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ELEIÇÕES NOS AÇORES CHEGA, o furacão!

06-11-2020 - Francisco Garcia dos Santos

Poderá afigurar-se ultrapassado no tempo o título destas linhas e conteúdo das mesmas, porém o aparente “atraso” não é real, mas antes propositado, uma vez que aguardei para ver o efeito regional e nacional das eleições para a Assembleia Legislativa Regional dos Açores ocorridas nodia 25 do passado mês de Outubro, com as quais se iniciou o ciclo eleitoral que decorrerá entre aquela data e, ao que consta, Outubro de 2021 com as eleições autárquicas, tendo pelo meio, e já em Janeiro próximo, as destinadas à (re)eleição do Presidente da República.

Depois de idênticas eleições ocorridas em 22 de Setembro de 2019 na Região Autónoma da Madeira, e face aos resultados destas, sobretudo quanto aos novos e ditos pequenos partidos, com excepção do PCP e BE, as deste ano na Região Autónoma dos Açores tinham por curiosidade saber as performences destes e se o PS lograria alcançar nova maioria absoluta, ou, se se quiser, se o PSD apenas conseguiria retirar tal maioria ao PS, já que as probabilidades dos social-democratas vencerem os socialistas não eram significativas.

Na Madeira, o PSD liderado por Miguel Albuquerque, tinha perdido a maioria absoluta, obtendo 39,42% e 21 deputados, ou seja, não conseguiu maioria absoluta, mas assegurou-a mediante apoio ao seu governo por parte do CDS, 3ª força política regional, que conseguiu 5,6% e 3 deputados. O PS logrou 35,76% e19 deputados; o JPP-Juntos pelo Povo, 5,5% e 3 deputados; finalmente o PCP-CDU com 1,80% e 1 deputado. Já quanto ao BE e PAN, ficaram acima dos 2.000 votos e perto do PCP, e os restantes, sem projecção nacional, tiveram votações abaixo dos 2.000 votos. O Chega e o Iniciativa Liberal não concorreram. A abstenção foi de 44,49%.

Voltando ao Açores, o PS liderado por Vasco Cordeiro, não obstante ter vencido as últimas eleições com 39,13% e eleito 25 deputados, perdeu a maioria absoluta; o PSD subiu para 33,74% e 21 deputados; o CDS sozinho obteve 5,51% e 4 deputados, mas em coligação com o PPM conseguiu eleger 1 deputado deste último partido, e o mesmo PPM sozinho obteve 2,34% e 1 deputado; o Chega 5,06% e 2 deputados, sendo um deles, e cabeça de lista por São Miguel, o ex-deputado social-democrata Carlos Furtado; o BE 3,81% e outros 2 deputados; o PAN e o IL obtiveram resultados iguais, i. e. 1,93% e 1 deputado cada; o PCP-CDU, com 1,68%, não logrou a reeleição do deputado único que até então tinha.

Assim, a priori, nestas eleições existem dois grandes derrotados:

- o PS, que perdeu a maioria absoluta, e não pôde contar com uma “geringonça” à esquerda, pois os 2 deputados do BE não o permitiram, e mesmo que eventualmente se pudesse inserir nessa área política o único deputado do PAN, a dita continuava a ser insuficiente para o manter no Governo;

- o PCP, que perdeu o seu único deputado e assim fica sem representação parlamentar regional.

De igual modo existem dois grandes vencedores:

- o PSD de José Bolieiro, que conseguiu atingir o seu desígnio de retirar a maioria absoluta ao PS, e que já está a fazer uma “golpada à Costa”, como sucedeu na sequência das eleições legislativas nacionais de 2015, em que o vencedor PSD de Pedro Passos Coelho se viu obrigado a ceder o Governo ao PS de Costa,tentando uma “geringonça” à direita mediante o somatório dos seus 21 deputados com os 4 do CDS, os 2 do PPM sozinho e em coligação com os centristas, 1 do IL e outro do PAN, o que perfará o total de 29 deputados para ter apoio maioritário absoluto a um possível governo, seja isto mediante acordos formais com todos esses partidos, ou tão só com o CDS e PPM, mas neste último caso tendo de assegurando pelo menos uma posição neutral do IL e do PAN;

- o Chega, que elegeu 2 deputados e se afirmou como 4ª força política no Arquipélago, cujo líder nacional André Ventura afirmou peremptoriamente, e em termos estratégicos muito bem, que seria oposição e que não alinharia em qualquer “geringonça” ou solução governativa, invocando subliminarmente para tal os mesmos argumentos políticos de Rui Rio para votar contra o Orçamento do Estado para 2021, como quem diz, “se estão sempre a dizer mal de mim e do meu partido, então agora que precisam de mim não me venham pedir apoio” -para além de mostrar coerência com o que tem vindo a dizer face ao nepotismo, corrupção e defesa de interesses pessoais e de grupo por parte dos partidos tradicionais com assento na Assembleia da República, em vez de prestarem um serviço público e promoverem o interesse do Povo e da Nação portuguesa; também assumiu uma postura inteligente face à dita “geringonça açoriana”, fazendo exigências duras para casuisticamente viabilizar a governabilidade, dentre as quais ressalta a realização de uma auditoria independente à gestão socialista do Arquipélago ao longo dos seus mais de 20 anos consecutivos no poder -algo que se me afigura difícil de ver satisfeita.

