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A SINISTRA LOJA MAÇÓNICA PROPAGANDA DUE (P2)

27-11-2020 - Pedro Pereira

A P2 foi uma Loja maçónica, na obediência do Grande Oriente de Itália, com ligações a outras obediências maçónicas internacionais, que existiam na legalidade, e em países onde viviam na clandestinidade, dado terem sido ilegalizadas pelos respectivos regimes.

Tratou-se de uma loja “negra” ou “encoberta”, que funcionou ilegalmente, de 1976 a 1981, uma vez que o artigo 18º da Constituição de Itália proíbe associações secretas.

Durante os anos em que a loja foi liderada por Licio Geli (que foi uma das figuras mais sinistras da história recente de Itália)a P2 esteve implicada em inúmeros crimes e mistérios em Itália, incluindo o colapso do banco do Vaticano, ligado umbilicalmente ao Banco Ambrosiano, aos assassinatos do jornalista Mino Picorelli e do banqueiro Roberto Calvi, bem assim como os casos de corrupção em Itália associados ao escândalo Tangentopoli, incluindo a falência do Banco do Vaticano (filiado no Banco Ambrosiano).

A loja foi descoberta durante uma investigação dos promotores de Milão em torno de um suposto sequestro de um advogado e de um empresário siciliano  Michele Sindona, (cartão número 1.612 da P2), banqueiro e criminoso italiano,  membro da loja P2 com claras associações com a Cosa Nostra e com a Família Gambino nos Estados Unidos.  

Numa lista encontrada na possede Licio Gelliem 1981, onde constavam 962 nomes (incluindo Gelli), o 1º ministro italiano, Giovanni Spadolini, mandou ilegalizar a Loja P2 após ter sido tornada pública a referida lista.Em seguida, a Comissão Parlamentar de Investigações concluiu o caso P2, denunciando a loja como uma verdadeira  “organização criminosa” e “perturbadora”. Foi dissolvida por uma lei específica, a Nº 17, de 25 de janeiro de 1982.  

Pensa-se que a esta loja tenham pertencido várias centenas mais de membros para além dos encontrados na lista, que são mantidos até hoje em segredo, uma vez que os números de adesão começam com o número 1.600, o que indicia que a lista completa ainda não foi encontrada. Esta, inclui todos os chefes dos serviços secretos italianos, para além de oficiais das forças armadas, generais, almirantes, dezenas de membros do parlamento, os principais magistrados, ministros, jornalistas, directores de jornais, banqueiros, empresários, e por aí fora, para além de criaturas afins com responsabilidades políticas e económicas em outros países.

O célebre “capo” da temida loja maçónica P2 era um anticomunista convicto, tendo visto o seu nome envolvido em vários escândalos políticos e financeiros que abalaram a Itália nos anos de 1980 e 1990. Amigo dos argentinos Juan Domingo Perón e José López Rega, esteve estreitamente ligado à ditadura militar argentina (1976-1983), país do qual chegou a obter cidadania e o representou como diplomata em Itália.

O poderoso líder da loja maçónica P2i, iniciado na maçonaria nos anos 60. Faleceu aos 96 anos(2015).

Grão-Mestre e venerável mestre da P2, teceu ao longo dos anos uma rede de influências nas mais diversas áreas da sociedade italiana e internacional, destacando-se as suas actividades dentro da estrutura paramilitar secreta anticomunista, a Gládio.

No que reporta a esta estrutura secreta, recordamos que esta, em Portugal, tinha por fachada uma agência de informações instalada em Lisboa, no Bairro da Lapa, Rua das Praças nº 13, andar… Foi uma organização clandestina do tipo stay-behind, com a bênção da NATO, criada pela CIA e o MI6, em plena Guerra Fria para combater o comunismo e todas as suas organizações e/ou indivíduos afectos a esta ideologia, com a finalidade de proteger a Europa Ocidental duma eventual invasão soviética, usando para tal efeito de forças secretas paramilitares de elite. Portugal foi um dos países da Europa que aderiram à operação Gládio, contando todos eles com o apoio do Vaticano. Esta organização foi por nós tratada em artigo publicado em O Notícias de Almeirim, de 13 do corrente mês de Novembro.

E como sempre acontece nas estórias deste tipo de organizações, a Gládio não desapareceu, antes pelo contrário. Quando se tornam públicas, são oficialmente dissolvidas para renascerem de seguida com outro nome.

