Biocídio
no oráculo da ciência
o fantasma antigo
da hecatombe espiritual
e da decadência
continua vivo
e a neutralidade moral
do seu regime operativo
é o pecado mortal
dos crimes da razão
do direito positivo
e da norma universal
a temperatura sobe
e o sangue ferve
nas cavernas do pulmão
a máquina sopra gás
para dentro da agonia
e recursivamente
à medida profilática
da bioentropia
processa informação
sobre a gramática
do fim da criação
a praga do sistema
é o medo instrumental
e o derradeiro teorema
da existência
sem amor
a conjetura paradoxal
da imortalidade
da consciência
dentro do computador
cujo dano colateral
apaga a eternidade
no umbigo do mundo
aberto ao turbilhão
genómico profundo
a velha arca de noé
afunda em chamas
carregada de sarilhos
autómatos e programas
clones proféticos
da singularidade
que nunca terão filhos
nem liberdade
Fernando Pacheco
Alvor 2020
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