca incluindo o IL. É que se João Cotrim de Figueiredo for inteligente, o que se afigura ser, estando o seu Partido em fase de consolidação e ascensão em termos de eleitorado, jamais se coligará com o PSD antes de ir a votos sozinho para aquilatar do seu verdadeiro peso político, já que se assim não procederarrisca-se a ver o mesmo ser absorvido e ou diluir-se na ala direitista liberal dos social-democratas.

Passando ás “ondas de choque” à esquerda, a votação em Ana Gomes deu ânimo e força a Pedro Nuno Santos, atual Ministro das Infraestruturas e Habitação, para afrontar António Costa no artigo que escreveu no Público, onde verbera o facto deste último não ter lançado ou apoiado explícita e formalmente uma candidatura de esquerda contra Marcelo Rebelo de Sousa, aproveitando os cerca de 500.000 votos da sua camarada de partido e facção para se afirmar como sério candidato à sucessão daquelena liderança socialista e, eventualmente, até tentar condicionar acção do atual Primeiro Ministro e seu governo.

Entretanto, na edição de ontem, 4de Fevereiro, do jornal Diário de Notícias, foi“chamada” de primeira página a notícia de que Ana Gomes intentou, ou vai intentar, “acção”, ou mais correctamente, apresentou ou vai efectuar participação ou requerimento à Procuradoria Geral da República para que esta, junto do Tribunal Constitucional, diligencie a extinção/ilegalização do Chega.

Pasme-se!

Só é possível interpretar tal atitude de Ana Gomes devido ao seu enorme egocentrismo, necessidade de protagonismo e “demência política”. Contudo, se tal atitude corresponder ao desejo e sentimento da ala esquerda radical do PS, e nos bastidores caucionada previamente por Manuel Alegre e sobretudo por Pedro Nuno Santos, o caso muda de figura, pois será revelador do extremismo esquerdista protoditatorial para que os socialistas estão a resvalar em direcção a uma “venezuelização” de Portugal.

Tentar a ilegalização de um partido político registado junto do Tribunal Constitucional, e que em nenhuma parte dos respectivos Estatutos e documentos programáticos consta qualquer manifestação, ou a menor sugestão, de ser anti-democrático e violador da Constituição da República, e cujo Presidente André Ventura recolheu cerca de meio milhão de votos válidos dos Portugueses em eleições democráticas e livres, é no mínimo um sinal de perigo para o próprio Estado de Direto democrático e pluralista ainda vigente em Portugal.

Ou muito me engano, ou esta atitude tresloucada de Ana Gomes terá um efeito de “boomerang” relativamente ao PS, só contribuindo para o cerrar de fileiras de todos os que votaram Ventura/Chega nas últimas eleições presidenciais e aumentar o respectivo número de apoiantes, simpatizantes e votantes em eleições futuras.

André Ventura e Chega agradecem!

Francisco Garcia dos Santos

 

 

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