Em 1999,diversos indícios conduziram à suspeita da criação na Suíça de uma estrutura clandestina paramilitar, alegadamente para substituir a P26 e P27 (as partes suíças da Gladio). Chegados a 2005, a imprensa italiana revelou a existência do Departamento de Estudos Estratégicos de Antiterrorismo (DSSA), acusado de ser "outra Gládio".

Quanto a Roberto Calvi, este foi estrangulado num terreno baldio perto da ponte Frades Negros em Londres e após isso pendurado na ponte para simular um suicídio, com as roupas carregadas de tijolos, sendo portador de 15.000 dólares em três moedas diferentes.

A loja maçónica P2, entre os anos de 1965 e 1981, tentou condicionar o processo político italiano através da penetração de indivíduos da sua confiança no poder judicial, no Parlamento, no Exército, na imprensa e no Vaticano.

Esta estrutura maçónica era normalmente referida como “Um Estado dentro do Estado”, assim como que um “governo sombra”.

Sílvio Berlusconi, que mais tarde veio a tornar-se primeiro-ministro de Itália, o pretende da Casa de Sabóia ao trono, Victor Emmanuel, e os chefes dos três serviços secretos italianos nesse tempo (entre muitos outros) eram maçons na loja secreta P2.

Em 1979, o jornalista Mino Pecorelli tornou público 121 nomes de maçons filiados na P2, ligados ao Vaticano, de entre os quais o arcebispo Marcinkus, Donato de Bonis, o secretário de Estado Jean Villot, o ministro das relações exteriores Agostinho Casaroli e o cardeal Ugo Poletti, entre muitos outros.

Na sequência desta revelação, o jornalista foi assassinado, e o Senador vitalício, Giulio Andreotti acabou condenado em 2002 pela morte deste periodista.

No decorrer dos anos que se seguiram, dados acontecimentos ligados à P2, acabaram por se revelarem naturalmente interligados. O jornalista David Yallop, defendeu no seu livro, em Nome de Deus, que Calvi logisticamente apoiado pela P2, foi responsável pela morte de Albino Luciani, o Papa João Paulo I, uma vez que este planeava empreender uma reforma nas finanças do Vaticano e afastar sacerdotes ligados à Maçonaria.

Outro autor, Lucian Gregoire defendeu a mesma tese no seu livro, Assassinato no Vaticano. A evidência estaria na morte do patriarca ortodoxo russo Nikodim que morreu com um ataque cardíaco fulminante, após beber uma chávena de café durante uma audiência com João Paulo I. Esta cena ocorreu em 5 de Setembro de 1978. Segundo este autor, a chávena de café envenenada era para o Papa, porém, acabou servida à pessoa errada. No dia 28 desse mês, João Paulo I acabou por falecer em circunstâncias obscuras. Não houve prova química de envenenamento, dado que não se realizou autópsia ao cadáver.

Quanto ao Banco do Vaticano, este era usado para fugir aos impostos de gente importante da sociedade italiana e não só, incluindo lavagem de dinheiro das organizações mafiosas.

Acontece que caso as autoridades italianas suspeitem de movimentações financeiras ilegais em organizações pertencentes ao Vaticano, as mesmas encontram-se protegidas pelo Tratado de Latrão, uma vez que o Vaticano é outro Estado. Por tal sorte, os bispos católicos dados à mala vita, lucravam com as movimentações financeiras, sobretudo as de lavagem de dinheiro, uma vez (obviamente) que não era sua intenção responderem ao poder judicial italiano.

Quando os escândalos se tornaram frequentes, apertados pelas autoridades italianas e pela opinião pública, apenas passaram a responder em caso de gente de fora da Igreja.

A máfia, os políticos italianos (e de outros países) empresários e maçons da loja secreta P2, usavam na sua maior parte o Banco do Vaticano, contando com o sigilo dos sacerdotes e a imunidade diplomática de vários deles.

Quanto aos crimes envolvendo o Vaticano nos anos 80, cometidos através do Banco Ambrosiano, merece destaque uma figura sinistra de nome Paulius Casimir Marcinkus (1922-2006), arcebispo, presidente do Banco do Vaticano entre 1971 e 1989, tendo ficado conhecido como “o banqueiro de Deus”.

Em 26 de Setembro de 1981, foi nomeado pro-presidente da Cidade do Vaticano, tornando-se assim, a terceira pessoa mais poderosa desse Estado, depois do Papa e do seu secretário de Estado.

