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QUE RAIO DE FILHOS É QUE TEMOS

16-10-2020 - Henrique Pratas

Escrevo-vos este texto depois de ter visto num programa de televisão a quantidade de pessoas com uma idade mais avançada que ficam nos Hospitais ou em Lares voltados ao abandono dos filhos que criaram e em muitos dos casos fizeram sacrifícios para que aqueles pudessem ter uma melhor vida.

Estas imagens trouxeram-me à memória alguns dos textos que encontrámos nos nossos livros do Ensino Básico e estou certo que muitos de vós também se vão recordar.

Citarei apenas um que ilustra muito bem o que vos quero transmitir e não o irei fazer por inteiro, mas um deles como vos escrevia, contava a história do que é que um filho fazia aos pais quando estes já não lhe davam interesse. A história era descrita como o filho que pegava no pai com uma cajado na mão e com uma mão noutra e caminhavam até um sítio ermo num monte, com a intenção do filho o deixar lá par acabar o resto dos seus dias e não incomodar. A história em síntese era assim e eu recordo-me de que quando lia aqueles textos ficava muito incomodado com o seu fim e com o seu conteúdo, achava-a desumana.

Depois de ter visto a reportagem televisiva, não queria acreditar mas existem um número assinalável de pais que são pura e simplesmente abandonados pelos filhos, tanto em Hospitais como em Lares e eu questiono-me como é que isto é possível depois de ter ocorrido um revolução em Portugal, esta é mais uma das vertentes que não mudou rigorosamente no nosso País e os culpados somos nós pais que fazemos e damos tudo aos filhos sem ter como recompensa nada, fazemo-lo porque somos assim e não queremos para eles o que nos aconteceu a nós, mas a maior parte deles não entende nada disto e nós enquanto pais só servimos para os embalar quando são pequenos e quando já são maiores para lhes dar dinheiro.

E aqui coloca-se a questão vale a pena ter filhos? Enquanto sistema reprodutor e repositor da população de um País sim e quanto ao resto, afetos, carinhos, relações e cumplicidades, não porque a maior parte dos nossos filhos apenas se preocupam com eles e deixam de querer saber dos pais, a não ser quando o "guito" escasseie ou aconteça uma desgraça tamanha que vêm bater à porta dos pais.

Só nestas alturas é que a maior parte dos filhos se lembram dos pais, conheço situações em que filhos só vão a casa dos pais na altura em que recebem a reforma para lhes “sacar” a maior parte da mesma e os pais deixam, o que é que podem fazer entre isso e nunca mais os verem alguns optam por ficar com uma parte reduzida da reforma, apar alimentar este egoísmo.

Dou-lhes um exemplo entre muitos, conheço uma situação na aldeia dos meus avós, Arripiado, onde estas situações são mais fáceis de detetar. O pai ficou viúvo há pouco tempo têm uma filha que vive no Entroncamento, a reforma do pai não chega aos 600,00 € e todos os dias dos meses em que recebe a pensão tem a visita da filha garantida. Ela deixa-lhe apenas a quantia de 100,00 € para que o pai se governe o mês inteiro, pagando todos os encargos que tem que enfrentar mensalmente apenas com esta quantia, para que ela possa viver à larga, mais posso-vos contar que o pai decidiu vender um pequeno trator de varais que possuía e que lhe deram 1.200,00 € e o dinheiro nunca chegou ao Arripiado, ficou parado no Entroncamento.

Eu não gosto de fazer juízos de valor sobre a vida dos outros, enquanto isto não me toque enquanto cidadão deste País, mas face à reportagem, que provavelmente mostrou poucas situações acho que este tipo de comportamento inqualificável.

Eu sempre tive para ir visitar os meus avós e sempre tomei conta deles quando foi necessário a troco de nada a mesma coisa aconteceu com os meus pais nunca lhes exigi nada e tratei-os o melhor que pude e sabia, nunca lhes exigi nada e agora esta nova geração acha que pode exigir tudo aos pais e em “troca” não lhes dá nada a não ser coices como se diz aí pelo nosso Ribatejo.

Algo vai mal neste processo todo, eu não conto com os meus filhos para nada, mas também se me baterem à porta, esta fechou-se e com muita dificuldade se abrirá, o que eu tenho a fazer em conjunto com a minha mulher é aprender a cuidar um do outro e arranjar forma do que possuímos seja utilizado em nosso proveito e deixar as ruas para passearem as nossos filhos a quem tudo demos.

Escrivo-vos este texto impulsionado pela reportagem que passou na televisão sobre os pais que são deixados ao abandono nos Hospitais, nos Lares ou em outros “depósitos” criados para o efeito e atrevi-me a inquieta-los e pensarem nas vossas vidas e na forma que as irão gerir, pensem sempre que na maior parte dos casos vão ter que se virar sozinhos não contem com ninguém para nada ou se alguém se predispuser a ajudá-los será sempre a troco de qualquer coisa, ou porque não têm tempo ou por outra ordem de razão, mas a primeira prevalece a falta de tempo é uma coisa terrível e que ajuda a desculpar muita coisa quando não se quer fazer nada.

Eu estou obviamente a generalizar, exceções à regra existem sempre e ainda bem, mas não serão muitas.

Henrique Pratas

 

 

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