Por fim existem “meros” vencedores, e cada um à sua medida:

- o CDS com os seus 3 deputados próprios mais 1 do PPM eleito em coligação na Ilha do Corvo;

- e neste contexto, também o PPM com 1 deputado próprio e o tal outro eleito em coligação com o CDS no Corvo; e IL e PAN com 1 deputado cada.

A abstenção cifrou-se em 54,5%, mas que em boa parte se deve a muitos recenseados no Arquipélago nele não residirem efectivamente no mesmo e a ele não se deslocarem para votar.

Assim, a contrário os únicos verdadeiros perdedores destas eleições são o PS e o PCP.

Que ilações tirar destes resultados em termos de extrapolação para a política nacional e, tanto quanto possível, em termos de projecções/sondagens de intenções de voto nossufrágios que ocorrerão em 2021 e também em eventuais para a Assembleia da República?

Política nacional

O excelente resultado de Ventura-Chega nos Açores veio confirmar nas urnas a credibilidade de todas as sondagens que têm vindo a ser efectuadas após as eleições legislativas de 6 de Outubro de 2019, as quais vêm revelando uma permanente e sustentada subida de popularidade de André Ventura e do Chega enquanto chalengers de Catarina Martins e do Bloco de Esquerda, e relativamente àquele partido assumidamente de direita radical e popular “anti-sistema” disputar “taco-a-taco” a posição de 3ª força política portuguesa ao seu homólogo radical de “esquerda caviar” elitista e prosélito.

Tal como li recentemente numa publicação algures no Facebook, que aliás se me afigura muito avisada por bem possível, o Bloco de Esquerda tem vindo a demarcar-se do Governo PS e a pedir o “divórcio do casamento poligâmico” denominado de geringonça, tendo culminado com a rotura total ao votar contra o Orçamento do Estado para 2021 - tudoisto visando “entalar” o PCP e seu órgão oficioso Partido Ecologista Os Verdes, que se viram obrigados a viabilizar o dito Orçamento, podendo assim, roubar-lhes votos de que tanto necessita para tentar não ser suplantado pelo Chega.

De igual modo, o PSD de Rui Rio, que até poderia alegar o “superior interesse nacional” para em ultima ratio se abster na votação do Orçamento em causa, viabilizando-o, mas não o fez no intuitode segurar boa parte do seu eleitorado mais à direita, já que este, como se tem visto pelas sondagens, não transita para o CDS de Francisco Rodrigues dos Santos, aliás seu aliado natural, que se encontra em total definhamento, mas sim para o Iniciativa Liberal de Cotrim de Figueiredo e directamente para o Chega de Ventura.

Por fim, o CDS, devido a total desorientação político-ideológica e estratégica, tem vindo a perder sistematicamente intenções de voto nas sucessivas sondagens, situando-se constantemente em cerca de 2%, quando não, em algumas delas, ficar abaixo dessa percentagem, chegando a mínimos se 1,5% ou menos. Ora se o partido “centrista” assim se mantiver,apenas poderá almejar a eleição de 1 a 3 deputados em próximas eleições legislativas, correndo o risco de, como há meses escreveu Riccardo Marchi num artigo de jornal, “ser riscado do mapa político português” - sendo certo que a maior parte dos seus eleitores tem vindo a debandar para o Chega, por finalmente terem encontrado um partido assumido verdadeiramente de direita e representativo do espectro político com que sempre se identificaram.

Intenções de voto

Nas próximas eleições presidenciais André Ventura disputa, e com forte probabilidade de êxito, o segundo lugar a uma Ana Gomes egocêntrica, errática, por vezes histérica e disparatada, que não contará com o apoio das 3 principais figuras do PS (António Costa, Ferro Rodrigues e Carlos César, que já declararam publicamente o seu apoio a uma recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa) e da grande maioria do próprio partido e respectivo eleitorado.

Quanto às eleições para as autarquias locais de Outubro de 2021, os resultados são menos previsíveis, pois estas têm características próprias, contando mais o conhecimento e simpatia pessoal do eleitorado pelos candidatos, e até um certo “caciquismo”, do que a respectiva filiação partidária. Mas ainda assim, nas áreas metropolitanas e demais grandes meios urbanos, onde se passa o inverso, não causará estranheza que que o Chega venha a obter bons resultados, inclusive elegendo vereadores, vários deputados municipais e candidatos a juntas de freguesia, “roubando” lugares ao CDS e ao próprio PCP. É que o partido de André Ventura tem forte implantação nas freguesias e subúrbios das grandes cidades onde residem, para utilizar linguagem comunista, as “classes trabalhadoras”, assim como a classe média-baixa e onde a dita “pequena criminalidade”, que de dia para dia aumenta e lhes causa grande sentimento de insegurança, já que é no seu seio que se encontram os ditos “bairros problemáticos”, verdadeiros alfobres de criminosos, sobretudo adolescentes, jovens e jovens adultos, os quais espalham o terror quase impunemente devido à proverbial desautorização das forças de segurança, mormente GNR e PSP, pelos poderes político e judicial.

Portanto, também em termos eleitorais autárquicos, ninguém se admire de o Chega vir a conhecer um bom resultado, que até poderá ultrapassar o PCP-CDU e o BE.

Francisco Garcia dos Santos

 

 

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