Esta criatura protagonizou o maior escândalo financeiro da história do Vaticano, quando da queda do Banco Ambrosiano de Milão, que teve lugar em Agosto de 1982, data em que esta entidade bancária foi declarada insolvente pelo governo italiano, após ter sido descoberto um “rombo” de 1,5 bilião de dólares. Nessa data, o Vaticano possuía 16% do capital do Ambrosiano.

Na sequência das investigações da falência do banco, veio à tona de água entre outras operações nebulosas, pagamentos obscuros efectuados à loja P-2, e o desvio de fundos para uso particular.

Foram então formalmente acusados Marcinkus e dois administradores do IOR (Instituto de Obras da Igreja), Luigi Mennini e Pellegrino Strobel.

Nessa altura, o Vaticano deu asilo ao arcebispo Marcinkus e aos seus dois colaboradores, de forma a impedir a sua prisão.

Em virtude do artigo 11º do Tratado de Latrão, que prevê que “as organizações e entidades centrais da Igreja Católica estão isentas de qualquer ingerência por parte do Estado italiano”, o Tribunal Supremo de Itália viu-se na impossibilidade de processar o arcebispo e os seus adjuntos.

Não obstante, duas outras pessoas envolvidas nos crimes financeiros com Marcinkus, pagaram caro os seus crimes: Roberto Calvi e Michele Sidona. Este último, banqueiro italiano, que havia sido nomeado pelo Papa Paulo VI como assessor financeiro do Vaticano e membro do Conselho de Administração do respectivo Banco,

foi julgado e condenado pelos seus crimes. Era conhecido nos círculos bancários como o “Tubarão”. Maçon da Loja Maçónica P2, tinha relações estreitas com a máfia siciliana.

Um levantamento efectuado pelo juíz Ferdinando Imposimato, mostrou que Michele Sidona actuava desde 1957 como banqueiro para a máfia siciliana, a Cosa Nostra, e servia o Vaticano. Esteve também envolvido no assassinato do advogado Giorgio Ambrosoli em 1979, sendo condenado em 1986 a prisão perpétua como mandante do assassinato.

Ele, juntamente com Roberto Calvi e o Arcepispo Paul Marcinkus serviram-se da imunidade diplomática para utilizarem oBanco do Vaticano de forma a esconder o dinheiro da Máfia, da Loja Maçónica P2, de influentes políticos italianos e de outros países.

Encarcerado na prisão de alta segurança de Voghera, Sindona prometeu fazer revelações, porém, antes que isso acontecesse, morreu misteriosamente envenenado na sua cela após beber café contendo cianeto.

A Loja P2 continua viva e de saúde

O empresário Flavio Carboni, com 78 anos foi detido em 2009 em Itália por ordem de um Juiz de Roma que investigava um escândalo de corrupção na construção de parques eólicos na ilha da Sardenha. A detenção abrangeu dirigentes do PDL, o partido de Silvio Berlusconi, quanto a uma conspiração secreta para influenciar o voto do Tribunal Constitucional sobre a lei de impunidade de altos cargos que o governo apresentou nesse ano e que foi declarada inconstitucional.

Carboni, conhecido como «il faccendiere dei misteri» (fazedor de mistérios), tinha sido acusado em 1998 pelo assassinato de Roberto Calvi em 1982. Absolvido desse crime, esteve preso 8 anos pela sua participação no colapso do Banco Ambrosiano.

Junto com Carboni foram detidos um ex-dirigente democrata-cristão, Pasqual Lombardi e o empresário napolitano Arcangelo Martino, acusados de «formarem uma associação secreta destinada a realizar uma série indeterminada de delitos, influir em decisões políticas, controlar processos judiciais, decidir quanto à nomeação dos membros dos órgãos do Estado de relevo, condicionando o seu funcionamento». Eis a P2 de novo em ação.

Recuperamos as declarações do Grão-Mestre da Ordem Oriental Maçónica, Licio Gelli, em 2003 ao diário La Repubblica: «Em cada manhã falo com a minha consciência e em diálogo me acalmo. Vejo o país, leio os periódicos e penso: Tudo se está a realizar pouco a pouco. Para ser sincero eu deveria deter os direitos. Justiça, TV, ordem pública. Escrevi sobre isto há trinta anos… Berlusconi é um homem extraordinário, um homem de ação. É isto que a Itália necessita, não um homem de palavras, mas sim, um homem de ação».

Declaração suspeitas de um homem que teve na sua Loja (a P2), Silvio Berlusconi, «Il Cavaliere», antes de este entrar na política e ser 1º ministro desse país.

Pedro Pereira

 

 

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