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ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS 2021
PRIMÁRIAS DE AUTÁRQUICAS E LEGISLATIVAS?

29-01-2021 - Francisco Garcia dos Santos

A partir do momento em que no segundo trimestre de 2020, no decurso duma visita conjunta do Presidente da República (PR) Marcelo Rebelo de Sousa e do Primeiro Ministro (PM) António Costa à “Autoeuropa”, o primeiro anunciou perante as tvs e ao lado do segundo, a recandidatura do PR a um segundo mandato,seguida de declarações públicas do Presidente do PS Carlos César, Ferro Rodrigues,João Soares, etc. de apoio a um novo mandatodo Presidente, ficou claro que o mesmo seria reeleito à 1ª volta, pois somava à própria grande popularidade pessoal, transversal a todo o espectro político e vertical em termos sócio-económicos, os apoios expressos do PSD (seu partido), do CDS e ainda dos socialistas, se bem que oficiosamente, ou seja, mediante não apoio partidário formal a qualquer candidatura e dando liberdade de voto aos seus militantes, como as demais candidaturas que surgissem teriam na sua totalidade, ou quase, o fito de marcar presença partidária na eleição para PR decorrida entre 17 e 24 deste mês de Janeiro.

Assim sendo, a eleição deixou de ter qualquer interesse em termos de quem seria o próximo PR, mas antes e tão só a curiosidade de saber com que percentagens ficariam as candidaturas já anunciadas previamente ao anúncio formal da recandidatura de Marcelo, que foi o último a anunciar ser recandidato.

Recordemos que no primeiro trimestre de 2020 André Ventura anunciou que se candidataria a PR apoiado pelo seu Partido Chega; Ana Gomes, fez-se de início “cara” ou “esquisita”, i. e., disse que não estava nos seus planos candidatar-se, depois revelou que estava a “reflectir”sobre uma eventual candidatura, e finalmente anunciou a mesma, salvo erro, na segunda metade de Agosto, tendo por apoiantes partidários expressos o PAN e o Livre; e no lapso de tempo que se seguiu até 24 de Dezembro de 2020, data limite para apresentação de candidaturas no Tribunal Constitucional, surgiram as de João Ferreira, militante do PCP e apoiada por este; de Marisa Matias militante e dirigente do Bloco de Esquerda apoiada pelo seu partido; bem como da mesma forma Tiago Mayan Gonçalves pelo Iniciativa Liberal; por fim Vitorino Silva (Tino de Rans), que não obstante ser líder do seu próprio Partido RIR, se apresentou como candidato independente, pois, segundo o próprio, deu dado liberdade de voto aos seus militantes.

Posto isto, e pondo de parte a recandidatura de Marcelo, deparámo-nos com dois tipos de candidatura: pessoais e partidárias.

No primeiro caso Ana Gomes, personagem algo egocêntrica e “mal amada” dentro do PS, como até expressa e publicamente foi revelado por José Sócrates num artigo de opinião publicado num grande jornal brasileiro em vésperas da eleição, seu ex-camarada de partido e amigo, que proporcionou à candidata estar muitos anos a enriquecer como deputada no Parlamento Europeu, onde a remuneração média mensalé de € 20.000/mês, quantia esta que na maior parte é livre de impostos, e que a mesma o defendeu em público durante algum tempo no início da vinda a público da operação Marquês, mas que logo o renegou quando tal se lhe afigurou por conveniente em termos pessoais e políticos, o que levou Sócrates a nesse escrito chamar-lhe traidora habitual de amigos, camaradas e do próprio partido de que é militante. Assim, Ana Gomes, por puro e intrínseco egocentrismo e “pirraça” a António Costa e demais dirigentes e figuras emblemáticas do PS(tirando os históricos socialistas Manuel Alegre e Francisco Assis, e ainda Pedro Nuno Santos, actual ministro das Infra-estruturas e Habitação, suposto concorrente com Fernando Medina, Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, à sucessão de Costa como Secretário-geral do PS, e Paulo Pedroso, seu mandatário nacional, que, sabe-se lá por quê, nunca deu a cara em público pela candidata), candidatou-se em nome e representação da ala esquerda mais radical dos socialista; depois Tino de Rans, qual Quim Barreiros da política, quiçá motivado por visibilidade pública e com vista a angariar eleitores para uma eventual candidatura vitoriosa à Câmara Municipal de Penafiel.

