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DE MURO EM MURO ÀS QUATRO PAREDES, RUMO À SERVIDÃO

11-09-2020 - Jorge Duarte

O meu lugar é o mundo, diria qualquer romântico já confinado à “terra dos pés-juntos”. Mas cedo o humano se deparou com a impossibilidade de o seu lugar ser “o mundo” mas, tão-só, uma pequena parcela deste. Desde logo, as barreiras geográficas, as feras, os perigos. E, mais tarde, os outros.

A fortificação das comunidades, as conquistas e as defesas, o luxo e a posse, enchem a história de separação, desde o início. Os muros ou muralhas da Babilónia, de Troia, da China, de Adriano ou de Constantinopla não são mais do que famosos registos de um tempo distante mas que se repete. Por isso, a queda do mais recente Muro de Berlim não foi o Fim da História como profetizara Francis Fukuyama, em 1992, mas a inexorável continuidade repetitiva.

Hoje o mundo enche-se de muros físicos visíveis e inultrapassáveis, em todos os continentes; em quantidade, extensão, e diversidade: barreiras, trincheiras, fortalezas, vedações, campos minados, vigilância, restrições da liberdade, controlo, encerramento de fronteiras, e por aí adiante. Há, porém, uma segunda estirpe de muros não menos separatista: os muros mentais. Dentro destes, os muros ideológicos, os culturais, os confessionais, os sexistas, os raciais e muitos outros. Mais poderosos que os primeiros - porque os levam a estes -, povoam cada cabeça, cada grupo, cada identidade, cada território. Os mesmos muros que dividem e impedem uns de falar e outros de ouvir, uns de ver e outros de permanecerem cegos, uns de conhecer e outros de ignorar, uns de entrar e outros de sair. Todos bárbaros em igual reciprocidade. Nada diferente das medievais trevas.

A actual pandemia, a milionésima que o mundo já conheceu, como as milhentas que lhe hão-de suceder, enquanto existir processo de vida no mundo - só é maior porque tomada politicamente e ampliada pela máquina comunicacional, em escala verbal do medo, posta ao serviço.

O medo isola e paralisa como o faz o esperto predador selvagem ao isolar a presa do grupo, fragilizá-la e capturá-la com maior eficácia e menor dispêndio de força. - Ah, mas o vírus é desconhecido! Desconhecidos sempre foram todos os vírus, até que sejam estudados e compreendidos, todas as bactérias e até os recônditos da perversidade humana. E o mundo nunca parou. Fomos a única civilização – a do suposto conhecimento, a da informação, a da razão, a da “supremacia do homem sobre a natureza” - que viu o mundo parar, em milénios... depois da quarentena de Adão, no Dilúvio. E, de muro em muro, confinados às quatro paredes, a caminho da servidão.

E o que disse o predador, afadigado em soluções ora absurdas ora contraditórias? “ Vão morrer muitos milhões”; é preciso confinar, confinar. Repetido à exaustão pela comunicação social inútil, comprometida e dependente de benesses governamentais, e onde se silenciaram todas as vozes questionadoras, todas as experiências científicas fora do mainstream, todas as outras doenças, consultas, cirurgias, dramas, urgências e a própria economia, enquanto oportunisticamente o predador se banqueteava na fraude das sobrefacturações, das aquisições incógnitas, da construção de hospitais de campanha desertos, fora do controlo e prestação de contas, como manda tão “providencialmente”o Estado de Emergência. Uma engenharia social global, aplicada à humanidade, ao vivo e a cores que consegue acabar com a saúde mental das crianças, dos jovens, dos adultos, dos velhos, mantendo o povo encabrestado e em silêncio. Mas silêncio de ofendidos.

Obtidos parte dos “resultados”, no rescaldo e em complemento, volta o mundo a alarmar-se com uma onda coordenada de destruição nunca vista, de cidades inteiras, na América, e rapidamente espalhada pelo mundo, por movimentos ditos antifascistas e antirracistas, de extrema-esquerda, na sequência do “oportuno” caso Floyd, onde tudo termina em caos. De espaços comerciais a estátuas ou símbolos históricos, a ordem era/é para questionar, confrontar, incendiar, destruir.

Os heróis cultuados hoje são os destruidores deletérios, os que incitam ao ódio, os que conduzem as multidões ignorantes nas ruas para a destruição iconoclasta de símbolos do património público, de história, de costumes, de crenças. Patrocinados por progressistas e organizações extremistas de esquerda, associações eufemisticamente apresentadas de antirracistas ou ONGs que, na maioria dos casos, são organizações que incubam portentosos centros de negócios, tomadas de abissal corrupção. Contudo, arvorados em tribunais da verdade.

Na polarização demente que se espalha, o que se constata é a absoluta impossibilidade de um debate informado, consequente, sobre qualquer tema de política identitária, de autoridade, de ordem; chegou-se longe de mais. E neste processo progressivo de julgamento, confronto, ruptura e inversão de valores, diversos poderes se emparelharam, chancelados pelo judiciário. Sem este, que tem dado a plena legitimidade a tal inversão, nada disto teria sido possível e eficiente. Tudo está plasmado, normalizado, relativizado. Campo aberto à barbárie. Legalizada.

Nesta luta de raças (divisionista e substituta da de classes, como muitas outras), desgraçadamente, não caminhamos para a igualdade de direitos e deveres, para a mútua aceitação, para o fraternal convívio; caminhamos, antes, para o fosso da mais profunda diferenciação negativa. Resta apenas saber que preço estamos dispostos a pagar: a tolerância da intolerância ou o fechamento definitivo.

Quanto a nós, portugueses, ainda que tiranicamente fustigados e em estado de permanente coma e ansiedade de quem nos salve, somos, apesar de tudo e na esmagadora maioria, ordeiros, pacíficos e indistintos de raças ou credos, cujo modo de progredir é através do trabalho e dos valores e não de uma revolução social que um abundante parasitismo militante, com ódio à civilização, pretende desenterrar dos escombros indiscritíveis de má memória as piores tiranias e aplicá-las.

Os próximos tempos configuram-se, pois, de uma “seriedade” sem precedentes. Porque: «Uma civilização só existe se reagir de forma adequada àquilo que lhe ameaça a vida. Enquanto ripostar e aniquilar aquilo que quer a sua morte, ela vive; quando deixa de ter meios para responder, morre.» Michel Onfray.

Jorge Duarte

 

 

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