No segundo caso temosAndré Ventura, que quis “palco” mediático para fidelização e captação de novos eleitores no Chega, sucedendo o mesmo com Tiago Mayan Gonçalves para o IL, João Ferreira para o PCP e Marisa Matias para o BE, todos tendo em vista a eventual transferência dos respectivos eleitorados nestas “presidenciais” para sufrágios próximos e futuros, como as eleições para as autarquias locais de Outubro deste ano e para a Assembleia da República (AR), que não se sabe se ocorrerão em 2023, ou seja, no fim desta legislatura, ou em 2022, consoante a gestão da pandemia de Covi-19 corra mais ou menos bem e a economia dê ou não sinais de crescimento e o desemprego baixe ou continue a subir, e haja ou não mais escândalos políticos no seio do governo de Costa, o que nada admirará que venha a suceder, pois a “família socialista” é pródiga nos mesmos, como o passado recente demonstra à saciedade. Se de hoje até 2022 tudo correr mais ou menos bem a Costa e este vir o PS a subir nas sondagens até à proximidade de poder conseguir uma maioria absoluta, não me admirará que, inteligente e político experiente que é, venha a desencadear uma crise política artificial que lhe permita demitir-se de PM e consequente “queda” do Governo, obrigando o PR Marcelo a dissolver a AR e a convocar eleições antecipadas. Mas se a vida correr mal a este Governo, e o conjunto dos partidos de direita e centro direita conseguirem desviar as intenções de voto no PS e outros partidos de esquerda para o seu espaço político, e sobretudo o PSD inverter a descida em sondagens para uma dinâmica de crescimento, e o IL e Chegacontinuarem a subir nas ditas, então será possível que a propósito duma rejeição do Orçamento de Estado para 2022 ou 2023, mas também mediante uma moção de censura aprovada pelo Parlamento, o Governo se demita, a AR seja dissolvida e convocadas novas eleições, podendo assim repetir-se a nível nacional uma “geringonça” à direita semelhante à que ocorreu na sequência das últimas eleições para a Assembleia Legislativa Regional dos Açores.

Portanto, devido às crises sobrepostas sanitária da Covid e económico-social motivada pela primeira, quaisquer previsões de hoje podem não corresponder à realidade de amanhã, o que torna tudo e o seu contrário possível de suceder.

Por fim, analisemos os resultados de todas as candidaturas e abstenção nas passadas “presidenciais”.

Quanto a Marcelo Rebelo de Sousa, pouco há a dizer: a sua legitimidade presidencial foi reforçada, quer em número de votos como percentualmente, prevendo-se que não tendo de se sujeitar a novo sufrágio, seja mais crítico e exigente para com o PM Costa e seu governo, podendo obrigar aquele a demitir ministros “indesejáveis”, como Eduardo Cabrita na Administração Interna, Francisca Van Dunem na Justiça e, quiçá também, Marta Temido na Saúde, se a Covid continuar a acelerar descontroladamente e ela não conseguir soluções palpáveis e visíveis paratirar os portugueses desta catástrofe mortífera, cujo número de mortos em menos de um ano já é superior ao total de “baixas” sofridas pelas tropas portuguesas em 13 anos e 3 frentes de guerra em Angola, Guiné e Moçambique -mas podem surgir mais ministros incómodos que tenham de ser “despedidos”.De resto, o Presidente continuará a tentar até ao limite do possível que esta legislatura chegue ao fim.

Os541.345 votos obtidos por Ana Gomes, correspondentes a 13%, poderão agravar o seu egocentrismo e beneficiar a ala esquerdaradical do PS em disputas internas, mas jamais o seu eleitorado, ainda que em boa parte socialista, poderáser totalmente transferível para o seu partido, uma vez que teve origem noutros quadrantes esquerdistasvisando que André Ventura/Chega não ficasse em segundo lugar nas eleições presidenciais (voto útil), e também de mero protesto contra Costa não ter apresentado ou apoiado um candidato de esquerda contra Marcelo. Aliás, a crer na fiabilidade da sondagem “à boca das urnas” efectuada no decurso da eleição para PR pela Católica para a RTP relativamente a intenções de voto em partidos, demonstra isso mesmo: PS 35%, PAN 2%, PCP, 7%, BE 8% e Livre 1%. Conclui-se assim, de forma simplista, i. e., não espelhando completamente a realidade, que dos ditos 13%, 2% são do PAN, 2,7% do PCP (João Ferreira obteve 4,3%), 4% do BE (Marisa Matias obteve 4%), 1% do Livre e os sobrantes 3.3% poderão imputar-se, mas de forma dispersa, ao PS e outros partidos de esquerda não mencionados na sondagem, independentes e abstencionistas.

Já os votos e percentagens obtidos por: Tiago Mayan Gonçalves, 134.427 e 3,2% podem imputar-se ao IL, que na sondagem tem 7%; João Ferreira, 180.473 e 4,3% ao PCP com 6%; Marisa Matias, 164,731 e 4% ao BE com 8%. Já quanto aos 122.743 votos e 2,9% obtidos por Vitorino Silva (Tino de Rans) constituem uma incógnita, pois tanto podem representar um voto de protesto relativamente às demais candidaturas, como, ser transferíveis para o seu Partido RIR, e, segundo a respectiva dispersão e concentração a nível nacional e local, poderão eleger autarcas “tinenses” nas eleições autárquicas do próximo mês de Outubro, ou até o próprio Tino como deputado na AR em legislativas, ou ainda, pura e simplesmente dispersar-se por outros partidos e abstenção.

A abstenção foi a mais elevada em eleições presidenciais, atingindo 60,5%, a que acrescem 1,1% de votos brancos e 0,9% de nulos, o que equivale a 62,5% de eleitores que não escolheram qualquer candidato.

Propositadamente deixei para último André Ventura e os seus espectaculares 496.653 votos correspondentes a 11,9% (apenas menos 44.692 e 1,1% de Ana Gomes).

No caso de André Ventura, não é escamoteável que esmagadora maioria dos seus votos será directamente transferível para o Chega, uma vez que este partido tem vindo sempre a subir, e sustentadamente, nas sondagens, como o demonstra a sondagem que lhe atribui 9%. Resta saber se a dinâmicade vitória de Ventura/Chega se irá manter, a qual foi desencadeada com a eleição daquele para deputado à AR em 2019;reforçada pelo resultado das eleições para a Assembleia Legislativa Regional dos Açores que, recorde-se, implicou a perda do único deputado do PCP nesse parlamento regional, o afastamento do PS do respectivo Governo e viabilização do governo PSD de José Bolieiro; e optimizada pela expressiva votação nestas “presidenciais.

Por outro lado, há que considerar o feito histórico de André Ventura ter ultrapassado largamente em votos e percentagens João Ferreira e Marisa Matias em todo o Alentejo, no Ribatejo, na Área Metropolitana de Lisboa, na Península de Setúbal, tudo regiões onde o PCP sempre teve expressão significativa e, no caso ribatejano, até o BE conseguiu ter uma Câmara Municipal, a de Salvaterra de Magos. Realce-se que o Alentejo, e Península de Setúbal sempre foram regiões emblemáticas para o PCP e seus grandes bastiões, mas o Alentejo sempre foi a “joia da coroa” comunista.

Ora, face ao resultado de André Ventura e de João Ferreira naquela região de Portugal,hoje poderá dizer-se com algum sarcasmo e ironia:

O Alentejo já não é “vermelho”!

Francisco Garcia dos Santos

 

 

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